Famosa por estampar corpos sarados, rostos invejados e dicas de beleza em suas páginas, a revista americana Glamour surpreendeu ao entregar o prêmio de Mulher do Ano para uma muçulmana que se veste modestamente e, na maior parte do tempo, está coberta dos pés à cabeça. A paquistanesa Mukhtar Mai, que nunca tinha ouvido falar na Glamour, foi apresentada pela atriz Brooke Shields, na cerimônia de premiação, como ‘fantástica’ e recebeu elogio de Laura Bush. ‘Ela é a prova de que uma mulher pode realmente mudar o mundo’, afirmou a primeira-dama dos EUA.
A história de Mukhtar é comovente. Em 2002, ela foi estuprada por uma gangue por ordem de um conselho tribal, como punição por seu irmão mais novo ter namorado uma jovem de uma tribo rival. Em um país onde a grande maioria das vítimas de estupro prefere o silêncio, Mukhtar optou por um caminho diferente. Não só ela prestou queixa como lutou para que seu caso chegasse ao mais alto tribunal do Paquistão. Em uma decisão surpreendente, seus agressores foram condenados. Ela usou o dinheiro ganho no caso para construir escolas em seu vilarejo, e virou exemplo de vitória para as mulheres de seu país e do resto do mundo.
‘Eu tenho uma mensagem para todas as mulheres que foram estupradas ou sofreram qualquer tipo de violação: não importa o quê, elas devem falar sobre isso e lutar por justiça’, disse no discurso.
Com os US$ 20 mil do prêmio da Glamour, Mukhtar pretende doar parte para as vítimas do recente terremoto no Paquistão e usar o resto para construir um abrigo e uma linha-direta para mulheres que querem fugir de relacionamentos abusivos ou se recuperar do trauma do estupro. Informações de Andrea Koppel [CNN, 3/11/05].