A Google Inc. está usando uma tática polêmica para desafiar a Facebook Inc.: exigir que as pessoas usem a rede social Google+.
O resultado é que uma pessoa que crie uma conta para usar o Gmail, YouTube e outros serviços da Google, incluindo o site de avaliação de restaurantes Zagat, estará também entrando nas páginas públicas do Google+ que podem ser vistas por qualquer pessoa on-line. O Google+ é rival do Facebook e uma das iniciativas recentes mais importantes da empresa à medida que ela tenta gerar mais receita com a publicidade on-line.
Os usuários do Google+ são encorajados a criar “círculos” digitais de amigos e passar o tempo interagindo com eles no site Google+, semelhante ao Facebook.
O impulso vem de cima. O diretor-presidente da Google, Larry Page, vem buscando formas mais agressivas de levar as pessoas a usar o Google+, dizem duas pessoas familiarizadas com o assunto. A Google criou o Google+ em grande parte para impedir a Facebook de dominar o negócio de redes sociais.
Tanto a Facebook quanto a Google geram a maior parte de sua receita com a venda de anúncios. Mas a Facebook tem algo que a Google quer: o site Facebook pode associar as atividades on-line dos usuários a seus nomes reais e também sabe quem são os amigos dessas pessoas. Executivos de marketing dizem que a Google vem lhes dizendo que uma maior integração do Google+ com seus muitos outros produtos permitirá que a Google obtenha este tipo de informação e possa direcionar aos usuários anúncios mais relevantes (e, portanto, mais rentáveis).
Alguns usuários de serviços da Google se surpreendem quando ficam sabendo como essa integração pode ir longe. Sam Ford, de 26 anos, um suboficial da Marinha americana, diz que se inscreveu no Google+ em seu smartphone porque queria enviar automaticamente novas fotos para uma pasta no Google+ que ele mantém privada. Pouco tempo depois, diz, ele se surpreendeu ao ver que seu perfil na página Google+, que inclui seu nome, foi associado a uma resenha de software que ele escreveu recentemente na loja virtual Google Play.
A Google está “exagerando na tentativa de competir com a Facebook e, se as pessoas não estão compartilhando de boa vontade, eles vão forçá-las a fazer contra a vontade”, diz ele.
Página pública
Uma porta-voz da Google disse que a empresa começou a exigir o uso de perfis do Google+ para quem escreve comentários para melhorar a qualidade das críticas, que era baixa quando as pessoas podiam deixar comentários anônimos. A mudança também permite que as pessoas vejam as resenhas de seus amigos, diz ela.
Um porta-voz da Facebook não quis comentar.
Os executivos da Google dizem que haverá mais integração pela frente. “O Google+ é o Google”, diz o vice-presidente Bradley Horowitz. “Os pontos de entrada para o Google+ são muitos, e há mais integrações a cada dia.”
A iniciativa tem sido polêmica dentro da própria Google. Alguns empregados a consideram uma tentativa desesperada de recuperar o terreno perdido para o Facebook, enquanto outros acreditam que é o melhor caminho para a empresa ser relevante na era das redes sociais, dizem pessoas a par do assunto.
Cerca de um ano atrás, Page, o diretor-presidente, defendeu a ideia de exigir que os usuários do Google entrem em suas contas do Google+ simplesmente para ter acesso a resenhas de empresas, dizem as pessoas. Executivos da Google o persuadiram a não seguir essa estratégia, temendo que isso pudesse irritar os usuários do motor de buscas Google, dizem as pessoas. Uma porta-voz da Google não quis comentar sobre o assunto.
Nos últimos meses, a Google tem continuado com outras formas de integração. No fim de 2012, por exemplo, a empresa começou a exigir que as pessoas que queiram postar seus comentários sobre restaurantes e outras empresas o façam usando seus perfis no Google+. A mesma regra se aplica para comentários sobre “apps” de software para smartphones, além de produtos físicos, obtidos através do Google.
Links para o Google+ também aparecem nos resultados do motor de buscas Google envolvendo pessoas e marcas que tenham uma conta do Google+.
Vic Gundotra, o diretor encarregado do Google+, diz que não tem visto muita controvérsia interna. “Havia mais resistência há dois anos”, quando o projeto não era bem compreendido internamente, diz ele.
A integração tem ajudado a ampliar o uso do Google+. A Google informou no mês passado que 235 milhões de pessoas utilizaram funções da Google+, tais como clicar no botão “+1”, semelhante ao botão “Like” do Facebook, através de sites da Google, em comparação com 150 milhões no fim de junho.
Ao usar seus principais sites para dar impulso ao Google+, a empresa tem demonstrado o quão longe está disposta a ir na batalha com a Facebook para ser a principal porta de entrada para usuários da internet se comunicarem uns com os outros e com empresas.
Como usar o Google+ requer que a pessoa entre em sua conta Google, a empresa poderá mesclar massas de dados sobre os hábitos de busca de cada usuário individual e os sites que visitam com suas atividades no Google+. Isso é um benefício potencial para os negócios publicitários da Google, que respondem por cerca de 95% de seus mais de $ 40 bilhões em receita anual, excluindo sua nova unidade de fabricação de telefones Motorola.
A Google está “sentada sobre uma montanha de dados”, diz Alan Osetek, presidente da Resolution Media, que ajuda os departamentos de marketing a comprar anúncios no Google. Ele diz que “o volume de cliques”- a quantidade de vezes que os usuários de pesquisa do Google clicam em anúncios, aumentou para os anúncios de seus clientes que incluem informações do Google+, como o número de pessoas que recomendaram uma marca clicando no botão +1 na página da marca no Google+. “Na maioria dos casos, o volume de cliques subiu de 2% para 15%”, diz ele.
As páginas de perfil dos usuários do Google+ normalmente incluem seus nomes reais, e podem adicionar outros detalhes, como suas cidades de origem. Como padrão, a página é pública e aparece nas buscas do Google. É possível, no entanto, alterar a configuração para que a página não apareça nos resultados de busca. Há também uma maneira de as pessoas desativarem ou apagarem as suas contas do Google+.
Amigos dos amigos
Embora a Google não revele o nome do usuário para os anunciantes, ela usa informações sobre as visitas da pessoa à Web e seus interesses para ajudar os anunciantes a direcionar sua publicidade com mais precisão, diz a empresa. Gundotra, do Google+, diz que a empresa não planeja compartilhar dados sobre usuários individuais com anunciantes e que é importante para a Google manter a confiança dos usuários.
A Google incentiva os usuários a compartilhar fotos e opiniões com amigos ou outros usuários do Google+ com quem tenham interesses comuns. Integrar o Google+ com o resto das propriedades da empresa ajuda os usuários a obter mais informações sobre aplicativos, empresas, sites, produtos e – mais importante para os negócios da Google – anúncios sobre esses produtos. Isso porque os usuários do Google+ podem ser notificados se seus amigos no Google+ ou outros contatos recomendaram os itens.
“Você vai procurar um fogareiro de acampamento no Google e descobre que seu amigo acabou de comprar um, aí vai poder perguntar a ele sobre isso”, diz Dylan Casey, ex-gerente de produtos do Google+ que agora trabalha na Path Inc., uma rede social baseada em smartphones. (Colaborou Evelyn M. Rusli)
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[Amir Efrati, do Wall Street Journal]