Já se foi o tempo em que os jovens ingressavam na universidade apenas para garantir um emprego melhor. Entre os empreendedores brasileiros, 25% são jovens – o que faz do país o terceiro com maior número de empreendedores entre 18 e 24 anos. E o número tende a aumentar, segundo a pesquisa 2008 da GEM – Global Entrepreneurship Monitor. São quase 4 milhões de jovens empreendedores – 15% da faixa-etária. Geralmente, prestam serviços especializados como informática, contabilidade e comunicação empresarial.
O consultor Leo Fraiman aconselha a investir na trabalhabilidade – a capacidade de prestar um serviço. ‘Trabalho, sempre tem. Mas os empregos formais estão em baixa’, lembra. Nesse cenário, Fraiman alerta que estudar em uma instituição ruim é perder tempo e dinheiro. ‘O diploma até pode abrir as portas para um emprego, mas não impede a demissão.’
Segundo a pesquisa GEM, o jovem empreendedor por oportunidade tem renda de três a seis salários e investe mais nos estudos, sendo que 25% estão cursando ou já terminaram a faculdade. Os mais ousados não esperam o diploma para abrir o próprio negócio. Especialmente em áreas de tecnologia e informática, que oferecem uma variedade de cursos e livros técnicos que permitem o aprendizado autodidata.
Qualidade e preço baixo
É o caso do designer Jeferson Cunha, 25 anos, que em 2006 abriu sua empresa de comunicação; do ator Humberto Gollab, 25, que iniciou um negócio de teatro-empresa; e André Bonetti, 32, que abandonou a engenharia para montar um negócio de expedições. Os três são universitários e empreendedores.
Logo após ingressar na faculdade de design, Jeferson Cunha descobriu que estava pronto para abandonar a CLT e abrir sua própria agência. O ex-patrão agora é cliente. Uma loja virtual oferece suporte em material visual para eventos. ‘Me sinto realizado e com uma super auto-estima. Quanto mais corro atrás, mais consigo realizar o que desejo.’
A descoberta da veia empreendedora veio aos 17 anos, quando consertou um chuveiro queimado de uma vizinha. ‘Achei que iria receber o valor da peça, mas ganhei R$ 50,00. Vi que poderia vender meus serviços e me dediquei em aprender algo que eu gostasse’, conta Jeferson. ‘Além da prática que eu já tinha, na faculdade aprendi muita coisa como, por exemplo, a fazer pesquisas de produtos para melhor atender a necessidade do cliente. O resto é estratégia. O menor preço com a melhor qualidade, ter variedade de serviços e cumprir prazos.’
A Matéria Prima já tem três funcionários e os investimentos em equipamentos não param. O último foi em uma máquina de decoração de parede, que está em alta. ‘E eu ofereço qualidade e preço baixo. Acredito que estou sendo abençoado por Deus’, diz o jovem empreendedor.
Com a faculdade, estarei menos defasado
Alguns procuram cursos pelo conteúdo que agregam, já sabendo que não vão exercer a profissão. E não hesitam em trocar de curso ou fazer a segunda ou terceira faculdade. É o caso do ator Humberto Gollab, que faz Jornalismo porque pretende montar um negócio cultural de teatro-empresa.
Humberto abandonou o curso de Marketing quando percebeu que não iria somar à carreira que já seguia. ‘Escolhi Jornalismo numa instituição inovadora e esse curso vai me ajudar a empreender. Eu acredito que os cursos são voltados para jovens que querem ser empreendedores, ser patrões’, afirma o estudante que já iniciou um projeto de teatro-empresa. ‘O curso tem me ajudado a organizar melhor as ideias, os conteúdos. Vai me dar mais segurança para quando eu precisar ser eu mesmo.’
Para André Bonetti, a mudança de profissão foi mais radical. Abandonou a Engenharia civil, na empresa da família, e ingressou em Jornalismo para aplicar, de alguma forma, em expedições ecológicas. Tanto ele quanto Humberto, escolheram a universidade pela grade curricular e a fama de motivar o empreendedorismo.
‘Eu já havia estudado Engenharia, em 1996’, conta Bonetti. ‘Mas descobri que o Jornalismo é que vai me fornecer as ferramentas que eu ainda não tenho para o negócio que eu quero montar, ligado a expedições.’
‘O que eu mais quero é ficar atual porque sei que as coisas nesse ramo mudam rápido e com o ensino dessa faculdade estarei menos defasado’, explica. Bonetti aproveita as férias e finais de semana para ir treinando o projeto ‘Corpo em Movimento’ – onde já treina como blogueiro.
Informações e pesquisa
A professora de Jornalismo Fábia Dejavite afirma que a tendência do setor é o empreendedorismo. ‘Com o aumento da importância da mídia, a maioria dos novos profissionais vai montar agências e assessorias de imprensa porque não tem lugar para todo mundo nas redações da grande imprensa’, destaca Fábia.
Aos futuros empresários, Ronaldo Koloszuk, 31, fundador do CJE – Comitê de Jovens Empreendedores da Fiesp, destaca a importância de se reunir quatro itens fundamentais para a implementação de qualquer projeto. São eles conhecimento, estrutura organizacional, relacionamento e dinheiro. E mais: ‘É preciso se associar a pessoas que possuem o que você não tem, para agregar, para somar’, diz o jovem empreendedor.
Quem deseja informações sobre empreendedorismo pode contar com o apoio de instituições como o Sebrae, a Fiesp e a Endeavor, grandes motivadoras do empreendedorismo jovem. Também vale pesquisar na internet e ler livros da área – de biografias a informações técnicas.
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Jornalista, São Paulo, SP