Este livro nasceu do encontro de um editor de livros – José Álvaro
– com um editor de jornal – Alberto Dines. Pertence a um gênero muito
em voga, particularmente nos Estados Unidos e na Europa. Como reportagem, mantém
vivo o seu caráter de palpitante atualidade. Como livro, traz um compromisso
de depoimento histórico a que não poderia faltar. Jornalismo,
Literatura, História – algo provavelmente híbrido, mas de comprovado
sucesso junto ao grande público a que se destina, e que não lhe
nega receptividade. Eminentemente jornalístico – um livro desta espécie
não passa, em última análise, de um prolongamento do jornalismo.
Os idos de março nasceu, assim no lugar adequado: na redação Nem por isso deixou de ser feito conscienciosamente, como é próprio Os oito capítulos que constituem Os idos de março |
tanto quanto possível,
uma visão panorâmica
e completa do que convencionalmente se chama de ‘os últimos
(mais recentes) acontecimentos político-militares’, depois
batizados pelo nome, ainda que polêmico e contestado, de Revolução.
Incruenta, segundo a nossa tradição, ou cruenta, uma revolução
oferece um único ângulo confortável aos que dela queiram
tomar conhecimento: é a leitura digestiva
de um bom livro (como este) numa excelente poltrona como certamente não
há-de faltar ao leitor. Então, o que foi crise se transforma numa
empolgante e fluente narrativa, que, neste caso, está tecnicamente composta
segundo o levantamento – e até certo ponto a perspectiva – de oito profissionais
experimentados e afeitos ao cotidiano da política nacional.
Pedro Gomes subiu a Minas, ouviu governador, generais e outras patentes para contar como e por que a revolta partiu da montanha. Carlos Castello branco rastreou com intimidade a trilha da conspiração militar. Num painel puxado à crônica, Araújo Netto ordenou o caos e as surpresas daqueles dias críticos. As ambiciosas e afoitas esquerdas estão retratadas, no dia-a-dia que precedeu o seu eclipse, por Wilson Figueiredo. O britânico Antônio Callado invocou Shakespeare para recompor e transfigurar o drama brasileiro que teve o seu primeiro ato montado por Jango-Hamlet no comício do dia 13 de março. Cláudio Mello e Souza voou até Roma para ouvir o depoimento de outro importante personagem da crise, que teve no Palácio Guanabara um dos pontos altos da tensão. Eurilo Duarte se incumbiu do ponderoso e expectante front paulista. E Alberto Dines – last but not least – escreveu o diário trepidante de dentro de seu posto de observação – a redação do Jornal do Brasil.
Em poucos dias, a grande reportagem ficou pronta. Para coordená-la, desbastá-la de possíveis ecos e redundâncias, os originais foram entregues ao escritor e também jornalista Hélio Pólvora.
Como testemunha ocasional desse mutirão lítero-jornalístico, sei que o trabalho foi árduo. Mas sei também que valeu a pena, como o leitor o verá. O mérito de Os idos de março ultrapassa os limites do jornalismo cotidiano, condenado ao efêmero, para ganhar caráter duradouro. Nem por isso deixa de ser uma grande e fascinante reportagem, de leitura amena, facilitada pelo planejamento orgânico a que obedeceu a sua concepção. Ao farto material reunido, juntou-se a colheita de uma ampla pesquisa, com muita coisa inédita, novidade que escapou à cobertura da imprensa, do rádio e da televisão. Tudo aqui aparece sistematizado e disciplinado de maneira inteligente e agradável neste livro que enriquece a nossa escassa bibliografia no gênero.
Os idos de março constitui leitura indispensável a quem quiser conhecer – e talvez julgar – o que foram, como nasceram e quem sabe como terminarão os últimos (e ninguém ousaria dizer os derradeiros) acontecimentos político-militares do Brasil. Publicando-o, o editor José Álvaro reafirma o caráter renovador de suas iniciativas e presta um serviço ao público leitor, muito justamente ávido de intimidade como os sucessos da grande e sobretudo da nossa ‘pequena História’ contemporânea.