Monday, 04 de November de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1312

Um mosaico de leituras críticas da mídia

Um paradoxo assombra aqueles que se preocupam com a ética no jornalismo: embora seja um campo de atuação maciçamente notório, o público em geral pouco sabe do funcionamento cotidiano do jornalismo. Evidentemente, essa contradição contribui para um cenário que pouco acrescenta e esclarece sobre as bases que sustentariam uma ética jornalística. Trocando em miúdos: o jornalismo está na nossa vida, faz parte dela, mas ignoramos na maioria das vezes as suas maquinarias internas. E como pouco enxergamos além dos holofotes, tendemos a acreditar que não haja parâmetros definidos de conduta e tampouco valores que orientem os profissionais do ramo.

É em um ambiente de crise como esse que uma série de iniciativas começam a se desenhar na sociedade, alinhadas por uma preocupação comum: a mídia pode melhorar, o jornalismo também e o seu público não precisa se acomodar em uma posição passiva diante do processo informativo. Entre esses esforços, podemos lembrar quatro ações bastante relevantes, cujos impactos podem redesenhar um pouco a relação entre meios e públicos no país:

** Os sindicatos de jornalistas de todo o país, capitaneados pela Federação Nacional dos Jornalistas (Fenaj) retomaram a discussão para uma nova redação do Código de Ética da profissão. Propostas já foram encaminhadas, estão sendo sistematizadas e devem ser avaliadas pela categoria em julho próximo, durante o Congresso Nacional dos Jornalistas, em Ouro Preto (MG);

** A Fenaj deve iniciar um novo movimento para reapresentar a proposta de criação de um Conselho Federal de Jornalismo, órgão de apoio à sociedade nos tratos com o jornalismo e os jornalistas;

** As entidades acadêmicas e classistas do campo da Comunicação e do Jornalismo vêm empreendendo movimento de aproximação e retomada de uma unidade importante para o fortalecimento do setor;

** Diversos atores do campo acadêmico e mesmo da sociedade preocupada com o jornalismo consolidam uma rede de pesquisa para monitoramento dos meios de comunicação, identificação de problemas e proposição de soluções para o seu aperfeiçoamento. A Rede Nacional de Observatórios da Imprensa (Renoi), existe desde novembro de 2005, e é sobre essa iniciativa que quero me debruçar um pouco mais.

Presença da rede

A Renoi é resultado de uma idéia de quase dez anos. Quando do surgimento do Observatório da Imprensa, em 1996, já havia intenções claras de semear entre as escolas de comunicação projetos semelhantes de media criticism e media watching. Por diversas vezes, tentou-se pavimentar tais caminhos, o que só ocorreu muito recentemente, em um momento de plena consolidação do Observatório, de amadurecimento da pesquisa em jornalismo no Brasil e da união de esforços até então espalhados pelo país.

Alicerçada pelo Observatório, a Renoi reúne hoje 31 professores-pesquisadores e mais de 220 alunos, bolsistas ou não. A rede está em nove estados de todas as regiões brasileiras: São Paulo, Paraná, Santa Catarina, Espírito Santo, Minas Gerais, Pará e Distrito Federal. Reúne doze instituições superiores de ensino, sendo quatro públicas (UFES, UFSE, UnB, UEPG) e oito particulares (Estácio de Sá, de Belo Horizonte, Univali, Unasp, USC, Unitau, Unama, Unilinhares e Unitri), mais o Projor, ONG que sustenta o Observatório da Imprensa. São quinze nós na rede, instâncias que já têm projetos de acompanhamento da mídia ou que estão construindo suas iniciativas.

Para se ter uma idéia concreta da rede, a Renoi conta hoje com sete observatórios em funcionamento: o SOS Imprensa, o Análise de Mídia, o Canal da Imprensa, o Monitor de Mídia, o Mídia & Política, a Agência Unama e o Observatório da Imprensa. Existem ainda seis projetos em fase de consolidação: o Grupo de Pesquisa de Cotidiano e Jornalismo, o projeto Estudos de Jornalismo Brasileiro, o Laboratório de Estudos de Jornalismo, o MonitorES Unilinhares, a Renoi – Vale do Paraíba e a Renoi – Uberlândia. Outras iniciativas estão sendo geradas nos próximos meses.

Na maioria das vezes, os projetos contam com sites na Internet onde difundem suas pesquisas e empreendem o trabalho de acompanhamento dos meios de comunicação. Em apenas seis meses, a rede mostrou-se muito ativa do ponto de vista operacional e bastante sólida nos laços que a constituem. Seus membros comunicam-se diariamente por meio de uma lista eletrônica, trocando experiências e informações. Além disso, articulam mesas de debates em eventos acadêmicos nacionais para estreitar os contatos e disseminar os frutos da rede.

Neste ano, a Renoi estará presente em pelo menos dois grandes encontros da área: o 29º Congresso Brasileiro de Ciências da Comunicação da Intercom, que acontece em setembro em Brasília, e o 4º Encontro da Sociedade Brasileira dos Pesquisadores em Jornalismo, em novembro em Porto Alegre.

Importância política

Então, a Renoi está consolidada e ponto final? Claro que não. Até agora, seus membros fincaram as bases que podem suportar um coletivo como esse, mas uma construção não se firma apenas assim. Passos fundamentais e emergenciais são a articulação dos pesquisadores em torno de projetos comuns de investigação; o fortalecimento dos nós ainda em consolidação, com apoio dos já estabelecidos; formalização da Renoi como uma rede de pesquisa frente às associações científicas da área e às agências de fomento; e o início de aproximações com redes semelhantes em outros países e continentes.

Para fazer valer sua importância política, pedagógica e contribuir efetivamente para o aperfeiçoamento das práticas, dos procedimentos e dos produtos jornalísticos nacionais, a Renoi ainda tem uma caminha pedregosa, longa, mas não menos empolgante e desafiante.

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Professor do curso de Comunicação Social – Jornalismo e do Mestrado em Educação da Universidade do Vale do Itajaí; responsável pelo projeto Monitor de Mídia e integrante da Rede Nacional dos Observatórios de Imprensa (Renoi)