A edição do jornal A Tribuna (28/4), de Vitória (ES), comunicou ao leitor que estava realizando uma promoção. Recortando um selo publicado no veículo, os fãs de uma dupla sertaneja poderiam comprar o DVD dos cantores, nas bancas, por um preço reduzido. Não haveria problemas até aí, não fosse o espaço e a forma dados ao assunto.
Ocupando meia página na editoria de Cidades, o informe ganhou contornos de notícia. Havia título, linha-fina e depoimentos de duas fãs interessadas na compra do DVD. Além disso, ao lado direito, a foto de uma das jovens ilustrava a ‘matéria’.
Perda de sentido
Ora, o espaço que poderia ser dado a um tema de interesse efetivamente público acabou ocupado por uma propaganda do próprio veículo. É evidente que qualquer meio de comunicação tem o direito de divulgar suas promoções, mas, no caso em questão, isso poderia ser feito apropriadamente em pequena nota ou, melhor ainda, em espaço publicitário demarcado e definido. Parece que o jornal se preocupou mais em se autopromover do que em transmitir ao povo uma boa informação, tanto que, ao longo do texto, o nome A Tribuna podia ser lido quatro vezes.
Um outro grave defeito foi ter transformado a propaganda em texto jornalístico. Práticas como essa podem comprometer a credibilidade no jornal e até do jornalismo entre os leitores, que podem deduzir que toda matéria guarda um determinado interesse subjacente, banalizando, dessa forma, a atividade profissional.
A principal função da mídia é a transmissão de informações. Quando a manutenção do meio de comunicação é financiada pela publicidade, como no caso brasileiro, é normal que as páginas de um jornal, por exemplo, sejam divididas entre informações e anúncios. Porém, se o aspecto comercial é privilegiado, o resultado é desastroso, pois acarreta a perda de sentido do jornalismo. Compreende-se que a população deva acompanhar a atividade dos veículos, visto que prestam um serviço público. Se o modelo de financiamento não é o ideal, por hora é o vigente. Daí a necessidade de ser trabalhado com reflexão, para que não se crie na sociedade um conjunto de indivíduos alienados.
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Estudante de Jornalismo na Ufes e participante de grupo de pesquisa da Renoi, Rede Nacional de Observatórios da Imprensa na universidade