O mundo está cada vez mais transparente com o auxílio da tecnologia. Mas também aumenta cada vez mais – e paradoxalmente – o campo dos segredos institucionais, públicos ou privados. Muitos deles estão relacionados ao interesse público, aos negócios escusos, aos procedimentos duvidosos, às vantagens que se quer levar para o bolso particular e para os poderes pessoais – ou favores políticos e econômicos. E que trazem prejuízos à população e aos benefícios que ela poderia ter em termos de saúde, educação, ambiente, emprego e cultura, por exemplo. O jornalismo que investiga está no centro do desvendamento porque retira do segredo aquilo que muitos querem esconder, prejudicando o conjunto social.
A pesquisa acadêmica que esclarece também está no centro do desvendamento da realidade social. E, ao investigar o próprio jornalismo, analisa se está realizando bem ou mal sua função essencial. A investigação jornalística cresce onde aumentam os conflitos; onde se dissemina a injustiça; onde prevalece a arbitrariedade e onde se torna a última voz da esperança social. A pesquisa acadêmica em Jornalismo cresce onde há mais atividade na área, que se manifesta em diferentes suportes, gêneros, narrativas, técnicas.
Brasil e Argentina ampliaram, nos últimos anos, suas atividades investigativas em jornalismo e suas pesquisas acadêmicas na área jornalística. A proximidade dos dois países sugere convergências temáticas, métodos de atuação acadêmica e profissional, tratamento das fontes com perspectiva similar e compromissos gerais com os dois setores, o do ofício de jornalista e o do ofício de pesquisador na área.
Métodos e compromissos
Com tal perspectiva, e examinando-se aproximações e diferenças, o objETHOS– Observatório da Ética Jornalística – da Universidade Federal de Santa Catarina idealizou, juntamente com o Mestrado em Jornalismo da UFSC, o 1º Seminário Brasil-Argentina de Pesquisa e Investigação em Jornalismo (Bapijor) , que ocorre nos dias 9 e 10 de junho em Florianópolis, no campus da Universidade.
Menos de 48 horas após abertas, as inscrições se esgotaram, o mesmo ocorrendo com a lista de espera , chegando a quase 200 participantes. Sem poder atender a todos os pedidos, a Comissão organizadora decidiu que haverá novos eventos com as mesmas características, de preferência anual, e que atenda uma demanda crescente verificada: os assuntos em comum entre os dois países, entre os jornalistas brasileiros e argentinos e entre acadêmicos daqui e de lá em um espaço físico maior, bem maior. Ainda que o ciberespaço permita o contato on line e à distância, parece continuar com muita força o contato pessoal, presencial, como forma de troca, de convivência e de experiência.
Para o evento, nomes como Martín Becerra, Gislene Silva, José Roberto de Toledo, Washington Uranga, Mauro César Silveira, Angelina Nunes, Adriana Amado, Rogério Christofoletti, Cláudio Tognolli, Sebastián Lacunza, Rodolfo Barros e Eduardo Blaustein irão apresentar e discutir temas que incluem os métodos de trabalho na profissão e na academia, as fontes e os compromissos do jornalista e do pesquisador.
O 1º Bapijor tem patrocínio da Fundação de Apoio à Pesquisa e Inovação de Santa Catarina (Fapesc) e conta com o apoio, ainda, da Associação Brasileira de Jornalismo Investigativo (Abraji), Associação Catarinense de Imprensa (ACI), Fundação de Apoio à Pesquisa e Extensão Universitária (Fapeu) e Pró-Reitoria de Assuntos Estudantis da UFSC (PRAE).