Desde o ano de 2005, um grupo de jornalistas, que também são professores e pesquisadores da área, tenta retomar a idéia de uma Rede Nacional de Observatórios de Imprensa (Renoi) formada por escolas de jornalismo e comunicação. De lá para cá, várias ações nesse sentido já foram realizadas, como mesas nos principais congressos brasileiros de comunicação e jornalismo, a criação de uma lista de discussão para alimentar o debate não-presencial, a proposta de criação de uma rede de pesquisa que incorporasse os vários integrantes da rede, até a realização do I Encontro Nacional da Rede de Observatórios de Imprensa, em Vitória (ES), acontecido entre os dias 31 de maio e 02 de junho de 2007.
Como se disse, trata-se de uma retomada. A idéia original surgiu em 1998. A consolidação do Observatório da Imprensa, fundado em 1996, que mobilizou os espíritos reflexivos e críticos em relação ao acompanhamento da atividade jornalística, inspirou também o ambiente acadêmico a fazer parte deste projeto que, sabemos todos, hoje, nunca mais nos deixou ler jornal do mesmo jeito.
No texto intitulado ‘Chamamento às escolas de Jornalismo: criemos juntos a Rede Nacional de Observatórios de Imprensa‘, assinado por Victor Gentilli, então editor acadêmico do OI, apresentava-se o objetivo maior do empreendimento proposto:
O objetivo fundamental da Rede é tentar montar um painel do jornalismo brasileiro, com ênfase para o jornalismo local de cada região. Estimulados e pautados pelo Observatório da Imprensa, e acompanhados por um professor, estudantes de jornalismo farão avaliações, estudos, trabalhos, diagnósticos e pesquisas dos jornais, revistas, telejornais e radiojornais. Estarão, deste modo, consolidando e ampliando as experiências brasileiras de crítica de mídia e abrindo, nas escolas de jornalismo, um espaço privilegiado para a sua prática. (Gentilli, 1998)
A proposta, contudo, hibernou por longos sete anos, quando recuperada pelo grupo que atualmente tenta implementá-la. Se o tempo em hibernação retardou, por um lado, a implementação do projeto, permitiu, por outro, que a idéia ressurgisse mais sofisticada. Como exemplos disso temo o sucesso daquele I Encontro e também a criação de redes de relações entre os integrantes da Renoi, que começam a ser articuladas. Num momento de retomada, nunca é demais privilegiar o lado bom e otimista da empreitada. Apesar, claro, de haver dificuldades também, como a lentidão de um processo no qual tomam parte vários grupos, com ritmos diferenciados de respostas às demandas que se apresentam.
A idéia de rede pressupõe o vínculo entre seus diferentes ‘nós’ de modo que a rede possa ser efetivamente caracterizada como tal sem que, contudo, os nós percam a sua individualidade. Sem vínculo os nós permanecem apenas como pontos isolados. Nesse sentido, um dos grandes desafios atuais dos grupos que assumiram a implantação da Renoi é exatamente descobrir o que os une enquanto rede, para além da prática da ‘crítica de mídia’. Esta prática é o ponto de partida para a rede, não seu ponto de chegada.
A descoberta do vínculo – ou a criação dos vínculos – que pode unir os dispersos nós exige um autoconhecimento mínimo entre estes parceiros. É exatamente este o ponto ou o problema que se apresenta neste artigo: a produção de um diagnóstico inicial das diferentes experiências protagonizadas pelos grupos que se dedicam à tarefa de tecer a Renoi.
Antes de seguir a exposição dos resultados do levantamento realizado, não se pode perder de vista uma premissa essencial: não existe um único modo de fazer crítica de mídia, e em conseqüência não existem necessariamente ‘fórmulas’ melhores do que outras para tanto. O tratamento que Claude-Jean Bertrand (2002) dá às inúmeras e diversificadas experiências do que ele chama de Sistemas de Responsabilização de Mídia é o que efetivamente também queremos incorporar neste texto.
Segundo o autor, os Sistemas de Responsabilização de Mídia ‘são quaisquer meios de melhorar os serviços de mídia ao público, totalmente independentes do governo’. E continua:
Espera-se que atinjam seu objetivo aumentando a competência dos jornalistas e descobrindo (por meio de observação e análise) o que a mídia faz e não faz, em comparação com o que deveria fazer. […] Esses sistemas são um misto de controle de qualidade, serviço ao consumidor, educação contínua e muito mais – não apenas, decerto, auto-regulamentação. […] O conceito engloba perto de sessenta desses meios. […] Podemos esperar que muitos outros MAS [Media Accountability System, original inglês do qual a tradução portuguesa (do Brasil), de Maria Leonor Loureiro, da obra de Bertrand é ‘Sistemas de Responsabilização de Mídia’] sejam inventados. A originalidade do conceito reside na própria diversidade dos meios disponíveis para perseguir um único objetivo. (Bertrand, 2002, p. 35)
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Doutor em Comunicação e Cultura Contemporânea pela Universidade Federal da Bahia, professor adjunto da Universidade Federal de Sergipe