Alguns biólogos famosos na sua época, como Ernest Haeckel no século 19, alguns geneticistas competentes como Ronald Fisher nas décadas 20 e 30 do século passado, de posse de informações incompletas sobre a Evolução por Seleção Natural, antes da grande síntese entre genética evolução de Haldane, Huxley, e Mayr, chegaram a conclusões racistas sobre o homem.
Mais recentemente, o grande entomólogo Edward O. Wilson, é um continuador dessa corrente de pensamento.
Haeckel, por exemplo, afirmava que a Política é uma extensão da Biologia, e concluía que os ‘melhores’ iriam ganhar a ‘luta pela sobrevivência’.
Para ele, os ‘melhores’ eram os nórdicos, e sabemos que Hitler incorporou esses conceitos ao seu ideário, com os resultados que todos nós sabemos.
Em função do conhecimento de genética e evolução obtido nos últimos 50 anos, digamos, desde a elucidação da estrutura do DNA e dos princípios básicos seu funcionamento, é possível reconhecer o que estava fundamentalmente errado no raciocínio de um Haeckel ou um Fisher, que induzia-os a expor suas idéias racistas (no caso de Haeckel, auxiliado mesmo pela fraude, como os ‘retoques’ que fez nas imagens do desenvolvimento de embriões).
Sabemos agora que, com alto grau de aproximação, os genes são programadores independentes entre si. Por exemplo, os genes que codificam par a melanina e programam sua síntese, são independentes dos genes que controlam os componentes químicos dos neurônios, sua densidade e suas interconexões com outros neurônios e com as células gliais.
Portanto, a cor da pele não tem relação genética alguma com esta capacidade mal definida que chamamos de ‘inteligência’, e que certamente não é igual à capacidade de passar nos vestibulares.
Consciência e solidaridade
Aos céticos, gostaria lembrar que no Projeto do Genoma Humano, completado em 2000, não se fez nenhuma classificação entre os Homo descendentes de escravos do Alabama, ou descendentes de escandinavos de Wisconsin.
Infelizmente essas informações não são em geral do conhecimento do público, nem mesmo da maioria dos seus representantes no Legislativo, o que pode endurecer os proponentes da versão racista do comportamento humano.
Neste sentido, penso que as propostas de cotas por ‘raça’ para entrada nas Universidades deveriam ser reexaminadas. Cotas que favoreçam as Escolas Públicas não sofrem, ao meu ver, essas restrições, desde que acompanhadas de grandes esforços para melhorar os estabelecimentos públicos.
Gostaria de lembrar que nos primeiros governos soviéticos, por proposta de Lenin, as Universidades russas adotaram cotas muito favoráveis aos filhos de operários e camponeses. São cotas que se assemelham às favoráveis às Escolas Públicas.
Parece certo que a diferença hereditária básica entre o Homo sapiens e seus ancestrais mais próximos reside na existência da linguagem e da consciência. Esta, definida como a percepção da diferença entre o ‘self’ e o ‘não-self’.
Para dar um exemplo tirado dos escritos do químico Linus Pauling, eu sei que quando me corto com uma faca, sinto dor. A consciência então nos diz que não devemos cortar os outros com facas, ou furá-los com balas.
A consciência, cujos mecanismos biológicos são muito complexos e não foram ainda elucidados, está na base da solidariedade , como perceberam naturalistas como Alfred Russel Wallace – descobridor independente de Darwin da Teoria da Evolução por seleção natural – e humanistas como Pyotr Kropotkin.
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Professor da UFPE