Sunday, 22 de December de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1319

Transição suave não poupa Yahoo de grandes desafios

Primeiro, a boa notícia: a mais recente nomeação de uma executiva-chefe pelo Yahoo foi administrada com o mínimo de caos. A chegada, nesta semana, de Marissa Mayer, experiente gerente de produtos do Google, não foi precedida pela habitual enxurrada de vazamentos e adivinhações. A má notícia é que, em vista do recente tumulto que atingiu o Yahoo, a desafortunada empresa de internet passou por excessivas tentativas de fazer esse tipo de coisa do jeito certo. Incluindo os titulares provisórios, Marissa é a quarta pessoa no posto de executivo-chefe em menos de um ano. Já era hora de o Yahoo, finalmente, promover uma transição suave.

Mas há uma maneira mais positiva de ver as coisas: a companhia pode, finalmente, ter um conselho de administração capaz de acertar os alvos. Se assim for, o crédito cabe a Dan Loeb, investidor ativista que recentemente abriu caminho para conseguir “na marra” um assento no conselho de administração. Loeb assumiu pessoalmente o controle do processo de nomeação, de acordo com três pessoas familiarizadas com a empresa. Ele insistiu em um “bloqueio” completo das discussões no conselho, do tipo que as empresas normalmente adotam ao negociar uma grande transação.

Em determinado momento, os membros do conselho, reunidos em um escritório de advocacia no Vale do Silício, na Califórnia, foram inesperadamente colocados em um ônibus e levados para outro local, sem aviso prévio, para se reunirem com Mayer, segundo uma pessoa próxima ao processo. As comunicações ficaram limitadas ao conselho de administração e à nova executiva-chefe e até mesmo altos executivos e consultores do Yahoo foram deixados no escuro. A equipe do próprio Loeb encarregou-se de anunciar a contratação.

Fluxo de caixa caiu mais de 40%

A capacidade de fazer algo de uma maneira tão harmoniosa tem um significado mais que simbólico. Basta lembrar a confusão criada pela Hewlett-Packard (HP) ao tentar dar um jeito em seu próprio conselho de administração – espionando jornalistas e seus próprios diretores –, para entender em que medida as coisas podem dar errado. Infelizmente para o Yahoo, o fato de finalmente ter uma diretoria mais profissional é o máximo, por ora, em termos de boas notícias.

Não existe uma solução fácil para o que aflige a empresa. Para que Marissa torne o Yahoo novamente relevante, ela precisa conseguir duas coisas que exigirão, simultaneamente, habilidades muito distintas: reestruturar os negócios tradicionais de web da empresa e, ao mesmo tempo, reposicioná-la na vanguarda do desenvolvimento da internet, que tende a rupturas.

E ela terá de fazer isso em um setor que, com a mudança para o acesso móvel generalizado, enfrenta um período de mudanças extraordinariamente rápido, até mesmo em comparação com seus próprios padrões de velocidade. É como trinchar um peru, fazer malabarismo com ovos e, ao mesmo tempo, andar de monociclo. O núcleo do Yahoo requer atenção imediata. No ano passado, o fluxo de caixa livre caiu mais de 40% em relação ao pico registrado em 2007 e a previsão é que cairá novamente em 2012.

Equipes de desenvolvedores

Proteger esse fluxo de caixa é a tarefa mais importante de Mayer. Por mais desagradável que seja, isso implica um grande corte de custos. Para que ela possa evitar as reestruturações sem fim que deixaram o quadro de pessoal oprimido e desmoralizado (o Yahoo assumiu encargos de reestruturação em cada um dos últimos cinco anos), isso precisa acontecer rapidamente.

A principal razão para a contratação de Marissa, porém, está em seu histórico de supervisionar a criação de alguns dos serviços mais conhecidos da web: do [serviço de correio eletrônico] Gmail aos agora familiares resultados “universais” de buscas no Google. Apesar de seus apenas 37 anos de idade, os 13 anos passados no Google a qualificam como uma verdadeira veterana de internet. Como o principal desafio para o Yahoo será trazer de volta o talento necessário para insuflar nova vida em seus serviços, Marissa, como engenheira mais destacada no Vale do Silício, tem muitos pontos a seu favor.

Mas não será fácil. A reputação desbotada do Yahoo – e os altos e baixos da reputação da própria Marissa como gestora, merecidos ou não –, obrigará a empresa a pagar um ágio para formar as equipes de desenvolvedores que serão necessárias, bem como os novos e promissores serviços não conseguiu gerar internamente.

Muita hora-extra

Pelo menos, Marissa terá à sua disposição duas coisas pelas quais anseiam promissoras companhias novatas de tecnologia: um público medido em centenas de milhões de usuários e um saldo financeiro na casa dos bilhões. O sucesso dependerá de sua habilidade para traduzir esses ativos em talento e potencial de crescimento.

Se os acionistas do Yahoo terão estômago para aguentar o que têm pela frente é outra questão. Presidida por um conselho de administração mais propenso a incidentes, a empresa considerou, no fim do ano passado, vender uma fatia minoritária a companhias de participações para bancar uma iniciativa de aquisições. Os investidores se revoltaram.

Mais cedo ou mais tarde, para Marissa, haverá apenas uma medida que conta: o Yahoo precisa gerar mais que os atuais US$ 6,50 de receita anual por consumidor – são 700 milhões de pessoas – que usa um de seus serviços todo mês.

O novo conselho de administração de Marissa Mayer terá que fazer muita hora-extra para dar a ela o apoio necessário para enfrentar o que está pela frente.

***

[Richard Waters, do Financial Times, de San Francisco]