Sunday, 24 de November de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1315

Senador usa a imprensa e a imprensa se deixa usar

Longe de querer entrar nas razões pelas quais o senador Jarbas Vasconcelos rasgou o verbo de ponta a ponta sobre o maior partido de oportunistas deste país – o PMDB, que ele ajudou a construir e faz parte das entranhas obscuras da agremiação – é preciso, sobretudo, entender esse rompante, esse algo repentino que aflorou da noite para o dia e fez o senador abrir a torneira.

Um dos questionamentos naturais seria entender o que há de novo em tudo o que o senador Jarbas Vasconcelos disse. Por acaso existe alguma novidade em toda sua retórica que a grande imprensa e a sociedade já não soubessem?

Para quem é novidade que boa parte do PMDB quer mesmo é corrupção? Que quase todos os associados do partido estão buscando benefícios próprios, cargos públicos (já se perdeu a conta da participação do partido em todos os governos federais de esquerda, se é que existe isso, e de direita), negociatas e ganhos de comissões?

O maior exemplo disso é o ex-quase-cassado senador Renan Calheiros (PMDB). Ele é a representação cabal de que o partido e nada é a mesma coisa. Mesmo com todos os escândalos que abalaram a República e os lares brasileiros, não houve nenhuma movimentação para ‘deletar’ Renan do partido.

Muito pelo contrário. O apoio dos companheiros de lutas e desvios foi praticamente total. As exceções ficaram caladas, para não dizer que não falaram de flores. E o resultado? Renan é hoje líder da bancada do PMDB no Senado. O que ele sabe é ‘muito demais’ para perder o poder. Se caísse levaria consigo 99,9% do Congresso. Como diz o meu filho, ‘rapadura é doce, mas não é mole, não’.

Veicular matérias de acordo com interesses

Com mais de quatro décadas no PDMB e vendo de perto as carcaças apodrecendo e boiando na correnteza, exatamente agora, numa época de pré-eleições federais/estaduais, o senador Jarbas diz está totalmente decepcionado e não tem outro partido para ir?

É preocupante, tal afirmativa. Isso ecoa nas entranhas políticas de tal forma que faz a mídia correr pela tangente perdendo de vez o foco da discussão.

Astuciosamente (para não dizer marqueteiramente), Jarbas puxa os holofotes para ele. A mídia, como cordeirinho, vai atrás. Entre os maiores portais e blogs de notícias do país e a reprodução dos demais veículos rádio, sites locais e jornal impresso, só deu Jarbas na cabeça. Até na página principal do MSN o senador batia o ponto.

Por que o barulho? Daí vêm outras interrogações que fazem o espectador refletir sobre o caminho pelo qual os partidos e políticos querem trilhar. Deixa de fora o autor das definições: o cidadão. Corre pelas beiradas em direções tortuosas para que o leitor/eleitor não consiga acompanhar a trajetória e fique com aquele que fizer maior barulho.

A imprensa precisa ter cuidado com o trato da informação para não deixar de cumprir sua maior vocação: formar cidadãos conscientes e estar acima de qualquer partido ou tendência política.

Não é fácil ser jornalista. Quem quiser, que diga que sim. Mas parece ser mais fácil ser empresa jornalística e ter o poder de maquiar, conduzir, produzir e veicular matérias de acordo com interesses de alguns grupos.

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Socióloga e jornalista, especialista no Ensino da Comunicação Social, professora do curso de Jornalismo em Multimeios da Universidade do Estado da Bahia (UNEB Campus III – Juazeiro) nas disciplinas Jornalismo Online, Temas Especiais, Administração de Empresa Jornalística e TCC, e professora do curso de Comunicação Social com habilitação em Publicidade e Propaganda da Faculdade São Francisco de Juazeiro nas disciplinas de Comunicação Institucional, Sociologia, TCC e Mídia