Thursday, 21 de November de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1315

Facebook apela para dispositivos móveis

Para recuperar seu status de empresa de US$ 100 bilhões, o Facebook está se transformando em um negócio de dispositivos móveis. Essa mudança tem sido desafiadora para um dos sites mais visitados do mundo. Há apenas pouco mais de um ano, a área de dispositivos móveis, como smartphones e tablets, do Facebook mal existia. Menos de duas dúzias de engenheiros trabalhavam em aplicativos móveis, já que a rede social estava empenhada em expandir seu negócio em computadores para 1 bilhão de usuários. Embora o Facebook fosse um aplicativo popular nos iPhones, da Apple, os usuários reclamavam que o software era lento e tinha problemas frequentes.

Tudo isso começou a mudar no fim de 2011, quando o diretor-presidente do Facebook, Mark Zuckerberg, percebeu que havia errado a mão. Os próprios dados do Facebook mostraram que um grande número de usuários – a companhia se negou a revelar quantos – estavam usando os navegadores instalados nos seus celulares para acessar a rede social. Enquanto isso, empresas novatas, como o Instagram, que permite o compartilhamento de fotos, estavam se tornando uma ameaça.

“Se vamos nos tornar uma empresa móvel de grande escala, precisamos fazer algo qualitativamente diferente”, disse Mike Shaver, diretor de engenharia móvel do Facebook. “Precisávamos de uma iniciativa de impacto.” Atualmente, centenas dos quase mil engenheiros do Facebook passam o dia programando para dispositivos móveis, inclusive os engenheiros que passaram a fazer parte da empresa quando o Facebook comprou o Instagram no ano passado.

Menos dependente da Apple e do Google

O Facebook está organizando sessões internas de treinamento nos sistemas operacionais Android, do Google, e iOS, da Apple. E tem bombardeado consumidores e anunciantes com novos produtos móveis, tais como vários formatos de anúncios para dispositivos móveis e um aplicativo de compartilhamento de mensagens e fotos chamado Poke. “O brilho inicial do Facebook estava no desenvolvimento em internet”, disse Cory Ondrejka, vice-presidente de engenharia móvel. Agora, porém, “eu não poderia imaginar um modelo em que o Facebook não funcionasse em celulares”.

Uma mostra do sucesso de Zuckerberg e sua equipe na reformulação do Facebook para o mundo móvel foi dada ontem, quando a empresa divulgou seus resultados no quarto trimestre. Apesar de o lucro ter caído 79% ante o mesmo período do ano anterior, para US$ 64 milhões, a receita foi impulsionada por um aumento de 41% nas vendas de anúncios, para US$ 1,33 bilhão, com dispositivos móveis respondendo por 23%, comparado com 14% no terceiro trimestre.

No trimestre anterior, o Facebook já havia mostrado alguns indicativos de crescimento no mercado móvel, anunciando que havia obtido um faturamento de US$ 153 milhões com anúncios nesse segmento, comparado com zero um ano antes. Esses dados ajudaram a renovar a confiança dos investidores na companhia. Os tropeços do Facebook no segmento móvel remontam a 2006, quando a empresa começou a desenvolver aplicativos móveis. A companhia apostou fortemente no HTML5, linguagem de programação que criou uma experiência básica em smartphones e permitiu que o Facebook ficasse menos dependente dos sistemas operacionais da Apple e do Google. Mas confiar no HTML5 também significou que o Facebook não desenvolveu mais aplicativos completos e mais rápidos para serem usados com os sistemas operacionais Android ou iOS.

“Histórias patrocinadas”

Em outubro de 2011, Ondrejka e outros engenheiros começaram a discutir como reescrever o aplicativo do Facebook para o iPhone em um encontro de engenheiros. Três engenheiros começaram a desenvolver um protótipo. Depois de coletar informações suficientes, Ondrejka reuniu-se com Zuckerberg no escritório de Michael Schroepfer, o vice-presidente de engenharia do Facebook. Ondrejka esboçou em um quadro branco as diferenças de arquitetura entre o aplicativo do iPhone de então e uma outra versão e como eles poderiam montar a equipe para desenvolvê-la. Ondrejka assegurou que ele finalmente tinha os recursos e conhecimentos técnicos necessários para fazer isso.

