Dificuldades de acesso à internet em Cuba não impedem entrada de fenômenos culturais, via celulares, discos e pen drives. Governo fecha os olhos para o mercado negro de conexões, e os que têm acesso à rede esquivam-se do debate político, o que faz com que figuras como Yoani Sánchez sejam populares só fora da ilha.
Alejandro Solís sacou do bolso um celular Motorola, um modelo não muito moderno, mas com capacidade para guardar música. Acionou o ringtone e saíram as primeiras notas de “Gangnam Style”.”Claro que eu conheço. É a música do meu celular”, respondeu.
À sua volta, amigos de 20 e poucos anos como ele passam de mão em mão um copo de plástico com rum. Aproveitam a noite na mureta do Malecón, o calçadão elevado que protege Havana do mar, que quebra forte contra as pedras naquela noite fresca de janeiro.
Solís e os amigos confirmam que, como em quase todas as partes do mundo, o sul-coreano Psy emplacou seu hit –e vídeo– na ilha comunista. Só que, na terra de Fidel Castro, o sucesso não teve nada ver com internet ou YouTube.
Nenhum deles tem endereço de e-mail nem conta no Facebook. Não entram em sites de vídeos –nem valeria a pena, com a internet racionada, cara e lentíssima de que dispõem. Solís não fazia a menor ideia de que o vídeo da música de seu celular é, até agora, o mais visto da história da internet.
“Sério? Sabia que estava famosa, mas, se você não me dissesse [da internet], eu nunca saberia”, diz Solís, branco de olhos verdes, recém-formado professor de educação física, nível técnico.
Morador de um bairro pobre no oeste de Havana, ele recebeu a música como quase tudo que lê ou escuta em Havana: por Bluetooth. A tecnologia de transmissão de dados por ondas curtas de rádio, desprezada no resto do mundo com a popularização do 3G e do 4G, é ainda muitíssimo popular em Cuba.
Sem custo, sem rastro, o Bluetooth permite repassar megabytes de vídeos, livros, música. Faz do celular, mesmo sem linha, um elemento importante na extensa rede off-line estabelecida no país com a menor taxa de penetração de internet nas Américas. Os outros elementos são pen drives, cartões de memória e discos rígidos.
O circuito em construção há anos ganhou mais um impulso com a legalização, em 2010, da venda de CDs piratas. A atividade, de tão popular, foi incluída entre as 178 profissões autônomas permitidas pelo Estado: vendedor de discos compactos.
Proibidões
Há de tudo. Filmes estrangeiros e cubanos fora de circuito, séries americanas, telenovelas brasileiras antigas ou no ar na TV estatal, programas de auditório dos canais de Miami, noticiário ou reggaetons “proibidões” –com letras ainda mais sexualmente explícitas do que o usual no ritmo que mistura reggae, hip-hop, salsa e bachata.
Nessa rede subterrânea há espaço para simples camaradagem –quem tem música ou série nova ou recebeu algo de algum parente de fora faz circular– e para, claro, fazer dinheiro.
Os produtos são desenhados para caber em vários tipos de bolso. Um CD pirata custa quase sempre o equivalente a R$ 2. Se for um programa mais difícil de encontrar, pode sair pelo triplo disso.
O grupo no Malecón conta, animado, que a moda é comprar o “pacote da semana” da TV a cabo, com brindes promocionais. Tudo capturado via “antena” –parabólicas clandestinas que captam as emissoras de Miami. Os pacotes chegam a preços módicos e com atraso de –só– uma semana em relação à data de exibição original.
“É só ligar. Chega um cara na sua casa, de moto, carregando um disco rígido. Aí ele passa para o seu computador a programação completa. Custa 5, 6 CUC [pesos cubanos conversíveis, algo entre R$ 10 e R$ 12]”, conta Solís. Cada canal tem sua própria pasta no disco, numa prova de que em Cuba hoje não só é possível viral sem internet como zapear sem TV a cabo.
