Sunday, 22 de December de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1319

Inovação mais veloz impõe “reinados” mais curtos

Nos próximos meses, vai se ouvir falar muito de Mark Zuckerberg e de sua criação, o Facebook, mas quanto tempo isso vai durar?

Como o Facebook, que protagonizou a maior oferta pública de uma empresa de tecnologia, várias companhias já pareceram insuperáveis em algum momento de sua história. Todas viram surgir rivais que as sucederam como símbolo de inovação global.

A constatação parece óbvia: à medida que os ciclos de inovação ficam mais rápidos, os períodos de domínio tecnológico das grandes companhias ficam mais curtos. A IBM, cujas raízes remontam ao fim do século XIX, só teve uma sucessora à altura em meados da década de 80, quando a Microsoft emergiu, colocando no pedestal o software e o PC, em vez dos grandes computadores empresariais. A companhia de Bill Gates dominou o cenário por pelo menos 20 anos, até que o Google se firmasse como a empresa de internet por excelência. O interesse despertado agora pelo Facebook, criado em 2004, mesmo ano em que o Google foi à bolsa, mostra que há um novo pretendente ao trono. É menos de uma década de diferença.

Todas essas companhias continuam relevantes, mas a pergunta é por que o líder de uma fase tecnológica não consegue manter essa posição na etapa seguinte.

Ao se tornarem referências globais de tecnologia – e o aval de Wall Street é um sinal dessa capacidade –, as empresas passam a ter obrigações legais que causam uma inevitável distração. A preocupação, antes concentrada no laboratório, é dispersada entre diversos públicos – o acionista, o analista de mercado, a imprensa especializada… Não alcançar uma previsão de resultados pode ser tão ou mais destrutivo quanto lançar um produto que funciona mal.

Com milhares de funcionários e milhões de consumidores, as companhias acabam se fixando em produtos já provados no mercado. O Windows e o Office continuam sendo as armas principais da Microsoft, da mesma maneira que o mecanismo de busca é o carro-chefe do Google.

A despeito de equipes gigantescas e orçamentos generosos destinados à pesquisa, essa camisa de força acaba permitindo o surgimento de companhias menores e muito mais ágeis, que captam melhor as necessidades do público.

Não é à toa que Zuckerberg adiou o quanto pode a estreia do Facebook no mercado de capitais.

Parece cedo demais para perguntar, mas a julgar pela história, qual será e quando vai surgir o próximo Facebook?

A decisão da companhia de pagar US$ 1 bilhão pelo Instagram, em pleno período de silêncio pré-oferta, dá uma pista do rumo atual das coisas. O Instagram, um aplicativo de fotografia, tornou-se um fenômeno de popularidade na web. O próprio Zuckerberg negociou o acordo de compra antes de apresentá-lo pronto ao conselho de administração do Facebook.

O americano Kevin Systrom e o brasileiro Michel “Mike” Krieger, cofundadores do Instagram, podiam ter recusado a proposta, mas concordaram em vender o negócio, menos de dois anos depois de tê-lo criado. Outras criações populares como o Skype não resistiram. O serviço de comunicação é hoje controlado pela Microsoft.

Esse tipo de decisão não surpreende. Muitos empresários da novíssima geração – a maioria com 20 e poucos anos de idade – pensam em vender seus negócios a grandes grupos, em vez de amadurecê-los. Essa tendência vem de anos. Em 2004, o Valor perguntou a seis empresas que integravam o ranking das 29 companhias mais inovadoras do mundo, segundo o Fórum Econômico Mundial (WEF, na sigla em inglês), quais eram suas perspectivas. Quatro delas disseram esperar ser compradas.

Zuckerberg tomou uma direção diferente. Em 2006, recusou ofertas bilionárias tanto da Viacom (US$ 1,5 bilhão) como do Yahoo (US$ 1 bilhão) para vender a companhia. E mesmo sob a oferta pública, cuidou de assegurar a si mesmo a maioria das ações com direito a voto, o que lhe dá amplos poderes na direção da empresa.

É verdade que ao rejeitar as propostas de compra, Zuckerberg correu o risco de sumir do mapa. Não fosse essa recusa, porém, o Facebook poderia ser hoje uma divisão meio esquecida nas engrenagens de algum conglomerado de tecnologia ou mídia.

Ironicamente, o surgimento do próximo Facebook pode depender da habilidade de o Facebook real – ou outro gigante tecnológico – perceber o potencial de alguma empresa de garagem, conduzida por um nerd de moletom.

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Principal fonte de receita, publicidade digital cresce no país

Bruna Cortez e Gustavo Brigatto

A oferta pública do Facebook traz à tona o desempenho da publicidade digital – principal fonte de receita da rede social e de boa parte das companhias de internet, incluindo grupos bem estabelecidos como o Google.

No Brasil, os anúncios digitais movimentaram quase R$ 3,4 bilhões no ano passado, segundo o Interactive Advertising Bureau (IAB), uma organização do setor. O levantamento, feito pela PricewaterhouseCoopers, leva em conta os serviços de busca, mas não as redes sociais.

A cifra representa um aumento de 37,3% em relação a 2010 e indica que a publicidade digital está crescendo mais rápido que a própria evolução da web no país. O número de internautas no Brasil tem aumentado em torno de 10% ao ano, com uma evolução anual média de 16% no número de computadores em funcionamento no país.

Apesar disso, a fatia da web no bolo publicitário total ainda é relativamente modesta. Mesmo crescendo a taxas expressivas, a internet representa 11% dos investimentos em publicidade no país, também de acordo com o IAB.

O risco, principalmente para as empresas de mídia tradicionais – como jornais, revistas e TV – é perder receita publicitária em seus negócios originais sem recuperar, em tempo hábil, recursos semelhantes com seus braços digitais de negócio. Mas mesmo para as companhias puramente de internet o desafio é grande: é preciso conquistar a confiança do anunciante – que não parece tão entusiasmado no Brasil, como mostram os números – e convencer as empresas de mídia, que fornecem o conteúdo ao qual a publicidade é associada.

A participação da publicidade na receita do Facebook vem caindo nos últimos três anos, mas continua, de longe, sua principal fonte de receita. A fatia, que era de 98% em 2009, caiu para 94% em 2010 e chegou a 84% em 2011, quando a receita total da empresa foi de US$ 3,71 bilhões. A redução tem sido compensada pelo aumento da receita com a venda de bens virtuais – como itens para jogos on-line – dentro da rede.

O Brasil representa o segundo maior mercado para o Facebook em número de usuários. São mais de 47 milhões de pessoas cadastradas no site. O país só perde para os EUA, onde existem 157 milhões de usuários. O Facebook abriu um escritório no país em agosto do ano passado, e “roubou” Alexandre Hohagen – que dirigia o Google na América Latina – para conduzir seus negócios no país. Passada a febre da oferta pública, quem sabe Mark Zuckerberg não venha ao país para tentar identificar como ganhar dinheiro em um mercado no qual sua criação é tão popular.

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[João Luiz Rosa, Bruna Cortez e Gustavo Brigatto, do Valor Econômico]