Há um relançamento badalado na internet: é o Digg.com. O nome pode soar desconhecido para boa parte dos leitores brasileiros. Mas, lançado em 2004, chegou a ser um dos sites mais badalados da web social nascente. Seu fundador, Kevin Rose, foi capa de inúmeras revistas. Poderia ter sido um Mark Zuckerberg, não foi. O Digg foi vendido por US$ 500 mil no início do ano para um grupo de investidores, embora tenha tido avaliações na casa das várias dezenas de milhões de dólares, noutros tempos. Sua história é boa reflexão. Ensina muito sobre como a web mudou e como a ambição errada pode destruir um bom produto digital.
Tanto o Digg original quanto o novo, relançado, é um agregador social. Um site no qual uma grande comunidade de usuários sugere links para artigos interessantes internet afora. No conceito inicial, a seleção era inteligente. Todo usuário tinha um cadastro. Cada artigo novo sugerido podia receber votos dos outros usuários. Aqueles com mais votos eram levados à primeira página. Assim, na capa, Digg listava aquilo que o coletivo de seus leitores consideravam mais interessante para ler ou ver na internet.
Havia um pulo do gato: o voto de um não carregava o mesmo peso do voto de outro. Quem mais sugeria artigos que ganhavam espaço na primeira página tinha voto com mais peso. A ideia é que algumas pessoas têm um olhar que percebe com mais facilidade o gosto de muitos. Posto de outra forma, uns têm a capacidade de ter um gosto mais comum do que outros. Digg, na época em que o Twitter estava nascendo e o Facebook não passava de projeto, foi um dos sites mais visitados da internet.
Uma grande reformulação
Nas últimas semanas, Rose começou a analisar publicamente seu passado no comando do site que criou e ajudou a afundar. Gravou uma série de vídeos, que publicou no YouTube e divulgou no site ReddIt, outro agregador social, tradicional e antigo concorrente de sua cria.
Kevin é um homem muito rico. O dinheiro que fez com Digg usou para investir em ideias que considerava boas e estavam no início. Um caso é o Twitter. Outro, a Zynga, maior inventora de jogos no Facebook. É também uma figura carismática no circuito São Francisco, Vale do Silício. Namora mulheres bonitas, foi âncora de um programa popular entre nerds chamado Diggnation. Hoje, é empregado da Google. Seu trabalho: descobrir companhias interessantes para nelas investir.
O Digg cresceu muito, a ponto de ter centenas de servidores e mais de 80 funcionários bem pagos. Aí, ao longo de 2009, começou lentamente a perder audiência. O público que buscava notícias selecionadas pela comunidade da rede começou a deixar o site e migrar para Twitter e Facebook. Kevin Rose considera que cometeu seu maior erro nesse ponto. Em vez de se concentrar em um conjunto de leitores fiéis e encarar o fato de que, com a maturidade das redes sociais, a maneira de se informar na rede havia mudado, eles acharam por bem fazer uma grande reformulação e recriar o site. O público um dia fiel o deixou, a nova audiência de massa não veio.
Um agregador social turbinado
O Digg, explica Kevin, poderia ter sido um negócio extremamente rentável, com uma equipe pequena e enxuta. Novidades viriam devagar, mas haveria um público grande o suficiente para sustentá-lo. A tática de partir para as audiências gigantescas alienou quem gostava dele, sem tirar público do Facebook.
Site vendido, Kevin seguiu para a Google, na qual outro de seus negócios foi parar. Enquanto isso, os novos donos do Digg foram à internet perguntar o que a comunidade esperava. Ouviram muito, tiraram o Digg do ar e o puseram de volta após seis semanas, com algum alarde. O novo Digg tem estrutura enxuta, poucos funcionários. É um site dedicado a quem o frequenta e colhe votos para o que há de mais interessante na web da mesma forma, com uma diferença. Além dos votos dos leitores, leva em conta também os links mais populares no Twitter e no Facebook. Agregador social turbinado. Há, também, uma mudança na cara. O novo Digg tem muitas fotos, todas grandes. Eles rapidamente explicam: a maior mudança na web, nos últimos poucos anos, é que as pessoas clicam mais atraídas por imagens.
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[Pedro Doria, do Globo.com]