Todo final de ano, centenas de milhares de listas com as maiores tendências para os 12 meses seguintes sobre um determinado segmento começam a se avolumar de uma maneira consideravelmente rápida e contraditória. Tais listas não representam de maneira fiel o que virá a seguir, mas são estruturadas em apostas de profissionais e baseadas, algumas delas, em profundos estudos de mercado.
No campo da comunicação, as listas mais comuns são relacionadas ao marketing ou à comunicação digital em geral. Pouco se fala em jornalismo digital fora dos veículos especializados ou setores acadêmicos referências em estudos sobre o tema. Aqui, logo abaixo, segue mais uma dessas tantas listas, com alguns palpites sobre o que podemos ver durante o decorrer de 2013 no jornalismo digital.
O Brasil é referência mundial no consumo de smartphones e tablets, mas ainda deficiente em mobilidade de conteúdo. Em 2013, os grandes veículos internacionais irão apostar de uma maneira colossal no formato móvel e instantâneo da notícia. A integração com as redes sociais fará com que essa aposta seja acelerada, ganhando gás e se estruturando quase por imposição do mercado: “ou é móvel ou não te consumirei”. Os aplicativos serão os grandes responsáveis pelo sufocamento da notícia de web e da ascensão da notícia de aplicativos.
Profissionalização e precarização dos blogs
O social, neste caso, não se refere às redes sociais, mas sim, ao fato da participação efetiva de alguns setores que passarão a ter uma influência ainda maior na produção da notícia. O jornalismo como um todo tende a ser mais humano, ainda mais voltado para o leitor, oferecendo singularidade, particularidade, customização e se integrando de uma forma ainda mais concreta com a sociedade.
Programação, empreendedorismo, administração, design, branding e gestão irão se firmar como as novas disciplinas do jornalismo digital. As novas facetas do jornalista o obrigam a percorrer de forma transversal e quase sem limites por áreas que muitos ainda insistem em dizer que não pertencem aos profissionais da notícia. A discussão sobre o diploma deve esfriar e o profissional completo, robusto e versatile, terá mais visibilidade do que um diploma.
A explosão de blogs independentes com caráter profissional marcarão o chamado jornalismo independente. Quem não quer ter sua imagem vinculada com algum veículo já firmado ou tem um ponto de vista próprio para apresentar irá investir e apostar de maneira mais estruturada em suas mídias. Porém haverá uma inundação de blogs parasitas e com conteúdo tão precário que irão obrigar que os blogueiros profissionais, independentes ou da grande mídia, assim como os leitores, redobrem a atenção naquilo que é consumido como informação noticiosa.
Dados, dados e dados
O tão aclamado jornalismo cidadão ou jornalismo participativo continuará ganhando modelos e moldes mais estruturados. O surgimento e o reconhecimento de mídias fora dos grandes conglomerados facilitarão com que os usuários acabem por complementarem um canal de notícias, porém com um peso maior e influente e não apenas em um setor restrito e apagado como uma simples seção de comentários. O leitor irá, sim, participar da construção da notícia.
A integração com as redes sociais, aplicativos, marketing, leitores, segunda tela, TV digital, smart TV e mais uma séria de outros fatores deixarão o jornalismo digital com uma cara que vai além de jornalismo. Quase não perceberemos o que é jornalismo e o que não é. Ele estará presente e tão presente na forma de bits e bytes que o infoentretenimento ganhará uma maturidade considerável.
Impressos do mundo todo continuarão a perder espaço até serem encerrados. O custo para manter publicações impressas poderá e será, em alguns casos, revertido na qualidade das notícias e na formação do profissional. Demissões irão continuar, canais independentes irão nascer ou se reafirmar e o jornalismo ainda não se sentirá confortável com os modelos de negócios existentes. Mais e mais veículos começarão a cobrar pelo conteúdo e 2013 será marcado, de vez, pela proximidade do termo “bom conteúdo” com “conteúdo restrito”. Ou seja: conteúdo bom é conteúdo pago.
Em sociedades mais desenvolvidas o jornalismo de dados irá oferecer um serviço ainda mais completo ao cidadão, reafirmando que a tecnologia de informação faz parte do jornalismo digital. Em países mais carentes, como o Brasil, modelos internacionais serão copiados mais uma vez e sem surtir um impacto significativo, já que a densa concentração de veículos não os obriga a investirem em inovação e, com isso, em ousadia.
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[Cleyton Carlos Torres é jornalista, blogueiro e editor do Mídia8!. É pós-graduado em Assessoria de Imprensa, Gestão da Comunicação e Marketing e pós-graduado em Política e Sociedade no Brasil Contemporâneo]