Picadinho
“Depois de inventar o picadinho de carne sem carne, os cubanos inventaram a internet sem internet”, resumiu, em sua passagem pelo Brasil na semana passada, a ativista e blogueira cubana Yoani Sánchez, comparando as receitas adaptadas à penúria dos anos 90 –a mais aguda crise econômica de Cuba desde a vitória da guerrilha em 1959– aos inventos cubanos para circular informação à revelia do Estado.
“Tudo se irriga rápido”, diz Jorge Pérez, 21, um dos jovens do Malecón. Ele e outros entrevistados utilizariam muitas vezes ao longo desta reportagem o verbo “irrigar”, o preferido dos cubanos para falar da rede off-line, cuja atividade é complementada pelo envio coletivo de SMS para convocar para festas, por exemplo.
Fã de dance music, Pérez é moreno e usa seus cabelos cuidadosamente arrepiados com gel. Graduado no ensino médio, não está trabalhando e sonha conseguir emigrar. Nem ele nem Solís sabem quem é Yoani Sánchez ou outros blogueiros críticos do governo.
Para eles, o símbolo do protesto ao governo é o duo de hip-hop cubano Los Aldeanos, que não raro canta com Silvito El Libre –ele próprio um sinal dos tempos, filho do cantor ícone da chamada nova trova cubana Silvio Rodríguez.
“Todo tipo de informação se repassa. Com dinheiro, você pode fazer tudo em Cuba. Mas ninguém quer se meter com política”, brinca Solís, enquanto com a mão simula uma navalha no pescoço.
Yordane Carrazana, 26, está de acordo: ninguém está interessado em ter problemas com agentes da segurança nacional. Ele gosta de morar em Cuba, seu negócio vai bem e ele só pretende sair da ilha como turista, como fez há dois anos para ir à Itália.
Sentado no sofá do apartamento onde mora com os pais em San Agustín, um bairro de La Lisa, município pobre da Grande Havana, Carrazana explica onde busca o material que grava nos CDs que repassa aos vendedores de rua.
Como um dos “irrigadores” da internet off-line cubana, ele procura ter novidades toda semana. Compra –dos que, de fato, têm acesso a uma conexão que permite baixar arquivos maiores– pacotes inteiros de dados, com filmes, músicas, séries e novelas da Globo.
“Não estamos nada desatualizados em relação ao resto do mundo. Acho que, até pelo fato de não ter outras distrações como internet ou cabo, o cubano dá muito valor para música, é muito exigente”, diz ele,que exibe correntes no pescoço ao estilo de rappers americanos. “As pessoas de quem eu compro estão na internet o dia inteiro. Reggaeton não dura. Todo mês sai um novo sucesso, e eu preciso ter.”
“Você não tem como conseguir ‘Insensato Corazón’ para nós? Seria ótimo”, propõe. A novela exibida no Brasil em 2011 vai ao ar três vezes por semana na TV estatal cubana, mas existe demanda de clientes para comprá-la completa. “As pessoas querem saber o final de uma vez, às vezes não conseguem ver no horário.”
Carrazana tem internet em casa, discada (não há banda larga em Cuba). A conexão foi adquirida no mercado negro –no qual os preços praticados por hora variam de R$ 1,50 a R$ 4. Nos hotéis, a hora de conexão pode chegar a algo como R$ 14. O salário mensal médio em Cuba equivale a R$ 40.
O acesso, exasperantemente lento, praticamente inviabiliza baixar vídeos e músicas. Daí a importância, para Carrazana, de seus fornecedores –o perfil típico é um funcionário público que, como administrador de uma rede, tem conexão melhor e ganha a vida repassando conteúdo.
Panorama
Os rapazes e moças do Malecón, o “irrigador” e seus fornecedores são uma fotografia do panorama digital em Cuba, no qual se misturam o embargo econômico à ilha imposto pelos EUA, a censura e, agora, uma esperança financiada pela aliança estratégica dos Castro com a Venezuela.
Atualmente, só estrangeiros e algumas categorias profissionais e artísticas têm autorização para adquirir legalmente uma conexão doméstica de internet –origem da maior parte das conexões que alimentam o mercado negro.
