A sociedade brasileira só acredita em grampos e vazamentos – é o que se deduz da esdrúxula idéia do governo de gravar a reunião da cúpula da Polícia Federal e distribuí-la para a imprensa.
Se a intenção era mostrar que o governo não forçou o delegado Protógenes Queiroz a se afastar da Operação Satiagraha, o resultado foi oposto: a reunião durou três horas, a Polícia Federal só divulgou quatro minutos, descontínuos, que não provam coisa alguma.
Uma nota publica da PF junto com uma declaração escrita do delegado teriam mais credibilidade e não se correria o risco de serem ridicularizadas. A verdade é que o conceito em sânscrito de Satiagraha, ‘vontade e firmeza’, corre o risco de ser traduzido para o português como ‘enorme trapalhada’. Nunca, em tão curto tempo, cometeram-se tantos desatinos como neste caso.
O que deixou o Executivo constrangido não foi o conflito entre o presidente do STF e um juiz de primeira instância, foi o vazamento de um relatório protegido pelo segredo de Justiça que atingiu o staff da presidência da República.
Se desejasse mostrar firmeza, o governo deveria prontamente punir os autores do vazamento. Não o fez porque teria que punir com a mesma severidade aqueles que vazaram o dossiê com os supostos gastos do presidente FHC.
A mídia que se serve de vazamentos – porque não quer ou não sabe investigar – prefere passar ao largo de uma discussão crucial em benefício do interesse público.
O único a mexer-se até agora foi senador Expedito Júnior de Rondônia que resolveu fazer uma emenda ao projeto de lei para controlar abusos com grampos. Como é da base aliada, não quer castigar os vazadores, quer punir o veículo de comunicação que divulgar o vazamento.
Expedito Júnior está oferecendo um novo modelo de mordaça. Ao invés de obrigar o governo a respeitar o Estado de Direito, quer acabar com ele.