Passei uma semana tentando escrever uma coluna que provasse que o Twitter não valia US$ 10 bilhões. Aí os fatos intervieram. Teimosamente, eles se alinharam na mais inesperada conclusão, a qual soa até como blasfêmia: o Twitter tem potencial para se igualar a algumas das grandes fontes de receita do maior gerador de receita da internet, o Google Inc. A cerimônia do Oscar de domingo deu um exemplo da crua influência do Twitter ao mostrar convidados elegantes, apresentadores e artistas usando a linguagem às vezes obtusa do microblog, pontilhada de hashtags e handles. Foi como se o mundo se curvasse: a toda poderosa televisão reduzida a um mero portal das redes sociais.
Essa ascendência cultural não passou despercebida para o Twitter e seus investidores, que estariam supostamente planejando uma primeira oferta pública de ações em 2013. Nas últimas semanas, essa empresa de sete anos de idade completou transações privadas que levaram seu valor a US$ 9 bilhões. Outros a avaliaram em mais de US$10 bilhões. Isso é notável porque o Twitter entrou para o jogo de ganhar dinheiro há apenas três anos, principalmente com a venda de “tweets patrocinados” para anunciantes cuja publicidade aparece no fluxo de mensagens curtas dos mais de 200 milhões de usuários ativos do serviço.
A firma de dados de publicidade eMarketer Inc. estima que o Twitter terá uma receita de US$ 808 milhões em 2014, mas investidores de capital de risco já estão especulando que a empresa vai chegar a US$ 1 bilhão até lá. De fato, a eMarketer diz que logo revisará suas projeções para cima, embora não revele em quanto. O Twitter não vale US$ 10 bilhões se as referências forem as finanças atuais. Mas isso hoje quase não importa. A principal questão é o quanto o Twitter pode crescer – e lucrar.
O dinheiro dos intermediários
Quando se analisa os números, como eu fiz com a ajuda de uma firma de pesquisa chamada Triton Research, fica difícil não enxergar vestígios do passado do Google. Hoje, com um leque relativamente incipiente de produtos, o Twitter está faturando estimados US$ 4 com cada um dos seus mais de 200 milhões de usuários. Orçamentos de publicidade estão cada vez mais migrando para as redes sociais – uma mudança secular que deve facilmente elevar este valor. Para ser conservador, vamos colocá-lo em US$ 7 por usuário até 2016, abaixo da taxa de crescimento que os analistas projetam para a receita do Facebook.
Dados do centro de pesquisas Pew indicam que será difícil para o Twitter chegar à casa de um bilhão de usuários como o Facebook. Ainda assim, nos últimos nove meses de 2012, o número de usuários do Twitter cresceu em 40%. Basta manter um ritmo anual acima de 33% por três anos para que o número de usuários atinja 500 milhões. Isso vai exigir um grande crescimento fora dos Estados Unidos, onde até 2014 deve estar um em cada cinco usuários do Twitter.
A matemática no exemplo acima aponta para uma receita anual de US$ 3,5 bilhões, próxima à do Google em 2004. E olha que a mágica do valor da mão de obra gratuita ainda não teve efeito. O Twitter não precisa pagar um centavo pelos 400 milhões de tweets postados todos os dias. Assim como no Facebook, os usuários, voluntária e avidamente, trabalham de graça. E, assim como no Facebook e no Google, os anunciantes também estão cada vez mais fazendo seu próprio trabalho, usando ferramentas automáticas para direcionar e comprar anúncios. Recentemente, o Twitter afirmou que iria facilitar o acesso dos anunciantes aos seus sistemas.
As empresas adoram promover a si mesmas como “plataformas”, só que no caso do Twitter isto é de fato verdadeiro. A empresa tem que gastar para manter o fluxo e constantemente melhorar sua interface, mas, uma vez pronto, ela só tem que coletar o dinheiro dos intermediários.
As piores tendências
Isso significa ganhar uma tremenda escala a um custo relativamente pequeno. O Twitter não divulga números, mas gente do setor de capital de risco, incluindo alguns investidores da empresa, dizem que suas margens chegam a 30% ou 40%. Para simplificar, vamos abaixar as margens líquidas do Twitter para o nível das do Google, de cerca de 21%, o que daria ao Twitter um lucro anual de US$ 735 milhões. Multipliquemos agora todo esse lucro pelo índice preço/lucro de 17, do Google, e, heureca, o Twitter tem um valor de US$ 12,5 bilhões.
O que poderia dar errado? A maior preocupação é o crescimento internacional, pois a concorrência estrangeira está fazendo progressos e o Twitter está fora da China. Os anunciantes talvez tenham, também, um limite natural para seus gastos no Twitter. Ao contrário de muitos usuários do Google e outras redes sociais, os do Twitter não navegam no site com a intenção explícita de comprar. E há ainda a fadiga do Twitter, na qual os usuários podem se sentir sufocados com tanta informação. A empresa terá que investir para impedir que isso ocorra.
O erro de avaliação da abertura de capital do Facebook foi um alerta para as piores tendências do Vale do Silício – sua cultura pode forçar uma crença coletiva e inquestionável sobre o valor das coisas. O Vale do Silício tentará de novo com o Twitter. E, apesar dessas tendências, desta vez, provavelmente acertará.
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[Dennis Berman, do Wall Street Journal]