No dia 12 de julho, os leitores da Tribuna do Dia, jornal de Criciúma, viram uma imagem que nem mesmo o fotógrafo responsável por ela havia visto quando revelou o filme: o atacante Márcio Goiano, do Figueirense, a poucos centímetros de cabecear a bola, prestes a fazer o primeiro gol contra o Criciúma, abrindo caminho para uma derrota do time local no Campeonato Brasileiro. O lance aconteceu, milhares de torcedores foram testemunhas dele, e mesmo o fotógrafo acompanhou a jogada. Entretanto, terminado o jogo, na redação da Tribuna, aconteceu uma outra jogada: a imagem, que registrou o lance e que merecia ir para a primeira página, trazia três jogadores disputando a bola. Mas a bola não havia sido ‘congelada’ pela fotografia. Insatisfeito, o jornalista que baixava a primeira página não hesitou: tascou na imagem uma bola, retirada de algum outro lugar. Em pouco minutos, e com o auxílio de softwares de editoração eletrônica e de tratamento de imagem, a Tribuna do Dia colocava na sua capa uma fotografia inédita até mesmo para o seu autor.
É evidente que há aí um problema ético: a manipulação de uma imagem jornalística, a interferência sobre um registro que se pretende ser do real. Mas há um outro aspecto torna a situação mais perigosa ainda: a foto em questão havia sido comprada da Agência RBS e seu autor, o repórter fotográfico Júlio Cavalheiro, nem foi consultado sobre a alteração do produto de seu trabalho. No mesmo dia, o Diário Catarinense estampou a foto, aberta com destaque em duas páginas de esportes. Ali no DC, a imagem vinha evidentemente sem a tal bola alienígena.
Com a inserção de um elemento que não fazia parte da paisagem, a Tribuna do Dia cometeu uma séria infração ética, ao manipular imagens e vender aos seus leitores uma foto montada, e provocou um incidente que pode se converter em processo na Justiça por desrespeito à lei de direitos autorais.
No dia seguinte, a terça-feira 13, a Tribuna trouxe uma errata, reconhecendo o equívoco, mas não o justificando: ‘A foto utilizada na capa da edição de ontem da Tribuna do Dia, cedida pelo Diário Catarinense, do fotógrafo Júlio Cavalheiro, foi modificada graficamente, ou seja, não havia a bola na cabeça do jogador Márcio Goiano. A fotografia original é esta que aparece ao lado’.
Claro que a mera publicação de uma nota retificadora não compensa o erro, nem reverte a situação. É compreensível que o editor da primeira página queria oferecer aos leitores uma foto ‘perfeita’, com uma boa composição, bem enquadrada e que flagrasse uma fração de segundo antes do gol. Mas a artimanha não justifica. Esse é um precedente perigoso que não só revolta a profissionais e leitores, como também atinge a credibilidade do jornal criciumense. Em nome da ‘foto perfeita’ não se pode montar outras; em busca da ‘melhor declaração’, não se pode inventar palavras para rechear uma fala. Essa linha não pode ser cruzada, sob pena de se sair fora do campo…
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