A expectativa para o dia 23 de Outubro é assunto nos principais meios de comunicação do país. Uns fortemente posicionados, outros mais retraídos. No diagnóstico da primeira quinzena de outubro, este Monitor de Mídia analisou os três principais jornais catarinenses quanto ao referendo sobre a proibição do comércio de armas e munições. Com matérias detalhadas, os periódicos explicaram o processo e o que pensam os dois lados. A opinião nas cartas também foi vista e deixou claro que a população ainda tem dúvidas. A estratégia Ao contrário da parte opinativa, os jornais catarinenses apresentaram poucas matérias sobre o referendo no período de 30 de setembro a 14 de outubro. O Jornal de Santa Catarina, curiosamente (já que é voltado para o Vale do Itajaí), foi o que mais publicou. Na edição do dia 1º, a chamada de capa ‘Começa duelos de argumentos sobre as armas’ referiu-se à campanha eleitoral que começaria a ser veiculada. Trouxe ainda entrevista com apoiadores dos dois lados. No dia 3, o entrevistado foi Denis Rosenfield, e o filósofo político disse que o ‘desarmamento é um paliativo’. A manchete do dia 12 traz: ‘Cresce venda de armas à véspera do referendo’ e na p.14 um box sobre o Estatuto do Desarmamento. O Diário Catarinense do dia 1º trouxe a manchete: ‘Começa a propaganda do referendo das armas’. A publicação completa pôde ser acompanhada nas páginas 4 e 5. Apresentou a mesma entrevista do Santa, mas de forma completa. Registrou ainda a opinião pública acerca do referendo e um box ‘tira-dúvidas’. No dia 14, destacou que as vendas de armas e munições aumentaram mais de 3000% pela proximidade da data do referendo. Trouxe box explicativo sobre como votar e justificativas dos dois lados. A Notícia
A visão das trincheiras
Os editoriais dos jornais catarinenses estavam focados na crise política, oscilando esporadicamente entre outros assuntos, mas pouco se falou de referendo. Em A Notícia, o referendo sobre a não comercialização de armas de fogo e munição no Brasil foi abordado de forma equilibrada. Os artigos eram, em sua maioria, sempre bem posicionados e o espaço para cada ponto de vista foi praticamente igual.
O mesmo aconteceu no Jornal de Santa Catarina. Na edição dos dias 8 e 9 do Santa, o artigo de Telêmaco Marrace de Oliveira questionou o referendo dizendo que está se resumindo uma ‘questão profunda’ em uma ‘pergunta pífia’.
Nos dias 3 e 4, o referendo foi mencionado no Diário Catarinense através das charges de Zé Dassilva. Dos três jornais, o DC foi o que publicou menos artigos sobre o tema. Na edição do dia 9, o jornal trouxe o editorial ‘O direito de opinar’, ressaltando a democracia, porém sem posicionamento explícito.
A visão do campo de batalha
Na seção de cartas, havia leitores reivindicando o direito à defesa (pelo NÃO) e outros o direito à vida (pelo SIM). Em carta publicada no jornal A Notícia no dia 3, Aloísio Antonio, de Videira (SC), deixou clara sua posição contrária à questão do referendo e mencionou o assunto como sendo a ‘arte de complicar o simples’. Tal complicação pôde ficar clara no dia 7 no Diário Catarinense onde um leitor se confundiu ao afirmar que os ‘menos esclarecidos apertarão o primeiro botão (o número 1) que autoriza o desarmamento’. O mal entendido foi esclarecido no dia 10, também por um leitor, que acrescentou que as propagandas na TV e no rádio estão sendo utilizadas apenas para convencer o eleitor, não para orientá-lo.
O valor de uma aposentadoria
Uma pequena nota chama a atenção nas editorias políticas de A Notícia, Jornal de Santa Catarina e Diário Catarinense. No dia 11 de outubro, ‘Jefferson se aposenta com R$ 8,8 mil’ sai em A Notícia, ‘Mesmo cassado, Jefferson ganha aposentadoria da Câmara’ traz o Santa e ‘A aposentadoria de Jefferson’, vem o DC. Nos textos, o relato de que o ex-deputado Roberto Jefferson – cassado há poucas semanas – conseguiu, após 18 dias do pedido, a aposentadoria proporcional ao tempo de serviço de vida parlamentar.
Percebe-se nas três notas o aproveitamento de material de agências noticiosas ou relise de assessoria de Brasília, pois as informações são básicas, sem nenhum aprofundamento. Seria interessante um desdobramento deste assunto, uma maior investigação que resultasse em reportagens e não tão somente em notas. Uma pequena nota, muitas vezes, não chama a atenção suficiente na questão de denúncia.
Boato na capa
‘Uma fortuna no lixão’ é manchete da edição de 6 de outubro do Jornal de Santa Catarina, que indica um tesouro no final da linha do caminhão de lixo em Timbó (SC). A matéria traz a história de um ‘suposto ganhador’ da Lotomania na cidade. Sem citar nenhum nome dos envolvidos, o boato ganha caráter noticioso em uma espécie de ‘diz-que-diz’ na localidade.
