Saturday, 02 de November de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1312

Minas: do diálogo ao front

– Governador, estou aqui para fazer a revolução. O senhor
aceita?

– Aceito, General.

Quem perguntava era o General Olímpio Mourão Filho, mineiro
de Diamantina, quatro dias depois de assumir o comando da IV Região
Militar, sediada em Juiz de Fora, em agosto de 1963. Quem respondia

era o sr. Magalhães Pinto,
governador de Minas Gerais. A cena se completava com a presença e a anuência
do General Carlos Luís Guedes, mineiro de São João d’El Rei
e comandante da IV Infantaria Divisionária.

– A partir desse dia conspiramos juntos até a deposição do Governo – conta o General Olímpio Mourão. – O Governador nos deu o seu apoio pessoal e a participação decisiva da Polícia Militar do estado. Ele foi o chefe civil da revolução.

Mineiro não é muito de fazer carreira militar. Os generais mineiros contam-se nos dedos. Mineiro é sobretudo de fazer política. Os políticos de Minas são incontáveis. Mas, por coincidência, o ex-Presidente João Goulart, assistido por um duplo dispositivo militar (Jair Dantas e Assis Brasil) e pelo Conselho de Segurança Nacional, foi descobrir dois generais mineiros que, por acaso, viam com maus olhos e mais a velha desconfiança mineira, o comportamento do Governo federal. E, por coincidência, os despachou para os dois principais comandos do Exército em Minas.

Casualmente, o Governador de Minas e o Comandante da Polícia Militar abrigavam pensamento idêntico ao de ambos os generais. E assim, os personagens da segunda conjuração mineira foram caprichosamente dispostos no tabuleiro da conspiração pelo próprio Sr. João Goulart, sob a chancela dos seus experimentados assessores políticos e militares.

Se o ex-Presidente não houvesse falado como falou aos sargentos, na noite de 30 de março, e se o calendário não marcasse para o dia seguinte o fim da lua cheia, talvez ainda hoje permanecesse no poder. Mas aconteceu o simultâneo desafio à hierarquia e à disciplina militares, aos conceitos de legalidade do homem e à irreformável lei dos astros.

Entre o discurso aos sargentos e a entrada do quarto minguante, o General Carlos Luís Guedes, que tomaria as primeiras iniciativas militares da revolução, dispunha apenas de 24 horas. Para decidir.

– E eu jamais começo alguma coisa séria no quarto minguante explica o General.

Com o fim da lua cheia acabou também o Governo do sr. João Belchior Marques Goulart.