Pelos números oficiais, 22% da população tem algum tipo de acesso à rede, a maioria em locais de trabalho e universidades onde o uso é restrito –há páginas que são vetadas, por exemplo. Estima-se que só uma baixíssima porcentagem de fato acesse à rede livremente. Prova de que a cifra oficial é ilusória é que, dentro desses 22%, são contabilizados os usuários dos chamados clubes jovens (Joven Club), mescla de lan house e cybercafé –só que sem internet e, muitas vezes, sem café.
“A gente acessa o que está lá nos computadores, basicamente para fazer os trabalhos”, conta Maylin Suárez, 22, que deixou de ter e-mail quando se graduou em engenharia, recentemente.
Os computadores dos clubes jovens têm um amplo acervo off-line para pesquisas escolares e universitárias. Têm acesso a uma versão local do Wikipédia, a Ecured, e um fórum de estudantes, a RedSocial, que emula a pré-história do Facebook. Tudo fora da rede mundial.
O governo diz que a indigência digital da ilha é culpa de Washington. Afirma que, por causa das restrições impostas pelo embargo norte-americano a Cuba, não há capacidade técnica nem financeira para expandir o uso da rede e que por isso é preciso listar prioridades e privilegiar o uso social, e não individual.
O embargo complica, de fato, as conexões na ilha. Graças às sanções –aplicadas há mais de 50 anos e endurecidas nos anos George W. Bush (2001-2009)– a empresas que negociem com Cuba, o país jamais conseguiu se conectar a cabos de fibra ótica da Flórida ou de vizinhos caribenhos. A conexão é via satélite, meio mais custoso.
No ano passado, o embargo também foi o culpado por impedir o uso em Cuba de várias ferramentas do Google, entre as quais o Analytics, serviço gratuito de análise de páginas na internet. A empresa citou as leis americanas como motivo para a restrição. Foi um sinal de que as medidas de Barack Obama de 2009 que incluíram flexibilizações para empresas ligadas à internet negociarem com Cuba foram inócuas até agora.
Cabo
A esperança de que o serviço melhore no médio prazo vem do país de Hugo Chávez. Em 2007, Caracas anunciou com festa a decisão de construir um cabo de fibra ótica ligando a Venezuela a Cuba, passando pela Jamaica a um custo equivalente a R$ 144 milhões.
Cinco anos e um escândalo de corrupção depois, o cabo finalmente está operante –teve de informar em janeiro a Etecsa, a estatal cubana de telefonia, após uma empresa americana detectar que a fibra já estava em funcionamento.
A nota da Etecsa, publicada na imprensa estatal cubana, no entanto, foi anticlimática: “A operação do cabo não significará que automaticamente se multipliquem as possibilidades de acesso. Será necessário executar investimentos na infraestrutura interna de telecomunicações e aumentar os recursos em divisas destinados a pagar o tráfico de internet”.
Leosdani Izquierdo não se abateu com o tom do comunicado. “Em um ano, dois, eu acho, vai haver internet liberada para cubanos. Primeiro vai ser bem caro, mas depois vai melhorar”, diz ele, falando por telefone, de Havana. “Antes era uma questão de censura, mas acho que agora é menos.”
Formado em cibernética, Izquierdo, 31, é um dos principais empreendedores da internet convencional de Cuba. Há cinco anos, ele fundou com sócios o site de classificados on-line precio cubano.com. É uma versão menor do maior sucesso de compra e venda on-line da ilha e para a ilha, o revolico.com, que só nos últimos 60 dias diz ter ganhado 19 mil novos anúncios de venda de imóveis em Cuba, modalidade liberada pelo governo no ano passado.
Izquierdo hospedou seu site num servidor na Alemanha e o proveu com um esquema de compra de crédito virtual –a ideia é que parentes e amigos de cubanos no exterior com acesso a cartão de crédito possam comprar a moeda eletrônica e transferi-la a moradores da ilha, por exemplo. “A maior parte dos visitantes é de cubanos que moram fora.
Quando estourar a internet em Cuba, meus negócios já vão ser conhecidos”, espera Izquierdo. Ele não revela os valores de seus negócios, mas diz que estão em expansão e que prefere não entrar em detalhes sobre todas as suas start-ups “para não chamar a atenção da concorrência”.
