Friday, 22 de November de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1315

Responsabilidades do jornalismo e dos jornalistas

Antes de tudo, gostaria de agradecer aos formandos do curso de Jornalismo das Faculdades Integradas Ipitanga/Unibahia pelo convite para ser Paraninfo da turma. Foi com alegria que recebi o convite de vocês não apenas pelo reconhecimento ao trabalho desenvolvido como coordenador do curso, mas também pelo deferimento da escolha ter recaído sobre um profissional da área que, sem falsa modéstia, tem se pautado com profissionalismo, lisura, seriedade e ética em todas as situações, contribuindo durante toda a vida profissional com um trabalho dedicado ao crescimento do conhecimento da área de comunicação e da valorização do jornalismo, além de lutar com ênfase contra toda e qualquer forma de censura, seja ela praticada por instituições econômicas, políticas, policiais e até mesmo pela própria mídia ou jornalistas, com suas posições distorcidas de donos da verdade, que manipulam as informações e usam o poder do veículo com objetivos escusos para atender a interesses pessoais.


Agradeço esta homenagem, a qual divido com todos os demais professores do curso que habilitou vocês para o exercício do jornalismo. É importante também aqui destacar o papel que seus pais, maridos, esposas e familiares tiveram neste processo, pois a eles, sem nenhuma duvida, vocês devem o privilégio do diploma universitário e de todo o apoio e estrutura que possibilitou esta tão sonhada formatura.


Vocês são vencedores na corrida de obstáculos que é a vida profissional. Venceram o primeiro obstáculo com a formação universitária. A cerimônia de diplomação que se realiza hoje é a confirmação pública do ideal e da determinação com que escolheram a profissão do sonho de cada um de vocês. Na condição de Paraninfo, coloco-me ao lado de cada um para testemunhar que vocês possuem as qualidades que reivindicam possuir e que estão aptos a desempenhar a profissão de jornalista.


O segundo obstáculo a ser vencido é o de se estabelecer profissionalmente e exercer a cidadania e a missão jornalística com ética, transparência, segurança e credibilidade. O diploma, hoje obtido, não lhes garante automaticamente um lugar no mercado de trabalho, mas permite que possam competir em condições de igualdade com qualquer outro profissional. Vocês sabem do que são capazes, portanto, usem todo o aprendizado, capacidade e determinação para ocupar os espaços e exercer com dignidade as quatro funções sociais do jornalismo: informar, educar, fiscalizar e entreter. Cumprindo as funções sociais do jornalismo conseguiremos dar a nossa contribuição na construção de um país melhor.


Não importa o cargo ou função que estejam desempenhando ou venham a desempenhar, o mais importante desta profissão é estar sempre consciente do compromisso ético do jornalismo e que esta profissão se caracteriza essencialmente pela prestação de serviço público e pela busca incessante da verdade. Ser jornalista é saber comunicar os fatos, contar a verdade com isenção. A imparcialidade é um mito, mas a isenção é uma meta e obrigação a ser perseguida.


Assim sendo meus caros afilhados e afilhadas, tenham consciência disso, pois os cientistas políticos geralmente restringem a importância da mídia, enquanto alguns comunicólogos tendem a exagerá-la, julgando, por exemplo, que a política está totalmente dominada pela lógica dos meios de comunicação, tornando-se um mero espetáculo. Estejam conscientes de que a realidade não pode nunca ser superada pelo entretenimento e que o jornalismo não é uma simples reprodução da realidade. Isto porque os jornalistas contribuem para a construção social da realidade, além de exercer um papel de mediação social.


Por isso, devemos estar cientes de que o trabalho jornalístico exerce um papel fundamental na vida política, pois amplifica os discursos políticos, possibilitando que os mesmos sejam expostos ao julgamento da população. Lamentavelmente, a cobertura jornalística da política nacional está reduzida a reproduzir a disputa pelo poder, não permitindo o espaço necessário para que se possa debater os projetos da sociedade. Apesar de ser a principal fonte de informação da população, os veículos de comunicação – mídia impressa e mídia eletrônica – , continuam reproduzindo de maneira incorreta ou insuficiente a nossa diversidade cultural, social e política, prejudicando, direta e indiretamente, o exercício da democracia, que antes de qualquer coisa, é a convivência com os contrários, o respeito pela cidadania, a garantia da liberdade de expressão e de acesso a informação. Precisamos, pois, como jornalistas lutar para ampliar, na mídia, o espaço para que todos os segmentos da sociedade possam participar do processo de desenvolvimento cultural, econômico, político e social do país.


Compromisso com a verdade


Meus caros formandos, gostaria ainda de alertá-los que a mídia não é dona do jornalismo e nem pode usá-lo a seu bel-prazer. Como também os proprietários de veículos precisam entender que o senso crítico deve começar dentro de casa, pois quando uma empresa de comunicação funciona como grupo de interesse econômico e de pressão política, apenas contribui para a queda na qualidade das informações divulgadas, abalando a credibilidade e confiabilidade do público no veículo e no jornalismo por ele praticado.


Assim sendo, enumero a seguir alguns conselhos que devem ser considerados no exercício do jornalismo diário:


** Tenha confiança em seu trabalho de investigação, mas nunca deixe de checar todas as fontes e dados levantados;


** Nunca engane seu público leitor, radiouvinte, telespectador e suas fontes de informação;


** Seja verdadeiro e ético: nunca use de subterfúgios e de métodos não autorizados ou ilegais para obter informações;


** Evite adicionar informações que não deveriam constar da reportagem específica;


** Evite fontes anônimas e desconfie de informações transmitidas por pessoas que não querem ser identificadas;


** Procure ser transparente nos seus métodos de ação e nos objetivos perseguidos para a obtenção de informações;


** Na produção de suas reportagens ouça sempre os dois lados envolvidos;


** Lembre-se sempre que você não é dono da verdade e desconfie daquele que se julga como tal;


** Não se deixe intimidar por pressões políticas, econômicas e morais, pois elas existem e estão presentes no dia-a-dia do jornalista. Não esmoreça e reaja denunciando estas pressões. Procure preservar seus direitos, sua liberdade, sua integridade e dignidade pessoal;


** Defenda a liberdade de imprensa e o direito do cidadão de ter livre acesso às informações;


** A prática jornalística só será sadia e duradoura se soubermos preservar os interesses públicos;


** Credibilidade é o maior bem que um jornalista ou veículo de comunicação pode ter. Portanto, preserve a sua credibilidade e o seu nome profissional;


** Aprenda a ter senso crítico e humildade. A arrogância é um dos maiores defeitos do jornalismo;


** Evite as notícias fáceis e as manchetes sensacionalistas. Siga, na prática, uma máxima jornalística que diz: ‘Tudo o que é bom para o leitor dá trabalho para o jornalista produzir.’


Para concluir, recorro à sabedoria popular que diz: o único local onde o SUCESSO vem antes do TRABALHO é no dicionário. Diz ainda a sabedoria popular que o segredo do sucesso é a paixão. Portanto, apaixonem-se pelo jornalismo, uma profissão dinâmica, mas que exige muito trabalho, dedicação e ética profissional. É importante fazer o que você gosta, mas, mais importante é gostar do que você faz.


Espero que a ética, a transparência e o compromisso com a verdade estejam sempre com vocês no desempenho do jornalismo profissional. Espero que tenham êxito na profissão escolhida e que sejam felizes.


Muito obrigado!

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Jornalista, doutor em Comunicação pela Universidade do Texas, em Austin; poeta, cronista, compositor e pesquisador universitário, tem 25 livros publicados