Thursday, 21 de November de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1315

O meio ambiente na pauta do g1

(Foto: Bruno Kelly / Amazônia Real – 09/08/2020)

A cobertura jornalística sobre temas ambientais é incipiente, mas já foi mais frequente, quando o país recebeu o maior evento sobre meio ambiente da época, a Rio-92. Desde então, a temática se viu restrita à cobertura de desastres      ou abordagens superciais. Este diagnóstico de mídia analisou as matérias do g1  da editoria de Meio Ambiente do site. Foram analisadas as reportagens do dia 05/08 ao dia 09/08/2023. 

Durante os dias analisados, um grande evento foi realizado no Brasil, em Belém (PA), a chamada Cúpula da Amazônia. Este evento reuniu líderes dos oito países amazônicos que integram a Organização do Tratado de Cooperação Amazônica (OTCA):  Brasil,  Bolívia,  Colômbia,  Equador,  Guiana,  Peru, Suriname e Venezuela.

O g1 fez uma cobertura extensiva desse evento, com matérias publicadas desde o dia 05 de agosto, explicando o cronograma, os possíveis pontos de debate e o que entraria e caria de fora dos acordos. Nas matérias relacionadas ao tema, os principais conteúdos abordados foram as falas dos chefes de Estado e ministros (especialmente os do meio ambiente). Dos nomes em destaque, Sônia Guajajara, ministra dos Povos Indígenas; Marina Silva, ministra do Meio Ambiente; e o Presidente Lula são o  principal polo da política nacional, mas também houve muita repercussão midiática da fala da ministra do Meio Ambiente da Colômbia, Susana Muhamad.

Outro tema recorrente foi o discurso de Lula sobre o desmatamento zero na região, os acordos assinados pelos oito países e a falta de medidas mais concretas para problemas atuais latentes. Sônia Guajajara foi abordada ao palestrar sobre a importância dos povos originários para a preservação e conservação do bioma mundial.

A Petrobras também teve sua parcela de aparições no g1. Com todos os debates relacionados ao uso do petróleo, a notícia foi de que a estatal buscou a autorização do Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis – IBAMA para realizar uma pesquisa em um novo possível campo de petróleo no foz do rio Amazonas. Com isso, manifestantes se expressaram sobre o caso, assim como o presidente da Colômbia, Gustavo Petro, que tem um discurso anticombustíveis fósseis desde sua eleição. Também foi mencionado um caso de exploração de petróleo em um parque/reserva indígena no Equador e as consequências desse tipo de procedimento para a fauna e ora.

Todas essas notícias, apesar de diferentes, estão conectadas pelo assunto-chave  da  semana:  a  Cúpula  da  Amazônia.  Nessas reportagens  em questão, muitas vezes é falado sobre medidas contra desmatamento, tema que está contemplado na ODS 13, em especíco, a 13.2, que diz “Integrar medidas da mudança do clima nas políticas, estratégias e planejamentos nacionais”. 

É possível notar que a maior produção de matérias relacionadas ao meio ambiente pelo g1 se dá quando existe uma agenda nacional ou internacional de grande visibilidade.  Para além das notícias relacionadas à Cúpula, outras reportagens também foram   encontradas.

Outro texto analisado foi uma reportagem que recontou a história das baleias – em especial a baleia franca – no litoral do Rio de Janeiro, quando eram  caçadas para a obtenção de seu óleo e gordura, que mais tarde seria usada na construção civil de casas e para iluminar ruas no Brasil Colônia. Apesar da reportagem  aparecer na editoria de meio ambiente, não trouxe novas informações a respeito da atual situação da vida marítima do Rio de Janeiro; também não menciona nenhuma recomendação dos ODS da ONU.

Entre as reportagens sobre vida marinha, também foi analisada a que aborda a comercialização de barbatanas de tubarão, principalmente a exportação para a China, que é o principal consumidor do item  da famosa “sopa ostentação”. Foram apreendidos pelo IBAMA 28,7 mil toneladas de barbatanas que seriam exportadas ilegalmente para a Ásia. 