O empreendedor acaba de reformular um site para vendas de móveis de fabricação própria. Nele, pode-se comprar, com cartão de crédito e entrega grátis em Havana, um jogo de sofá de dois e três lugares modelo “brasileiro moderno” –uma designação popular em Cuba– por cerca de R$ 1.300. Como no site de classificados, 80% dos clientes são cubanos que vivem no exterior e querem financiar parentes.
“Pago impostos, na medida do possível”, comenta o empresário. O problema é que as reformas econômicas de Raúl Castro não foram suficientes para o ímpeto empreendedor de Izquierdo. O governo abriu novas licenças para trabalhadores autônomos em categorias específicas –quando os especialistas dizem que deveria ter listado os vetos, e não as autorizações– e licenças para novos restaurantes, cafeterias, cabelereiros e barbearias. Nada foi dito, porém, sobre pequenas empresas para fabricação de móveis.
Outro gargalo de seus negócios é, obviamente, a internet. Apesar de gerenciar um site com mais de 2.000 acessos diários e milhares de anúncios, Izquierdo não tem acesso ilimitado à rede. Diz pagar o equivalente a R$ 120 mensais por 80 horas de uso. Com o racionamento da navegação, ele diz, não sobra muito tempo para política. “Meu interesse é mais por notícias de economia. Não me importo muito com a política.”
Transição
As redes cubanas não estão imunes nem alheias, no entanto, à informação com conteúdo político. E nisso concordam o governo comunista, ativistas como Yoani Sánchez e Washington, todos os quais movem suas fichas. Para todos eles, pode estar na forma como evoluirá a circulação horizontal de informação, inclusive política, um fator-chave para o sucesso ou não da transição posta em marcha por Raúl Castro, planejada para ser lenta, gradual e controlada.
Contam tanto a internet off-line como a on-line. O Twitter e demais redes sociais que contribuíram para fomentar a Primavera Árabe têm, afinal, um ancestral analógico equivalente aos pen drives: as gravações em fitas cassete com que o aiatolá Khomeini insuflou a Revolução Islâmica no Irã, no fim dos anos 1970. E Cuba parece estar, tecnologicamente, a meio caminho entre as duas experiências.
A ilha já tem seus “virais off-line” políticos e de sátira política, embora marginais nos canais dominados pelo entretenimento. Denúncias de corrupção de dirigentes, com fotos e documentos, ou notícias desagradáveis para o governo, como o recente surto de cólera, passam de um dispositivo móvel de memória a outro.
Objetos de culto
Há também os objetos de culto do gênero, como a série de curtas satíricos do cineasta cubano Eduardo del Llano. Em todos, o personagem central é Nicanor O’Donnel, um cubano inusualmente questionador.
Em “Monte Rouge”, de 2004, o primeiro deles, agentes da segurança do Estado chegam à casa de Nicanor e perguntam: “Onde é que vocês mais falam mal do governo, para instalarmos um microfone?”
Em “Brainstorm” (2009), o alvo da sátira é o jornal oficial “Granma”. No episódio, após a queda de um meteorito num estádio em Havana, matando 93 pessoas, os jornalistas do “órgão oficial do Partido Comunista” discutem o que estampar na capa da edição do dia seguinte: as vítimas ou um recorde olímpico batido no mesmo dia?
Um telefonema da direção do PC decide que a manchete não é uma nem outra, mas o bom desempenho dos portos da capital, enquanto Nicanor observa pela janela que alienígenas atacam a ilha.
Entre os vídeos essencialmente políticos, um dos mais célebres e pioneiros materiais do gênero foi o protagonizado por um então importante dirigente estudantil pró-governo, Eliécer Ávila. Em 2008, Ávila, presidente da União de Jovens Comunistas da UCI, a principal universidade de informática em Cuba, questionou um alto dirigente sobre medidas do regime, como o veto a viagens ao exterior sem prévia autorização do governo (que só foi derrubado em janeiro último) ou as restrições para o uso da internet.
O vídeo caiu na rede –e foi visto fora de Cuba–, mas principalmente circulou de mão em mão na ilha.
