Friday, 22 de November de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1315

Um exemplo de valorização do diploma

Questionar a obrigatoriedade do diploma para o exercício do jornalismo vai perdendo o sentido, e já não tem a mesma repercussão de tempos atrás. A sociedade vem compreendendo que é absurdo pensar que a formação superior do jornalista não faz diferença. Perdeu muita força o mito de que algumas pessoas nascem com ‘jornalismo no sangue’, e que exercer a profissão é responsabilidade de um grupo de predestinados. [Ver texto sobre o movimento nacional dos sem-diploma no Caderno da Cidadania, nesta edição.]

A oposição às faculdades de Jornalismo era muito mais forte, como conta José Marques de Melo. Em Jornalismo brasileiro (Editora Sulina, 2003), ele diz que houve uma reação agressiva à criação da graduação em Jornalismo na USP, em 1966. Também lembro que, no fim da década de 1980, quando cursava Jornalismo, os debates sobre a questão eram acalorados. Agora, as coisas mudaram muito. Nem mesmo a liminar que questionava a constitucionalidade da lei que torna obrigatório o diploma para o exercício da profissão provocou debates como os de décadas atrás. O que ela causou foi muita indignação nos jornalistas e estudantes de Comunicação.

Mas ainda há resistência à formação superior em Jornalismo, e ela vem de duas frentes. Por um lado, antigos jornalistas, não-formados, que valorizam exageradamente a experiência. Do outro, os proprietários da mídia, preocupados em ter que pagar melhores salários, e contratar profissionais que possam questionar os vícios presentes nessas empresas.

Quando da fundação da Associação Brasileira de Imprensa (ABI), em 1808, a criação de um curso superior de Jornalismo já era reivindicação da nova entidade. Nesse mesmo ano, surgiu o primeiro curso de graduação em Jornalismo das Américas, na Universidade de Missouri, nos EUA.

Sucesso e estudo

Mas a grande defesa do diploma foi o exemplo dado por Walter Sampaio, contado por José Marques de Melo no livro Jornalismo brasileiro.

Dos aprovados no vestibular para a primeira turma do Curso de Jornalismo, na USP, em 1966, estava uma figura ilustre, o renomado jornalista Walter Sampaio. Ele tinha currículo invejável, e, na época, ocupava o cargo mais importante do telejornalismo brasileiro, o de diretor de Jornalismo da Rádio e TV Tupi de São Paulo.

Apesar do sucesso profissional, Sampaio passou quatro anos estudando. Marques de Melo conta que o professor das disciplinas de Rádio e Televisão pediu demissão depois que soube que lecionaria a um aluno tão importante. Mas, mesmo assim, Walter Sampaio seguiu no curso e deu este grande exemplo de valorização da formação em Jornalismo.

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Jornalista, professor da PUC-Minas Arcos, doutorando em Comunicação Social pela Universidade Metodista de São Paulo e autor do livro O ombudsman e o leitor