A situação atual do processo de estágio realizado em boa parte dos cursos de jornalismo determina a perda de bons e talentosos jornalistas. É necessária e urgente a implantação, em todos os Estados, da regulamentação do estágio em jornalismo, conforme a proposta da Federação Nacional dos Jornalistas – Fenaj e com o endosso do Fórum Nacional dos Professores de Jornalismo, FNPJ. O processo atual está viciado e não colabora para o aprimoramento do jornalismo; serve apenas de mão-de-obra barata para as empresas. É importante deixar muito claro. Estágio em jornalismo é proibido, ilegal. Se denunciadas ao Ministério Público do Trabalho, as empresas poderão ser autuadas e multadas.
Regulamentação é imperativa
De outro lado, os cursos de jornalismo não podem mais fechar os olhos para essa realidade e tampouco a Federação Nacional dos Jornalistas pode ficar insensível à questão. Para os cursos de jornalismo, o estágio se tornou um obstáculo ao desenvolvimento de projetos, pesquisas e atividades de extensão. Estudantes de jornalismo interessados e com bom nível de aprendizagem muitas vezes são seduzidos pelas oportunidades de ‘estágio’. Essa situação seria, de certa forma, mais tranqüila. Contudo, o processo comprovou que muitos ‘estagiários’ estão nas redações única e exclusivamente por meio de ‘QI’ (quem indica). Muitos ‘estagiários’ não possuem as condições mínimas de trabalho, são despreparados e terminam por incorporar muitos vícios do trabalho cotidiano. E por não dominarem o processo de produção jornalística, ficam mais suscetíveis a essas situações.
Assim, temos estudantes sem qualificação ética, sem conhecimento suficiente para estarem em processo de estágio. Sabe-se, pelos próprios estudantes, que as redações estão cheias de ‘estagiários’. Estes não têm supervisão, têm problemas crônicos de texto, ganham muitos vícios e poucas virtudes. De outro lado, bons alunos ficam fora, não têm oportunidade. Por isso, é imperativa a implantação imediata da regulamentação do estágio. Essa regulamentação é realizada entre três partes: a universidade, a empresa e o sindicato. A empresa disponibiliza as vagas, a universidade seleciona os estudantes mais qualificados e o sindicato fiscaliza que o trabalho, seja supervisionado por profissionais da redação ou por professores designados para essa tarefa.
Todos saem ganhando
Sempre soubemos, em todas as áreas profissionais, o que é Estágio Supervisionado. Foi dessa forma institucionalizado o estágio acadêmico/profissional no país e criadas entidades especialmente para administrar o processo, como o CIEE e o Instituto Euvaldo Lodi, ligado ao sistema das federações das indústrias em cada Estado. Jornalismo é muito mais do que talento, é capacidade para a produção jornalística e tudo que isso implica. O estágio irregular prejudica a profissão, os profissionais e principalmente os estudantes, assim como o leitor, o consumidor de notícias. Só ganha o empresário que não se importa com a qualidade ou com a credibilidade, o mau empresário. É importante que os estudantes de jornalismo promovam debates sobre a questão do estágio, que, na área de comunicação, afeta somente o jornalismo. Os estudantes deveriam criar uma ENEJOR, a exemplo da Enecos, entidade estudantil que promove discussões sobre a melhoria dos cursos da área, para debater este e outros assuntos de interesse específico dos estudantes de jornalismo.
Com o estágio regulamentado ganham todos, pois bons estudantes de jornalismo, com excepcional ‘talento’, entendido como capacidade intelectual, criativa, profissional e acadêmica, terão oportunidade de experimentar o cotidiano das redações, promover a qualidade da formação e a qualidade do trabalho jornalístico, além de apresentar aos empresários excelentes e potenciais profissionais para contratação futura.
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Professor da UFRN