O jornalismo do futuro atenderá ao mercado, às pesquisas de mercado. Enganam-se os estudantes e os jornalistas maduros e românticos que acreditam na contratação da mão-de-obra qualificada nas universidades.
Sem a exigência do diploma de jornalismo, as empresas jornalísticas têm agora a oportunidade de contratar como repórteres e editores os que hoje já pautam as matérias e tanto se incomodam com o tom jornalístico: os profissionais do marketing. O jornalismo do futuro vai justificar-se como sendo o jornalismo baseado em pesquisas feitas com os consumidores de notícias e não será difícil provar que os consumidores estão cansados de matérias profundas e ‘chatas’ sobre problemas sociais, políticos e econômicos.
Nossos pautadores, aliados aos anunciantes, já vêm ressentidos desde a década de 1970 com esse jornalismo que não vende e destrói empresas de nome no ramo das comunicações. O que salva é o entretenimento, esse sim, um bom filão. Mas o velho e bom jornalismo está lá sempre teimando. Até a década de 1980 ainda podíamos ver nos expedientes que a lista de profissionais da redação era bem maior do que a de profissionais do comercial e do marketing. Aliás, comercial e marketing eram praticamente o mesmo grupo. Hoje podemos ver expedientes com cinco jornalistas e trinta profissionais ligados ao departamento comercial e o de marketing. Parece piada, mas é a crua realidade.
A ficha ainda não caiu
Não tem adiantado as demissões em massa dos jornalistas das antigas sendo substituídos por recém-formados inexperientes e mais facilmente levados no bico; não tem sido o bastante puxar para as assessorias de imprensa os pais de família que precisam afinal sustentar os filhos; não é suficiente promover seminários de boas relações entre os setores comercial, de marketing e as redações. Ah, os chatos das redações finalmente terão o que merecem, serão banidos de vez.
A ficha ainda não caiu, basta perceber o quanto a notícia da queda do diploma está sendo mal coberta pela mídia. Resta saber o que vai acontecer quando realmente os jornalistas começarem a ser substituídos por seus superiores do marketing – primeiro em cargos de chefia e mais tarde por estudantes recém-saídos das faculdades de marketing.
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Jornalista e educadora somática, autora de Bebês de Mamães mais que Perfeitas, Centauro Ed., 2008, Porto Alegre, RS