A Segunda Guerra Mundial teve pelo menos um efeito benéfico para o Brasil: tornou o nosso país terra adotiva de grandes intelectuais europeus, que fugiram do totalitarismo nazista, como Otto Maria Carpeaux e Paulo Rónai. O francês Édouard Bailby veio depois, já em 1949, não numa onda de emigração para os trópicos, mas em aventura pessoal. Ficou 15 anos no Brasil, tornou-se exímio no português, lendo, escrevendo e falando, e escapou ao exotismo dos imigrantes. Além de muitos artigos e reportagens na imprensa, sobretudo em Última Hora, de Samuel Wainer, nos deixou um livrinho precioso, A Revolução devora seus presidentes, publicado pela Saga, excelente editora.
Bailby, aos 81 anos, de volta à França desde 1963, recorda sua ‘aventura brasileira’ em artigo publicado no Jornal da ABI, agora com matérias de interesse e reportagens mais longas, no melhor estilo jornalístico. Com 19 anos e apenas o que hoje chamamos de 2º grau, Bailby diz que tinha só um caminho: ‘entrar para o curso de Jornalismo recém-criado na Faculdade Nacional de Filosofia, na Avenida Presidente Antônio Carlos’, que não exigia a revalidação do baccalauréat, o diploma do curso secundário. Com professores como Josué de Castro e Danton Jobim, conseguiu o diploma de bacharel em jornalismo. Mas não ficou nisso: iniciou logo um curso de línguas neolatinas com Alceu Amoroso Lima, Manuel Bandeira e Celso Cunha.
Basta este trecho do artigo para fazer algumas proveitosas observações. Qualquer um podia ser jornalista quando, no fim da década de 40, surgiu o curso de jornalismo na FNFi, no Rio de Janeiro, que ainda era a capital federal. Mesmo sem precisar do curso para se profissionalizar, Bailby foi para a redação com seu diploma de bacharel. Seus professores não tinham títulos acadêmicos, mas que professores!
Evoluímos desde então?
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Jornalista, editor do Jornal Pessoal (Belém, PA)