O Google planeja fazer neste mês o lançamento na América Latina de um programa que visa permitir o acesso à internet de 1 bilhão de pessoas, em países emergentes, até 2015. É uma meta ousada. Atualmente, cerca de dois bilhões de pessoas navegam na web em todo o mundo. Desenvolvido há três anos, o projeto foi lançado inicialmente na África, e, posteriormente, ampliado para países do Sudeste Asiático. Neste ano, além da América Latina, será implantado na Índia. Em foco estão 20 países emergentes onde a população com acesso à internet ainda não chegou a 50% do total. No Brasil, essa participação é de 45%.
A expectativa é conectar entre 400 milhões e 450 milhões de pessoas na América Latina. “Só o Brasil tem potencial para atrair 50 milhões de novos internautas”, disse Nelson Mattos, vice-presidente de produtos e engenharia do Google para Europa e mercados emergentes. De acordo com o estudo mais recente do Ibope Media, o Brasil ocupa a terceira posição em volume de usuários ativos na internet, com 52,5 milhões de pessoas. O país perde apenas para os Estados Unidos (198 milhões) e o Japão (60 milhões).
Mattos disse que existem três grandes desafios para ampliar o uso da internet nos países emergentes: redes congestionadas, custo elevado e dificuldades para o consumidor adquirir equipamentos, como notebooks e smartphones, devido aos preços altos.
Para ajudar a mudar o quadro, o Google desenvolveu um conjunto de ações que incluem produtos com acesso à internet de baixo custo, serviços de internet móvel e treinamento de internautas e empresas. “Negociamos com operadoras de telefonia móvel para oferecer planos mais acessíveis”, disse Mattos, sem detalhar as conversas com as operadoras no Brasil.
Aparelhos simples
Outra ação consiste em incentivar desenvolvedores de software a criar serviços e aplicações de internet que possam ser acessadas com celulares menos sofisticados que um smartphone. “O uso de aparelhos mais simples ainda é muito comum nesses países e há uma carência de produtos relevantes para atrair esse grupo de potenciais usuários”, afirmou o executivo.
O Google também planeja promover cursos e sugerir às instituições de ensino superior a inclusão no currículo de temas para estimular a produção de conhecimentos sobre a internet. Na África, a empresa já fez parcerias com 100 universidades.
Na área empresarial, a companhia vai desenvolver ações para estimular a entrada das companhias na internet. Dados do Sebrae, citados pelo executivo, indicam que 85% das pequenas e médias empresas no Brasil ainda estão fora da internet. Em 2012, o Google desenvolveu programas de incentivo a empresas que proporcionaram a inclusão de 1,2 milhão de empresas na internet. No Brasil, foram 200 mil novas companhias incluídas sob um programa desenvolvido com o Sebrae chamado “Conecte seu negócio”.
“A pequena empresa que atua na internet cresce duas vezes mais que uma pequena empresa que não tem site. Existe um efeito positivo não só na companhia em si, mas na geração de empregos e no PIB [Produto Interno Bruto]”, afirmou Mattos.
Um estudo realizado pela Mckinsey Global Institute em países do G8 – Canadá, França, Alemanha, Itália, Japão, Rússia, Reino Unido e Estados Unidos – e do G5 – África do Sul, Brasil, China, Índia e México – revelou que a internet representa 3,4% do PIB nesses países. A conta inclui as receitas geradas com comércio eletrônico, publicidade on-line e vendas de equipamentos de redes e eletroeletrônicos para acesso à internet.
O estudo também indicou que as empresas têm um aumento de 10% em produtividade com o uso da internet. Pequenas e médias empresas que usam a web crescem e exportam duas vezes mais que suas concorrentes, de acordo com a pesquisa.
Como parte das estratégias para estimular a expansão do número de internautas, o Google negocia com fabricantes de celulares, notebooks e tablets o desenvolvimento de equipamentos de baixo custo destinados aos países emergentes. No exterior, disse Mattos, a coreana Samsung e a chinesa Lenovo já são parceiras do projeto no exterior. Nos Estados Unidos, o Google lançou uma linha de notebooks com a Samsung de US$ 250. São aparelhos simples, com um sistema que permite acessar todos os softwares pela internet.
******
Cibelle Bouças, do Valor Econômico