Saturday, 02 de November de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1312

Um convite à reflexão

Um dos grandes problemas contemporâneos que perpassa a crise de identidade que o jornalismo vem atravessando é sua vinculação ao capitalismo neoliberal globalizado. Esse vínculo – em alguns casos, íntimo – tem custado caro ao jornalismo quando o assunto é credibilidade. Fator essencial para a sobrevivência de qualquer meio de comunicação, esta não tem tido ressonância nos mass media.

Obviamente, o jornalismo é o porta-voz do capitalismo neoliberal globalizado contemporâneo. Sua sobrevivência financeira, a princípio, depende dele. Aliás, dele, o ‘mercado’. Nem tanto do capitalismo neoliberal globalizado. Este, paradoxalmente, tem trazido grandes problemas não somente à humanidade, como aos próprios meios de comunicação, inclusive os de massa – afundados que estão em dívidas advindas das crises financeiras geradas pelo próprio mercado neoliberal globalizado. Essa promiscuidade é o grande paradoxo do jornalismo. Poderia, sem sombras de dúvida, ser diferente. Infelizmente, não é.

Historicamente, as instituições – a exemplo da igreja, da escola, do poder judiciário e, agora, dos mass media –, sempre defenderam o padrão e os valores ortodoxos da chamada classe burguesa. Isto porque à frente dessas instituições sempre estiveram representantes vinculados a esta classe.

O discurso empregado pelos defensores dos padrões e valores constituídos pela classe burguesa dominante sempre foi o da ‘civilização’, do ‘progresso’, o que, em natural conseqüência, atropela – vamos empregar esse termo –, ou mesmo silencia por diversos meios, aquilo que lhe é oposto, ou melhor, oposto a seus interesses. Para melhor exemplificar, assim foi com o Brasil, já que aqui estamos, com a vinda da chamada ‘civilização’, em 1500. E, mais recentemente (mais precisamente no final do séc. XIX), se assim podemos dizer, com a cidade de Canudos, de Antonio Conselheiro.

Reflexo de um momento histórico

Nesse processo de aprendizagem e acumulação cultural por que a humanidade tem passado, ainda não refletimos – ao menos na dimensão prática devida – sobre a direção que estamos dando ao destino e ao bem-estar sócio-ambiental – não só para nós, esta geração que aqui se encontra, mas também para as futuras gerações.

Somos, enquanto sociedade que interage em troca de bens simbólicos, materiais e culturais, em todos os sentidos, tanto social como profissional – empregando aqui esse termo em seu sentido amplo, quando nessas interações, muitas apropriadas pelo sistema capitalista, buscamos, diariamente, a nossa subsistência, seja como baiana de acarajé, seja como professor universitário ou mesmo secundário – somos, pois, o reflexo de um momento histórico social que está – assim como estamos todos – intrinsecamente ligado à nossa constituição enquanto ser, em nossa formação histórica enquanto humanidade.

A crise de identidade que o jornalismo, no particular, e alguns setores da sociedade, em seu aspecto mais amplo, têm presenciado contemporaneamente, nada mais é do que o espelho/reflexo das ações das gerações passadas, desta e, se não mudarmos o curso da história enquanto houver tempo, das próximas gerações. E isso encontra-se vinculado, direta ou indiretamente, com o futuro da comunicação, pois afinal esta é gerida apenas por seres humanos. Ou não é?

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Estudante de jornalismo, Lauro de Freitas, BA