Não demorou muito e Zuckerberg aprovou o projeto, que ganhou o codinome “Wilde”, em referência ao escritor irlandês Oscar Wilde. Ondrejka e sua equipe entregaram poucos meses depois a Zuckerberg uma versão funcional do novo aplicativo do Facebook para ser testada. Em agosto passado, o Facebook lançou uma versão melhorada do seu aplicativo para o iOS e, quatro meses depois, uma versão para o Android. Embora não pareçam ser diferentes das versões anteriores, os aplicativos rodam substancialmente mais rápido, um avanço importante para incentivar as pessoas a usá-los e oferecer a elas mais anúncios.

Ao mesmo tempo, o Facebook aumentou as ofertas de anúncios em dispositivos móveis. Os primeiros anúncios móveis em março foram “histórias patrocinadas” com um link para a página do anunciante. Para garantir que esse formato de anúncio iria funcionar, o Facebook teve que checar se os publicitários tinham páginas atraentes para serem divulgadas. “Na internet, você pode criar um anúncio mesmo se você não tiver uma página publicada; nos dispositivos móveis, os publicitários têm de pensar em como gerir ativamente suas páginas”, disse Gokul Rajaram, responsável por produtos publicitários no Facebook.

Facebook tem como permanecer nos dispositivos móveis?

A empresa teve de abandonar algumas noções pré-concebidas de como ganhar dinheiro com dispositivos móveis. Antes, o Facebook esperava lucrar com a venda de produtos virtuais em jogos para dispositivos móveis, da mesma forma com que a empresa obteve uma fatia da venda de jogos para computadores de mesa que rodam também na rede social. Em vez disso, o Facebook descobriu que muitos desenvolvedores de jogos para dispositivos móveis estavam oferecendo seus jogos diretamente aos consumidores através de aplicativos individuais e não precisavam mais da rede social para hospedar esses jogos. “Nós pensamos que poderíamos reproduzir” o mesmo modelo de negócios dos jogos online nos jogos para dispositivos móveis, disse Doug Purdy, diretor de gestão de produtos do Facebook, antes de descobrir que os desenvolvedores estavam criando aplicações que se mantinham na rede sozinhas, feitas sob medida para os sistemas operacionais Android e iOS.

Então, em outubro, o Facebook lançou um novo programa para anúncios através do qual os desenvolvedores poderiam pagar a rede social para promover a instalação de seus jogos em dispositivos móveis. O Facebook também começou a contratar mais especialistas em dispositivos móveis. Mas, como os aplicativos móveis do Facebook não tinham sido de ponta e o processo de entrevista foi conturbado, “nós perdemos candidatos”, disse Ondrejka. Internamente, as equipes de engenheiros do Facebook também tiveram de ser retreinadas para terem uma melhor compreensão da tecnologia móvel. Em julho de 2012, Shaver organizou um treinamento na empresa sobre o tema com consultores externos. Até agora, mais de 400 pessoas já passaram pelo programa.

Ainda assim, o progresso do Facebook em dispositivos móveis segue aos trancos e barrancos, como enfatizado recentemente pela companhia com o seu aplicativo Poke. Lançado em dezembro, o Poke permite que as pessoas enviem mensagens e fotos que se autodestroem. O aplicativo concorre com o Snapchat, um programa rival muito conhecido.

No mês passado, o Poke ficou brevemente no topo da lista dos aplicativos mais baixados na loja da Apple. Mas desde então, o programa tem ficado fora da lista dos 400 aplicativos gratuitos mais baixados, de acordo com informações da App Annie, empresa de análise de aplicativos móveis. O Snapchat, enquanto isso, permanece no grupo dos 20 mais baixados. “Seja Snapchat ou Twitter… os consumidores podem se tornar meticulosos”, disse Aaron Kessler, analista da consultoria Raymond James Associates. “Essa é a verdadeira questão: o Facebook tem como permanecer nos dispositivos móveis?”

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[Evelyn M. Rusli, do Wall Street Journal]