Um projeto pedagógico desenha o ideal de ser humano desejável para o professor que aprende-ensina, e para o aluno que, como revela a etimologia (aluno provém do latim alere: nutrir, alimentar, criar, sustentar, produzir, fortalecer), é quem se alimenta de palavras, idéias, símbolos, valores, cultura.
Que brasileiros queremos formar em nossas escolas e faculdades? Teoricamente, esta resposta já foi dada por documentos oficiais do MEC e de várias instituições educacionais. Todos querem formar indivíduos que explorem seus talentos, desenvolvam relações humanas sadias, aprendam por múltiplos caminhos e, inseridos no mercado de trabalho, vivam felizes para sempre.
Ora, quem, em sã consciência, não desejaria para seus filhos boa preparação profissional, postura ética, capacidade de enfrentar situações novas, criatividade para superar dificuldades, virtudes como a solidariedade, o respeito, a veracidade?
Todos podemos alinhavar bons desejos, fazer belos sermões, vislumbrar um mundo melhor, conclamar a humanidade em nome de novas ou velhas utopias. Todos podemos e devemos sonhar com uma educação verdadeiramente educadora… A dificuldade real está em tornar reais esses desejos, princípios e visões.
Na própria carne
Um projeto pedagógico para o Brasil requer o empenho de todos em projetar-nos, em lançar-nos efetivamente na concretização do que imaginamos haver de pedagogicamente mais inteligente, mais adequado, mais promissor. Em outras palavras, se é verdade que entre o que se diz e o que se faz existe um oceano, como denuncia um provérbio italiano, temos o dever de tornar exeqüível o eloqüente, atravessar este oceano, seja a nado, seja dentro de um submarino, seja numa canoa, do jeito que for.
Nenhum projeto pedagógico se realiza sem que as pessoas – pessoas concretas, os pais, os professores, os dirigentes, os que trabalham na mídia, os executivos –, sem que todos, de algum modo, assumam pessoalmente, como projeto vital, um projeto nacional.
Além de formular de modo claro (mesmo repetindo os belos sermões) um projeto pedagógico que realmente eduque, precisamos atentar para um axioma do grande filósofo Baruch de Espinosa: ‘O conhecimento do efeito depende do conhecimento da causa’. Isto é: devemos atinar com o porquê do que acontece, entender as causas dos efeitos e… dos defeitos de nossas ações!
Conhecendo as causas, descobriremos como refazer o que fizemos, e como fazer melhor o que tencionávamos fazer.
A pergunta é inevitável. Por que, apesar de tantas palavras de boa vontade, apesar de tantos professores e educadores interessados, continuamos a sentir na própria carne que a educação, parafraseando o título de um livro de Darcy Ribeiro, é uma calamidade?
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Doutor em Educação pela USP e escritor