A análise crítica das mensagens veiculadas pelos meios de comunicação de massa é uma cultura mundial. De olho nos abusos e erros cometidos pela mídia, o SOS-Imprensa, projeto do Departamento de Jornalismo da Faculdade de Comunicação (FAC) da Universidade de Brasília (UnB), atua diariamente na análise de notícias e programações. Entre as principais reclamações, estão a ofensa à dignidade e à reputação ou acusação falsa de crime.
Em 2006, a iniciativa completa 10 anos de criação e, além de ajudar na formação dos futuros profissionais da Comunicação, foi um dos fundadores da Rede Nacional de Observatórios de Imprensa (Renoi), ainda não institucionalizada, mas já em funcionamento. A rede foi criada em 2005, durante o 28º Congresso Brasileiro de Comunicação (Intercom), no Rio de Janeiro, e já reúne 17 instituições e 18 projetos em 10 estados brasileiros.
Ao todo, 37 pesquisadores e 250 estudantes, entre bolsistas e voluntários, trabalham permanentemente na análise da mídia. ‘O SOS-Imprensa foi um dos pioneiros da leitura crítica da imprensa no Brasil. Agora, podemos tocar experiências com outros projetos em vez de ficarmos isolados’, avalia o coordenador do projeto da UnB, o professor da FAC Luiz Martins.
Os quatro primeiros anos do SOS-Imprensa foram dedicados apenas à pesquisa. A partir daí, o projeto passou a orientar a população a respeito de direitos e procedimentos a serem adotados quando alguém se sente vítima dos meios de comunicação (veja serviço). De acordo com Martins, a intenção do SOS-Imprensa não é somente observar casos de erros, abusos e vítimas da mídia, mas identificar, por meio da pesquisa, qual teria sido o procedimento mais correto em cada situação. ‘Se olharmos apenas a partir do ponto de vista dos prejuízos já ocorridos, acredito que perdemos o melhor do assunto’, avalia Martins.
Ética na prática
Hoje, o SOS-Imprensa tem três bolsistas, 22 voluntários e um mestrando, além do coordenador. Depois dos anos iniciais, os resultados das pesquisas passaram a ser levados para a população por meio de projetos de extensão e seminários. Agora, eles também vão para dentro das salas de aula e são debatidos em disciplinas do curso de jornalismo, como Ética na Comunicação, Ética e Legislação em Comunicação e Tópicos Especiais em Comunicação. Os estudantes dessa última, inclusive, produzem o programa SOS-Imprensa, que vai ao ar a cada 15 dias na TV Cidade Livre (canal 8 da Net) e tem duração de 40 minutos.
‘Nesses 10 anos, chegamos à conclusão de que o pecado mortal da imprensa é acreditar nas informações sem checar, confiar cegamente nas fontes, principalmente, quando elas são de ‘fé pública’, como documentos de cartório’, diz Martins. Para o professor da FAC Eduardo Brito da Cunha, que ministra a disciplina Ética na Comunicação, o projeto é uma boa oportunidade para complementar a formação dos estudantes. ‘Os alunos já têm noção dos desafios éticos da profissão quando se matriculam na matéria, mas eles passam a ver as questões práticas do dia-a-dia e se aproximam mais da realidade com o SOS-Imprensa‘, avalia Cunha.
O estudante do 3º semestre de Comunicação Social da UnB Jairo Faria Guedes Coelho, 19 anos, é um dos integrantes do projeto. Ele atua na produção do programa SOS-Imprensa desde agosto de 2005 e, para isso, acompanha o noticiário diariamente para debater os assuntos que estão na mídia. ‘A cada dia, vejo o quanto é importante tomar cuidado ao transmitir informações. Quando entrei no projeto, nem mesmo refletia sobre isso’, afirma Coelho. Um dos casos estudados pelo grupo foi o da cantora mexicana Glória Trevi, que teria engravidado em uma das celas da Polícia Federal em Brasília.
Compromisso
No desenrolar dos fatos decorrentes dessa cobertura, o jornal O Globo foi condenado a indenizar um delegado da Polícia Federal. A matéria, redigida pelo jornalista Jailson Carvalho, falava sobre o caso Glória Trevi e, mesmo sem citar diretamente o nome da autoridade policial, atingia a honra do agente público ao possibilitar sua identificação como pai da criança, o que não foi comprovado.
‘Esse foi um dos casos monitorados do início ao fim. Essas questões são pedagógicas, pois servem para que não repitamos os mesmos erros’, analisa Martins. Mas os resultados dos trabalhos desenvolvidos pelo SOS-Imprensa não param por aí. A linha de estudos do material do projeto serve de inspiração para pesquisas dentro da UnB e de outras instituições.
As estudantes do 8º semestre de Comunicação Social da UnB Marília Santos, 21 anos, e Isabel Kenebel, 28 anos, por exemplo, desenvolvem o projeto de iniciação científica Jornalismo e Decoro Profissional, que também servirá de subsídio para as análises do SOS-Imprensa. Elas analisam as 40 primeiras edições do jornal Na Polícia e Nas Ruas e pretendem desenvolver uma cartilha de orientação para os profissionais de comunicação que trabalham na área de jornalismo policial.
Marília explica que o trabalho consiste na análise tanto de textos como da estética das publicações. Isso porque, diz ela, muitas fotografias ferem os direitos humanos. ‘Vemos que é possível fazer outro tipo de jornalismo de segurança pública, que não seja tão sensacionalista’, afirma. ‘Percebemos uma carência na universidade a respeito desse tipo de assunto. Não queremos fazer uma crítica a um veículo específico, mas à forma como esse tipo de jornalismo é feito’, explica Isabel.
Serviço
O SOS-Imprensa atende pelo telefone (61) 3307 2024 e pelo e-mail sosimprensa@unb.br. A equipe não presta serviço de advocacia, apenas de orientação a respeito de direitos e procedimentos a serem adotados por pessoas que se sentem vítimas dos meios de comunicação. Os interessados podem encontrar informações, como notícias e legislação referente à mídia, na página eletrônica www.unb.br/fac/sos
******
Estagiária da UnB Agência