Sem nenhum fato concreto, existe somente a hipótese de um empresário ‘poder ser’ o ganhador, fato não confirmado, já que nem ele sabe se o bilhete é ou não premiado. No jornalismo, deve-se trabalhar com notícias concretas e não boatos ou fofocas. Além disso, é estranho um boato ganhar o espaço da manchete, principalmente nessa época de tantos acontecimentos importantes.
Nas páginas internas
Na mesma matéria, consta no olho que ‘outro morador de Timbó tornou-se milionário’. Isso é estranho em dois detalhes: até a publicação da matéria, nem o primeiro ganhador havia se confirmado quanto mais um segundo. Outro deslize: os acontecimentos na matéria vão até segunda-feira, mas o texto do olho indica um fato que ocorreu na terça-feira e não há qualquer menção a tais informações no corpo do texto. O olho é uma linha de apoio ao título da matéria e geralmente é extraído do texto da reportagem, como uma espécie de reforço.
Este MONITOR DE MÍDIA percebeu também que a manchete do Santa nesta edição não tem verbo, elemento esperado em frases que retratam ações. O verbo na manchete atualiza o fato, dá movimento ao acontecimento. Sem ele, a frase perde força, impacto.
A Santa também
Em A Notícia, somente no dia 12, apareceram matérias relacionadas à data, como o destaque de capa ‘Deliciosa Brincadeira de Criança’. Nas páginas internas, ‘Dia da Alegria para Crianças’ e ‘Histórias estimulam a curiosidade Infantil’ trataram de como os pequenos vivenciam esse dia e a importância da literatura na educação. Em ‘Homenagens à Nossa Senhora Aparecida’, o AN lembrou o caráter religioso da comemoração, a publicação relatou a movimentação no estado em devoção à padroeira. O jornal foi o único a mencionar esse lado.
Só crianças e campanha
O Grupo RBS promove este ano a campanha ‘Educar é tudo’, em ligação direta com a educação infantil. E nos dois principais jornais da empresa, a campanha esteve em alta. O Diário Catarinense, no dia 10, apresentou na sessão ‘Sopa de Letrinhas’ um especial de literatura direcionada ao público infantil. No dia 11, algumas propagandas da campanha. No Dia das Crianças, o caderno ‘Variedades’ trouxe os aspectos da educação na matéria ‘Educar é tudo’, onde apresenta 24 ícones da campanha.
Material diferenciado
No Jornal de Santa Catarina, a campanha do ‘Educar é tudo’ também esteve presente. No dia 10, os cadernos ‘Vida’ e ‘Variedades’ trouxeram matérias como ‘Educar é sempre imprevisível’ e ‘Cores da Infância’. Na mesma edição, a seção ‘Estante’ foi direcionada à literatura infantil. No dia 11, somente mencionou a campanha do Grupo. No dia 12, o jornal trouxe um artigo, mas nada referente à religiosidade foi mencionado.
Acompanhando o Santa no Dia das Crianças, um encarte especial composto pelo material enviado para a promoção ‘Jornalista por um Dia’. Nesse exemplar, as matérias feitas por pequenas mãos abordaram aspectos do cotidiano e a visão de mundo de uma perspectiva mais jovem. Dentre matérias e artigos opinativos, poesias e piadas inocentes compunham o ‘jornalzinho’, ao mesmo estilo do ‘pai’ da idéia.
De canela
As crises não se contiveram na política. A Notícia acompanhou, em sua editoria esportiva, a movimentação fora dos campos dos dirigentes esportivos e da chamada ‘máfia do apito’. A partir do dia 1º de outubro, com a chamada de capa – ‘Cai chefe da arbitragem da CBF’ – acompanha as medidas judiciais tomadas. No AN Esportes do dia 3, traz na capa ‘Pra tentar consertar’. Em duas matérias, o caderno trata da repercussão nos clubes da decisão de anular onze jogos do Campeonato Brasileiro. Nas edições seguintes, o jornal acompanha de perto os clubes, como nas edições de 8 (‘Decisão da CBF provoca revolta no São Paulo’) e 11 de outubro (‘Abel revoltado com a CBF’). O uniforme é outro, gravatas por chuteiras, mas o esquema tático é o mesmo nas duas crises.
Até no futebol…
No Diário Catarinense, o esquema de manipulação de resultados em jogos de futebol foi destaque na editoria de esportes no dia 3 com a saída da prisão de Edílson Pereira de Carvalho, o principal árbitro envolvido no esquema. Edílson havia cumprido cinco dias de prisão preventiva na Superintendência da Polícia Federal. Dia 1º, o destaque foi para a demissão de Armando Marques, ex-presidente da Comissão de Arbitragem da CBF. O escândalo foi destaque na primeira página do Caderno de Esportes até o dia 4; no dia 3 a manchete foi: ‘Luiz Zveiter anula as 11 partidas’.
Fora do campo
No Jornal de Santa Catarina, um selo identificou matérias relacionadas ao ‘escândalo do apito’. Alguns títulos ocuparam as primeiras páginas da editoria: ‘Vale a pena ver de novo’ (dia 3), ‘Cartolas se reúnem para tentar reverter anulação de jogos’ (dia 4), ‘Cinco clubes vão entrar com recurso conjunto’ (dia 5), ‘Edílson afirma que Federação Paulista encomendava resultados’ (dia 6). O assunto teve grande repercussão no diário.
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