Suas marcas podem parecer mais familiares em um site ou pacote de software, mas os nomes e logotipos da Amazon, do Google e da Microsoft estão aparecendo cada vez mais em equipamentos, à medida que essas companhias perseguem suas ambições na área de mobilidade.
Não contentes em fornecer apenas a mídia, serviços e software para os smartphones, tablets e notebooks da atualidade, as três estão desenvolvendo seus próprios dispositivos e modelos como o smartphone Nexus e os tablets Kindle Fire e Surface.
O imperativo é assegurar um maior grau de controle e influência em uma categoria em forte crescimento – tendo em vista que, ao contrário do que ocorreu na era do PC, a experiência dos usuários de serviços baseados na web são influenciados não apenas pelo desenho do site, mas também pelo peso, tamanho e design do dispositivo móvel que detêm em suas mãos.
O equipamento no passado importava pouco para os líderes da internet, pois o PC tornou-se uma commodity. A intensa competição entre os fabricantes significava margens de lucro muito baixas para o gosto da Dell, da Hewlett-Packard (HP) e da Acer.
Por outro lado, a Microsoft, juntamente com a Intel, arrancou uma grande fatia dos lucros da indústria por governar sobre um mundo do PC “horizontal” – elas forneciam o software e os chips que impulsionavam a plataforma aberta da web, sobre a qual Google e Amazon construíram seus negócios.
Com a ascensão da internet móvel, no entanto, esse modelo está se desintegrando e companhias de internet têm de repensar o seu lugar no mundo, o que tem provocado uma revisão na maneira como as companhias veem os equipamentos.
Modelo vertical
A Apple é, até agora, a única companhia de tecnologia que aperfeiçoou um modelo alternativo fechado de projetar software e equipamento próprios para dispositivos móveis, mas os outros estão lutando para se recuperar.
A rentabilidade da Apple também desafia a visão convencional de que equipamento é um negócio de margem baixa. No primeiro trimestre deste ano, a margem operacional da Apple ultrapassou a da Microsoft pela primeira vez. A Microsoft agora parece estar seguindo o exemplo da Apple com seu tablet Surface, que os analistas esperam ser vendido a um preço mais alto.
Mas, ao contrário de marcas tradicionais de equipamentos, os novos entrantes geralmente consideram que fazer e vender seus próprios dispositivos como apenas um meio para atingir um fim.
No caso da Microsoft, analistas dizem que sentiram necessidade de convencer os consumidores sobre as capacidades do Windows 8 – talvez o lançamento mais importante da história do sistema operacional –, apresentando-o em tablets que utilizam chips baseados na tecnologia da Arm e aqueles com os chips da Intel em duas versões do Surface a serem lançadas ainda este ano.
Wayne Lam, analista de comunicação sem fio da empresa de pesquisa IHS, diz: “Para a Amazon, o equipamento está lubrificando as engrenagens do comércio. Seus produtos [os dispositivos Kindle] são vendidos com uma margem muito baixa e sua filosofia consiste em conseguir um produto com um custo mínimo [que possa fazer dinheiro a partir das compras dos consumidores de aplicativos e conteúdos] durante sua vida útil.”
Carolina Milanesi, analista de dispositivos de consumo do Gartner, diz: “Para o Google, trata-se do acesso ao mercado de massa. O Google gera receita a partir do grande número de pessoas que estão usando a pesquisa e os seus outros serviços, então se isso tem sido limitado pelo equipamento que os consumidores podem usar, isso limita a sua oportunidade de receita.”
O Google tem sido bem-sucedido na expansão do mercado de smartphones com o sistema operacional Android, mas nem tanto em tablets, onde a participação de mercado do iPad tem sido duramente prejudicada. Daí a motivação para o primeiro tablet do Google lançado no mês passado, o Nexus 7, um dispositivo de US$ 199, de 7 polegadas, que tem sido muito elogiado pelos críticos pela sua riqueza de recursos, design atraente e preço baixo.
Ao entrar no mercado de equipamentos, as companhias de internet ganham força para dominar seus parceiros atuais, os fabricantes de dispositivos, que podem, como resultado, acabar alijados. JT Wang, executivo-chefe da Acer, quarta maior fabricante de PCs do mundo em vendas externas, afirmou ao “Financial Times” em uma entrevista recente que ele solicitou que a Microsoft “pensasse duas vezes” sobre o Surface.
