Depois da Copa do Mundo, de um punhado de escândalos políticos e das eleições, há quem considere que 2006 tenha finalmente terminado. Restaria, então, aguardar os dois últimos meses para fechar a fatura do período. Mas para aqueles que atuam no campo da pesquisa em jornalismo, há tempo para pelo menos duas boas oportunidades neste ano: a Journalism Brazil Conference e o 4º Congresso da Sociedade Brasileira dos Pesquisadores em Jornalismo (SBPJor).
Os eventos acontecem em Porto Alegre e se dão em seqüência, sendo a Conference de 3 a 5 de novembro e o segundo, de 5 a 7. Mas o que pode acontecer de tão relevante nesses dias para que mereça tanta atenção?
Existem ao menos três sinais positivos que podem dar, num futuro próximo, novos contornos à pesquisa científica que se faz no Brasil. O primeiro deles é a própria realização da Brazil Conference, que não apenas reúne especialistas de quatro continentes, mas atrai a atenção da comunidade científica internacional para o país e o articula à cena contemporânea. Ao sediar um evento como este, os pesquisadores brasileiros trocam experiências com os colegas estrangeiros, estreitam laços de cooperação mútua e até fecham acordos internacionais de pesquisa. Não é pouco para quem quer participar mais da agenda científica e tecnológica global. No total das áreas de conhecimento, o Brasil responde por 1,8% da produção científica mundial, uma fatia pequena até mesmo entre os emergentes.
A SBPJor já havia dado o primeiro passo na direção de uma integração com outras sociedades científicas estrangeiras com o lançamento, em 2005, da Brazilian Journalism Research, primeira revista de comunicação editada em inglês com circulação dirigida a outros países. Tanto pela Conference quanto pela publicação, os esforços são semelhantes: mostrar a produção nacional, fazer-se conhecer para inserir a pesquisa brasileira no rol das principais do mundo.
Capacidade de resposta
Um segundo bom sinal para o futuro da pesquisa em jornalismo no país é um ensaio de aproximação entre academia e iniciativa privada. O congresso da SBPJor realizou mesa temática colocando lado a lado representantes do setor empresarial jornalístico – dos grupos Abril e RBS, da Associação Nacional dos Jornais e do UOL – e da universidade para discutirem pesquisa e qualidade. Para algumas áreas, essa confluência parece banal e corriqueira. Entretanto, no jornalismo, sempre houve resistência de lado a lado para sentar-se à mesma mesa, seja por mero preconceito ou por pura desarticulação.
O diagnóstico para que esse cenário mudasse se deu no encontro da SBPJor de 2005, em Florianópolis, quando membros da diretoria sinalizaram a importância de um diálogo entre empresas e universidades. Os resultados de um encontro como este não podem ser dimensionados agora. Mas os desdobramentos devem se dar no curto prazo, seja sob a forma concreta de fomento à pesquisa pela indústria, seja pelo caminho das parcerias.
No jornalismo, este diálogo ocorre tardiamente, mas suas repercussões são muito bem-vindas. Em outros setores – como o químico, por exemplo –, a academia e as indústrias atuam juntas, promovendo inovação, avanço tecnológico, aumento na qualidade e dividendos para as duas partes. O êxito dessa aproximação depende da capacidade de resposta aos desafios e da abertura de pesquisadores e empresários.
Feliz 2007
Um terceiro aspecto que deve contribuir para o desenvolvimento da pesquisa em jornalismo no país é a orientação da SBPJor para a criação e institucionalização de redes de pesquisadores. O fechamento do congresso de Porto Alegre se dá com uma reunião entre as redes já formadas – e as em formação – com a diretoria da entidade. O assunto é a aprovação de um regulamento para as redes que querem integrar a SBPJor e o planejamento para apoios a esses coletivos.
A exemplo de outras realidades, a entidade brasileira enxerga o futuro da pesquisa em jornalismo na realização de projetos envolvendo diversas universidades, vários pesquisadores e objetivos comuns. Trabalhando de forma solidária, os cientistas fortalecem sua atuação, consolidam seus laboratórios e cercam-se de mais condições para lograr êxitos.
A julgar por esses sinais positivos que vêm de Porto Alegre, o ano de 2006 termina muito bem para a pesquisa científica em jornalismo no Brasil. Termina bem, mas 2007 pode começar melhor ainda se os resultados transcenderem o espaço de discussão na capital gaúcha.
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Professor do curso de Comunicação Social – Jornalismo e do Mestrado em Educação da Universidade do Vale do Itajaí; responsável pelo projeto Monitor de Mídia e integrante da Rede Nacional dos Observatórios de Imprensa (Renoi)