Nessa mesma linha, podemos conferir a matéria dessa editoria que cita o aumento da temperatura da água como fator de alteração do cortisol dos peixes, intitulada “Mais calor, mais estresse”. Isso evidencia a relação de águas mais quentes e os problemas enfrentados pela vida aquática. Essas informações são uma maneira de informar a população a adotar medidas para combater os impactos das alterações climáticas e proteger as águas, como explicado pela ODS 13 e 14.

A respeito do clima, foi analisada uma matéria sobre o fenômeno chamado Cold Blob  (Bolha Fria), uma área do Atlântico Norte, entre o   Canadá e a Groenlândia, que é mais fria que o resto do oceano. A anomalia é monitorada há dez anos e não se sabe ao certo o que ela realmente é, mas a teoria mais aceita é de que ela seria uma desaceleração em um sistema global de circulação oceânica, o qual carrega a água quente para o norte e a fria para o sul. O fenômeno é relacionado ao processo de mudanças climáticas globais.

Ainda sobre o ponto 13 da ODS, “ação contra a mudança global do clima”, o g1 explica que junho foi o mês mais quente do planeta e que sem a intervenção humana, esse tipo de fenômeno não aconteceria.

Considerando ainda a interferência do homem na natureza, o portal de notícias traz o levantamento da Organização do Tratado de Cooperação Amazônica – OTCA, que pontua que mais de quatro mil garimpos ilegais contaminam rios, comunidades amazônicas e despejam mais de 150 toneladas de mercúrio por ano na região. Essa situação afeta de maneira grave a  vida aquática do bioma, fator que é apresentado na própria reportagem. A abordagem não explicita diretamente os Objetivos de Desenvolvimento  Sustentável, mas mesmo assim segue elmente os seus pontos, como por exemplo: 14.1 “prevenir e reduzir signicativamente a poluição marinha”; 14.3 “ Minimizar e enfrentar os impactos da acidicação dos oceanos”.

Apesar de a maioria das matérias falar sobre o Brasil, também há material internacional, como o caso da reportagem sobre o incêndio em Odemira, Portugal. É abordada a emissão de um alerta pelo país, onde mais de 120 cidades estavam propícias a sofrerem incêndios orestais, por conta dos fortes ventos e altas temperaturas da região.

Mesmo que não aborde diretamente, a maioria dos casos citados, sejam problemas climáticos ou ameaças à vida aquática, inuenciam diretamente a vida terrestre. Como por exemplo, o aumento da temperatura (mudança global do clima), ocasiona maior taxa de cortisol aos peixes (problemática para a vida aquática) e, eventualmente, na ordem da cadeia alimentar, causará problemas aos outros animais que se alimentam desses peixes (prejudicando a vida terrestre). O mesmo ocorre na matéria do garimpo ilegal. Por  mais que se trate diretamente da contaminação dos rios e da vida,  ocasionalmente gerará prejuízo às pessoas que vivem no entorno do local.

O 15º ODS implica a proteção, restauração e promoção do uso sustentável  dos ecossistemas terrestres e um de seus pontos consiste em gerir de forma sustentável as orestas. Pensando assim, o g1 arma que a Floresta Amazônica perde cada vez mais a capacidade de resiliência e se torna motivo de preocupação para a comunidade cientíca. Anos de crescimento nos índices de desmatamento, degradação e queimadas na Amazônia zeram com que talvez o  bioma chegue em um ponto em que não haverá mais retorno.

Esses e demais fatos analisados permitem a compreensão da importância de um jornalismo com perspectivas ambientais e humanitárias.

Notas

Este artigo faz parte do conjunto de análises mensais sobre diversos veículos nacionais ou regionais produzidas pelo Observe, observatório de mídia da Universidade Federal do Mato Grosso do Sul, com foco nas coberturas e publicações a respeito dos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável das Nações Unidas, os ODS.

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Ana Beatriz Leal, Isadora Colete, Isadora Vasconcellos e Milena Melo são alunas do curso de Jornalismo da Universidade Federal do Mato Grosso do Sul