Convém prestar a atenção a estas frases, escritas em bom português há 200 anos. ‘O indivíduo que abrange o bem geral de uma sociedade vem a ser o membro mais distinto dela. As luzes que espalha tiram das trevas ou da ilusão aqueles que a ignorância precipitou no labirinto da apatia, da inépcia e do engano. Ninguém mais útil do que aquele que se destina a mostrar com evidência os acontecimentos do presente e desenvolver as sombras do futuro. Tal tem sido o trabalho dos redatores das folhas públicas.’
Explica-se: redatores das folhas públicas são os jornalistas e quem escreveu esta profissão de fé do jornalismo brasileiro foi o seu patrono, Hipólito da Costa, em 1808. Os oito ministros do STF que na quarta-feira declararam extinta a obrigatoriedade do diploma para o exercício do jornalismo não o reconhecem como profissão específica porque desconhecem este texto lapidar. E o desconhecem porque nunca foi publicado num grande jornal.
No ano passado, quando deveríamos rememorar e festejar juntos os 200 anos da fundação de uma imprensa livre, sem censura, os senhores de engenho da informação embargaram nossa festa.
O sequestro de tão importante página de nossa história foi, porventura, perpetrado pelos diplomados em jornalismo? A camisa de força foi imposta à nossa sociedade pelos jornalistas que acreditam na especificidade da sua profissão?
O chefe do Executivo novamente acusou a imprensa de denuncista. Seu aliado, o chefe do Legislativo, denuncia os ‘setores radicais da mídia’ como responsáveis por desvendar a clandestinidade e a ilegalidade que imperam no Senado. E o chefe do Judiciário compara jornalistas a… chefes de cozinha.
Na Dinamarca havia algo de podre, no Brasil estamos apenas diante de uma formidável sucessão de equívocos.