Mas, com consumidores acessando cada vez mais a internet de dispositivos móveis, a necessidade de atendê-los nesse território supera todas as reservas que as companhias de internet poderiam ter para entrar na área de equipamentos. Lam diz que modelos de negócios tradicionais e relações com a cadeia de suprimentos não se aplicam no celular – é o relacionamento com os clientes que é fundamental.
Milanesi disse: “A HTC e a Samsung podem estar tão chateadas quanto queiram, mas para onde elas vão? Elas investiram muito no Android e não existem realmente muitas outras opções fora se você é um fornecedor de equipamentos.”
Nem todas as companhias de internet estão convencidas de que precisam ter seu próprio equipamento. Um telefone do Facebook tem sido alvo de rumores, mas Mark Zuckerberg, executivo-chefe da rede social, disse a analistas no mês passado que ele não considerava que isso faria muito sentido e preferia uma integração mais profunda com sistemas operacionais para smartphones já existentes.
Segundo Lam, “a mobilidade está crescendo, então talvez haja um fogo ardendo na administração do Facebook para conseguir alguma coisa lá fora, mas eles têm que encontrar o relacionamento certo com as operadoras e encontrar o modelo de negócios para torná-lo atraente para os consumidores.”
Tim Bajarin, um consultor industrial da Creative Strategies, afirmou que levaria algum tempo para que o Google e outros sejam capazes de desenvolver juntos produtos com a consistência de design da Apple, aplicativos atraentes e serviços de conteúdo.
No entanto, Google, Microsoft e Amazon têm potencial de adotar o modelo vertical da Apple que combina software, serviços e equipamento para obter o controle total sobre o design e a função dos dispositivos móveis futuros, de acordo com Richard Doherty, diretor da consultoria de tecnologia Envisioneering Group. “Isso mudaria consideravelmente o campo de jogo”, afirmou ele.
Relação abalada
Especialistas em equipamentos temem que esse modelo de parceria fique no passado.
No início de 2010, o Google pediu à HTC, de Taiwan, para desenvolver o Nexus One, um celular emblemático destinado a apresentar o então relativamente novo sistema operacional Android. Foi a primeira de uma série de colaborações entre o Google e os fabricantes de equipamentos, desde os laptops Chromebook até o último tablet Nexus 7, fabricado pela Asus, escreve Sarah Mishkin, em Taipé.
Se essas parcerias foram um sucesso é uma questão de debate. O Nexus One, apesar de boas críticas, vendeu muito pouco. O Google criou uma loja on-line para vender o Nexus, apenas para fechá-la alguns meses após a sua abertura. Da mesma forma, as versões posteriores do smartphone Nexus foram muitas vezes ofuscadas por modelos próprios de fabricantes de celulares. No entanto, analistas dizem que o primeiro projeto, pelo menos, era mutuamente benéfico.
“O Google era um novato em smartphone, então ele pôde adquirir muita tecnologia e experiência com a HTC”, afirmou Joey Yen, analista da IDC. Para a HTC, produzir o celular do Google elevou o seu perfil.
Mesmo que o Nexus One não tenha vendido muito bem, a popularidade com o sistema Android a ajudou a liderar o mercado por mais de um ano. “Quando o Android foi lançado, a HTC teve tempo para ser o primeiro motor de arranque do Google, por isso beneficiou-se muito”, disse Aaron Jeng, analista da Nomura, em Taipé.
Mas há preocupações entre os fabricantes de equipamentos de que, em vez dessas parcerias, os fabricantes de software, como Google ou Microsoft, estejam cada vez mais interessados em competir com os fabricantes de dispositivos diretamente. A decisão da Microsoft de lançar sozinha o seu tablet Surface já provocou fortes críticas de JT Wang, da Acer, apesar da relação estreita entre as duas empresas anteriormente.
O Google, que afirmou buscar a colaboração em vez da concorrência com os fabricantes de equipamentos, causou alarme no setor ao adquirir a Motorola Mobility. “Acredito que, se o Google realmente decidir entrar no negócio de equipamento sozinho, isso será feito com a marca Motorola”, afirmou Tim Bajarin, consultor da Creative Strategies.
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[Chris Nuttall e Sarah Mishkin, do Financial Times em San Francisco e Taipé]