No meio dos feriados, em Florianópolis, depois de fazer uma ligação, por puro vício acabo abrindo a caixa de entrada de e-mails no celular. Vejo dezenas de e-mails enviados desde a véspera. Muitos são boletins jornalísticos de sites com nomes do tipo TechPulse 360. Coisas de nerd. Sem pensar muito, começo a selecionar aqueles que vou apagar sem ler. E, como sempre, vou deixar na caixa postal outros e-mails, para ler talvez um dia, talvez nunca.
Meu e-mail entrou em colapso. Às vezes perco mensagem importante soterrada numa pilha imensa de bobagens. O que seria solução virou também um problema que me consome muito tempo. Poderia dizer o mesmo do Facebook, que só não abandono de vez porque virou uma imensa agenda de contatos. Hoje a única rede social que me dá prazer é o Instagram, que não requer palavras nem reciprocidade, assiduidade nem respostas. Eu me sinto livre no Instagram. Mas vejo em volta, com meus amigos, como pode ser uma compulsão.
Lembro subitamente que preciso escrever esta coluna. Penso no ano que passou, da temporada na Califórnia, embutida na indústria do Vale do Silício. Penso nos dias angustiantes que precederam o momento em que me dei conta de que estava totalmente viciada em internet. A produtividade em queda, a ansiedade em alta, a mania de pular de aparelho em aparelho, de aplicativo em aplicativo, de rede social em rede social, sem necessidade nenhuma, sem objetivo definido, vagando pelo mundo online como zumbi. Tento ser honesta comigo mesma e me pergunto: superei o vício? Controlei a compulsão? A resposta é não.
Terceirizando a ansiedade
Tomei algumas atitudes sensatas, como me privar de eletrônicos por algumas horas por dia e evitar levar a internet para o quarto de dormir. A internet se infiltrava no quarto disfarçada em despertador do celular ou em livro eletrônico no iPad. Barrei. Quer dizer, procuro barrar. Mas nem sempre barro. Quando estou sozinha é mais difícil. Não tinha nenhuma compulsão antes da internet. Não estou substituindo um vício por outro. Juro.
Olho minha filha de 14 anos e ela está muito mais viciada que eu no seu iPhone. Usa Facebook, Twitter, WhatsApp, Instagram, essas coisas. Os amigos são tudo para ela. Para mim também. Tento alertá-la de que está passando horas demais com o aparelho. Sugiro um livro. Às vezes ela aceita, outras não. Tenho certeza de que ela, como eu, perde um tempo imenso em papo furado nas praças virtuais do planeta.
OK, papo furado faz parte da vida. Por que não faria na internet? Minha preocupação não é o papo furado. Minha preocupação é a angústia, a ansiedade que a internet é capaz de produzir. Eu conheço esse estado bem demais. É como andar de bar em bar, procurando algo que não se vai encontrar. É intoxicante. Faz mal à saúde.
Escrevo o que escrevi e de novo me pergunto se estou sendo honesta. É a internet que produz essa ansiedade em mim ou sou eu que estou terceirizando minha ansiedade? Lembro-me da frase de Homer Simpson: “A culpa é minha e eu coloco ela em quem eu quiser.” Boa, não?
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[Marion Strecker é jornalista, colunista da Folha de S.Paulo]