Uma questão importante e frequentemente lembrada quando se fala do uso da psicologia nos meios de comunicação de massa e da participação de psicólogos neste trabalho refere-se à ética. Qual o limite do trabalho com a subjetividade? Alguns pesquisadores afirmam que não é possível enganar as pessoas o tempo todo, mas num país que tem o segundo maior índice de analfabetismo da América do Sul isso fica bem mais difícil de acontecer.
A população não consegue observar o verdadeiro sentido da mensagem que está sendo transmitida através de notícias ou propaganda, o público já se acostumou a aceitar veementemente aquilo a que assiste no Jornal Nacional ou na ‘pura inocência’ das campanhas publicitárias, acreditando que tais campanhas se resumem apenas ao anúncio de algum produto.
Os comerciais sempre buscam mostrar um mundo perfeito em que homens e mulheres vivem felizes e sorridentes por estarem consumindo o produto anunciado; isso penetra na cabeça das pessoas que, a partir daí, passam a sentir a necessidade de adquirir aquele artigo na iminência de conquistar a felicidade e o glamour apresentados em determinadas campanhas – mesmo sabendo que isso é pura imaginação, elas sentem a necessidade de consumi-los.
A publicidade apresenta-nos, intensa e continuamente, a oferta do paraíso e da ascensão social, ao mesmo tempo em que a sociedade, através das restrições da cultura, torna remotas as possibilidades de que tal paraíso seja alcançado. Dessa forma, ao mesmo tempo em que o comercial exibe um mundo glamoroso, ele também nos dá a sensação de que nunca poderemos alcançar aquilo que é mostrado. Podemos adquirir o produto, mas sabemos que não é o fato de adquiri-lo que nos fará viver naquele mundo apresentado.
Sabemos que a publicidade tenta fugir de questões geradoras de conflitos na audiência. Dessa forma, ela passa ao público uma ilusão de perfeição no mundo e que, ao adquirir tal produto, o indivíduo conquistará a (falsa) perfeição. Essa questão encontra resistência devido às condições em que a grande maioria da sociedade vive num país de predominância pobre e que se ilude com as propagandas exibidas nos meios de comunicação de massa, o que aumenta a necessidade e a obrigação de obter aquele produto anunciado, mesmo sabendo que aquilo não lhe é necessário.
Veiculação da imagem
Este domínio que a propaganda tem sobre o público é muito bem retratado no filme Quanto vale ou é por quilo, onde se enfatiza o uso econômico da miséria, fazendo da denúncia seu negócio. Mas essa possível autofagia encontra como limite o choque do espectador, a proposta de retirá-lo daquele mundo mágico, da inércia confortante dos que criticam e apresentam uma nova proposta ou solução ao final.
A propaganda ideológica trabalha com conteúdos ideacionais, com crenças que procuram alterar o campo cognitivo das pessoas. Sabe-se que a opinião é garantida por três fatores: a ação do indivíduo em relação à sua crença, o afeto dedicado à crença e o próprio conhecimento de existência do objeto de crença.
Um exemplo claro de propaganda ideológica são os conflitos existentes no Oriente Médio, onde os países de procedência islâmica convivem com constantes ameaças e sua população é ‘tachada’, no Ocidente, como terrorista. Outro exemplo claro de propaganda ideológica é a causa do MST (Movimento Sem Terra), apelidado de movimento de baderneiros – e assim, causando a antipatia perante a sociedade, acostumada a acreditar naquilo que é exibido pelos grandes meios de comunicação e não sabe o verdadeiro propósito do movimento, preferindo julgá-los pelo que assim lhes foi apresentado na mídia.
A técnica de veiculação da imagem, desenvolvida principalmente pela linguagem cinematográfica e muito usada na propaganda ideológica, também é fonte de manipulação de ideologias e acontece com bastante frequência em tempos de guerra. Ainda que o termo ‘guerra’, no sentido estrito, refira-se à confrontação violenta entre dois ou mais exércitos, o certo é que as batalhas não se desenvolvem sempre no chamado ‘campo de honra’, mas também em terrenos não menos respeitáveis, como o da mídia, pelo rádio, pelo cinema e pela televisão.
Modelar opiniões e comportamentos
O cinema também é visto como veículo de ideias políticas, econômicas e sociais. Nos tempos em que a televisão não era o principal meio de doutrinamento das massas, a sétima arte era a arma mais poderosa para convencer um povo em guerra acerca daqueles princípios indiscutíveis que tornam inevitável a vitória e que permanecem sintetizados na absoluta superioridade técnica e moral sobre o inimigo.
As produções hollywoodianas são alguns dos maiores exemplos de manipulação da realidade, em especial aquelas cujo tema aborda as guerras. Podemos citar o filme Fomos heróis, que retrata a guerra do Vietnã. Na película, a ideia é passar para o espectador a imagem de que, apesar de sofrer duras baixas, o exército norte-americano saiu vitorioso do conflito (algo que qualquer pessoa que leu algum livro de história sabe que não é verdade).
Outro mecanismo utilizado pelos hollywoodianos é exibir em suas produções cinematográficas dois símbolos característicos dos Estados Unidos. O primeiro seria a bandeira nacional, que está presente em desenhos, seriados e filmes. Quando este símbolo não aparece, os personagens ‘heróis’ tornam-se protagonistas da trama vestindo roupas em vermelho, azul e branco, retratando as cores da pátria. O segundo símbolo que caracteriza aquela nação é a famosa Coca Cola, que aparece em dois de cada três filmes exibidos.
Assim, podemos dizer que os meios de comunicação de massa se tornaram armas poderosas para ludibriar as mentes das pessoas. Dessa forma, é possível afirmar que a mídia tem o poder de modelar opiniões políticas e comportamentos sociais, fornecendo o material com que muitas pessoas constroem o seu senso de classe, de etnia, de raça, de nacionalidade, de sexualidade e de tantas outras convicções.
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Estudante de Comunicação Social pela Universidade Estadual da Paraíba, Campina Grande, PB