Thursday, 26 de December de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1319

Uma tradição ameaçada

O jornalismo, em particular o televisivo, é hoje a grande praça pública do país. A ágora eletrônica. Com certeza muito diferente da Praça de Discussões da Grécia antiga. Nela alguém era considerado cidadão não apenas quando se sentavam na ágora, um lugar de debates, mas quando lançava a mão da palavra apresentando seu projeto de como pensava que a cidade deveria ser organizada e governada. Essa é a verdadeira praça pública, a verdadeira participação.

A praça pública que tratamos aqui é do espaço público midiatizado através do qual a televisão, as emissoras de rádio e os jornais contribuem diariamente para a construção do real. Para a maioria das pessoas, especialmente num país como o nosso, no qual a primeira e muitas vezes a única informação disponível é aquela transmitida pela televisão, a mídia ocupa um espaço central na divulgação dos grandes temas nacionais no campo da economia, da política e da cultura.

Entendemos que a mídia, pela disposição e incidência de suas notícias, desempenha uma importante função no sentido de tornar público os temas sobre os quais o público falará e discutirá. Consideramos o jornalismo um campo fundamental para compreender como a realidade é construída cotidianamente. A mídia é uma forma atual de contato com o mundo. O que ela nos oferece é o presente social. Sem ela, o presente social é pobre e fica reduzido à família, aos vizinhos, ao trabalho, ao entorno.

Objeto específico

Nesse contexto parece-me inegável não reconhecer o Jornalismo como uma área central de conhecimento na sociedade contemporânea. Por isso, como jornalista e pesquisador deste campo, causou-me estranheza e espanto a divulgação recente da nova Tabela de Conhecimento divulgada pela Comissão CNPq/CAPES/FINEP que excluiu o Jornalismo como subárea da Comunicação.

Como bem observa a Sociedade Brasileira de Pesquisadores em Jornalismo (SBPJor), a retirada do status de subárea do Jornalismo contraria toda uma tradição legitimada ao longo de mais de 300 anos de pesquisa, quando da defesa da primeira tese de doutorado, em 1690, por Tobias Peucer, na Universidade de Leipzig, na Alemanha.

Da mesma forma que a SBPJor, espero que a Comissão respeite a tradição do nosso campo e, na Tabela Definitiva, mantenha o Jornalismo como subárea da Comunicação; não por um mero capricho, mas por reconhecimento a uma prática profissional com mais de quatro séculos, 300 anos como objeto específico de pesquisa, 100 anos como disciplina acadêmica.

É importante ressaltar que em todas tabelas internacionais, e há mais de 30 anos, o Jornalismo está como subárea na Tabela do CNPq em vigor. Tenho convicção e certeza que a Comissão CNPq/CAPES/FINEP não deixará de incluir o Jornalismo na nova tabela. É um campo de conhecimento de fundamental importância nas sociedades democráticas.

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Jornalista, professor do Departamento de Comunicação Social da UFPE e integrante do Conselho Científico da SBPJor