“O principal mérito dessa reunião [gravada em vídeo] foi ter iniciado uma nova etapa na história do debate político público em Cuba. Falar aquelas palavras e seguir estudando na universidade alargou os limites do debate”, disse Ávila à Folha em Havana em janeiro, dias antes de finalmente viajar ao exterior graças à entrada em vigor da reforma migratória.
Após o vídeo estourar, conta, ele conseguiu se formar, mas logo foi enviado para o interior do país, como parte do trabalho social obrigatório após a graduação. Ávila considerou a transferência uma punição disfarçada e rompeu de vez com o governo.
Tuítes
Nesse ambiente, Yoani Sánchez resolveu que, além de escrever seu blog, ela se tornaria uma ativista digital, oferecendo cursos em Havana para os interessados em tuitar off-line, usando o método que ela emprega: um SMS enviado a um número de telefone no Reino Unido se transforma em tuíte imediatamente. Ela e o marido, o jornalista Reinaldo Escobar, gravam vídeos com temas políticos para difusão on-line e off-line.
O governo cubano e os blogueiros e tuiteiros que o apoiam não cansam de dizer que essas atividades têm financiamento dos EUA –acusação para a qual não há provas.
Yoani Sánchez nega, informando como fonte de recursos seus ganhos como correspondente do jornal espanhol “El País” e os prêmios recebidos pelo blog.
O interesse de Washington em desenvolver programas e destinar verba para promover a “democracia digital” na ilha, no entanto, é real e documentado e ocupa o centro de um embate diplomático com o governo Raúl Castro.
Foi como agente de um desses programas “pró- democracia digital” que o americano Alan Gross foi preso em Cuba em 2009.
Ele foi apanhado distribuindo ilegalmente, de acordo com as leis cubanas, celulares e equipamentos de acesso à internet por satélite (tecnologia de ponta usada pelo Pentágono) à pequena comunidade judaica cubana.
“Alan Gross é a prova viva da ingerência dos Estados Unidos em Cuba, e isso é muito valioso para o governo cubano”, diz o jornalista americano Tracey Eaton, que mantém um projeto de rastreamento da verba pública utilizada por seu país nos programas “pró-democracia” na ilha.
“Creio que quando os historiadores, em 10, 20 anos, começarem a tentar ver qual foi o papel dos Estados Unidos em qualquer evolução ou transição em Cuba, vão querer saber como eram esses programas. Não creio que se deva esperar até 25 anos para saber o que eles fizeram”, segue Eaton.
Três problemas
“Os EUA farão tudo o que puderem para estimular uma primavera em Cuba. Mas creio que, se o governo americano quer mudanças em Cuba, deveria eliminar o bloqueio e inundar ao país com gente, ideias e dinheiro. Muita gente não se interessa por política, internet nem nada disso porque seus problemas diários são três: o café da manhã, o almoço e o jantar. ‘O que vou comer hoje?’ É o que elas pensam. Não pensam nem no governo nem no futuro nem na internet”, diz Eaton.
Para Eliécer Ávila, a limitação tecnológica –que faz todo cubano com acesso a uma internet melhor pensar duas vezes antes de se arriscar a repassar temas sensíveis politicamente–, a falta de “uma alternativa séria e confiável” e o “freio mental” dos cubanos se combinam para deter qualquer movimento político de contestação ao governo: “Motivos sobram. Condições? Não há”.
“As pessoas pensam: por que vou me mobilizar, se aqui não batem nas pessoas normalmente nas ruas, se elas não desaparecem nem são torturadas? Eles entenderam que, se encarcerassem a mente, ninguém tocaria no corpo. Todo mundo tem um freio dentro da cabeça”, diz Ávila, que quer fazer carreira política e fundar um partido na Cuba do futuro.
“Há um desejo passivo. Se houvesse uma alternativa séria, se as pessoas confiassem que não vai lhes ocorrer nada de mau, as pessoas se mobilizariam, sim. Mas, a cada vez que surge uma figura que se coloca politicamente, toda a maquinaria do Estado a bombardeia. Sem oposição nenhuma, sem direito a réplica ou a apelar na Justiça”, conclui.
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[Flávia Marreiro, enviada especial da Folha de S.Paulo a Cuba]