Como outros tantos, eu já havia feito pela TAM o percurso Porto Alegre-São Paulo, o que torna o acidente em Congonhas parecer próximo demais. Pela TV e pela internet, imagens chocantes, ainda mais chocantes se a voz de José Luiz Datena (Rede Bandeirantes) torna tudo patético e espetaculoso, comparando a tragédia com os atentados de 11 de Setembro nos Estados Unidos, o que é absolutamente impróprio e desnecessário.
Na ânsia de manter o telespectador atento, as informações se repetem, as contradições se acumulam, Lula soube do acidente pela TV, insinuações sobre a tragédia anunciada, sobre os possíveis culpados, sobre a pista nova, sobre o modelo do avião, sobre o sofrimento dos parentes e amigos.
O governador José Serra avisa que o aeroporto ficará fechado. No dia seguinte, o aeroporto está aberto.
A primeira vítima a ser nomeada: um político. O deputado Júlio Redecker. E da oposição. É impossível, neste momento, esquecer a frase irresponsável da ministra: ‘Relaxa e goza’. Os problemas não são fonte de relaxamento e gozo, ou podem trazer grandes dores de cabeça.
No Jornal Nacional do dia 18, 24 horas depois do desastre, a primeira chamada é de Fátima Bernardes: ‘O horror em Congonhas assombra o país.’ A reportagem continua. ‘Ontem, seus piores medos se concretizaram’, diz o repórter Ernesto Paglia, referindo-se aos vizinhos do aeroporto.
Imagens, imagens…
Ao longo do dia 18, onde quer que estivéssemos, o assunto era o acidente. Onde houvesse uma tela ou telinha, as imagens estavam lá: numa padaria, num restaurante, dentro de um táxi, na sala de espera do dentista, no pronto atendimento de um hospital, na vitrine de uma loja, a mídia onipresente iria nos entupir de perplexidade até dizer chega.
Rapidamente aparecem imagens no YouTube. As revistas semanais farão reportagens detalhadas, colhendo testemunhos de quem iria embarcar naquele vôo e não embarcou – fotos, mais fotos, os rostos das vítimas, histórias truncadas. O trabalho de resgate dos bombeiros se transforma em trabalho de resgate dos jornalistas, em busca de informações soterradas.
O papa envia condolências. As autoridades lamentam profundamente. Estado de choque. Os Jogos Pan-americanos perdem relevância. O programa, Mais Você, de Ana Maria Braga, torna-se programa de reportagem sobre a desgraça do dia anterior.
Imagens, imagens, imagens. Contudo, além de imagens, que prolongam nossa perplexidade, precisamos de algo mais. Precisamos de explicações.
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Doutor em Educação pela USP e escritor; www.perisse.com.br