Friday, 27 de December de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1319

Busca especializada desafia o Google

Se você precisar de um café com leite, pegue o seu telefone, abra o aplicativo Yelp e procure um café perto de você. Se quiser comprar uma máquina para café expresso, muito provavelmente procurará no Amazon.com. Caso qualquer dessas hipóteses ocorra, o Google perderá um cliente.

O Google continua sendo o “rei” das busca, com cerca de dois terços do mercado. Mas o que está mudando é a natureza da busca, principalmente porque cresce continuamente o número de pessoas que procuram o que desejam comprar, comer ou aprender em seus aparelhos móveis. Isto coloca o próprio setor de buscas, que movimenta US$ 22 bilhões, em sua mais significativa encruzilhada desde que foi inventado.

Os consumidores não querem mais vasculhar a internet como o índice de um livro – descobrindo links em que aparece uma determinada palavra-chave. Eles querem novos tipos de busca mais diretos, como em sites específicos como Yelp, TripAdvisor ou Amazon, tentando afastar-se do domínio do Google. O Google e seus concorrentes tentam aperfeiçoar o conhecimento e a compreensão para responder a indagações específicas, não apenas para indicar aos usuários a direção certa.

“O que as pessoas querem de nós é: ‘Vocês fazem uma pergunta muito simples e terão uma resposta muito simples’”, disse Oren Etzioni, professor da Universidade de Washington que ajudou a fundar algumas empresas de busca de compras e de passagens aéreas. “Não queremos os dez links azuis naquela tela pequena. Queremos saber onde fica o local mais próximo para comer sushi, fazer uma reserva e ir até lá.”

Especialização

Os usuários ficam perdidos com a quantidade de informações da web – o Google afirma que existem 30 trilhões de endereços na rede, em comparação com 1 trilhão há cinco anos – e esperam que os seus computadores e telefones se tornem mais inteligentes e façam muitas coisas mais para eles. Grande parte dos novos esforços são serviços que as pessoas sequer imaginam como motores de busca.

A Amazon, por exemplo, detém uma parcela superior à do Google em buscas de compras. Em sites como Pinterest e Polyvore, os usuários reúnem seus conteúdos favoritos depois de buscar em toda a web, para obter resultados rápidos para “vestido de renda”, por exemplo. Nos smartphones, as pessoas não procuram no Google, vão diretamente para os aplicativos Kayak ou Weather Underground. Outros aplicativos enviam informações às pessoas sobre trânsito ou voos atrasados.

As pessoas usam o YouTube para buscar coisas como aprender a dar o nó na gravata, o Siri para buscas em seus iPhones, mapas online para encontrar locais e o Facebook para encontrar coisas de que os amigos gostam.

E serviços como LinkedIn Influencers e Quora tentam ser recursos diferentes dos motores de busca – lugares para o usuário encontrar conteúdo especializado de alta qualidade e não ter de procurar em toda a rede. No Quora, perguntas como: “Como era trabalhar com Steve Jobs?” são respondidas por pessoas que o conheceram de perto, algo que o Google não pode fazer.

“Existe muita pressão para que os motores de busca deem resultados mais específicos e mais relevantes”, disse Shar VanBoskirk, analista da Forrester. “Os usuários não precisam de links para as páginas da internet. Precisam de respostas, soluções, informações”. Mas o Google continua sendo o concorrente a ser derrotado, enquanto os sites alternativos de busca se tornam populares.

“Eles são a loja na qual você entra aqui e ali”, disse Danny Sullivan, editor do blog Search Engine Land. Entretanto, a promessa de busca é tão grande que a Microsoft insiste na manutenção do Bing, uma operação deficitária. A Microsoft – que em fevereiro detinha 17% do mercado – disse que considera a busca essencial para os seus outros produtos, do console de game Xbox aos telefones.

E há ainda muito dinheiro a ganhar como o vice-líder de mercado. “Milhões de pessoas por dia dizem exatamente o que querem. Se você é um anunciante, este é um veículo maravilhoso”, disse Sullivan.

A eMarketer calcula que o Google ganhe cerca de 75% das receitas obtidas com os gastos com anúncios de busca. No entanto, segundo algumas indicações, o comportamento de busca das pessoas está mudando, e isso trará consequências para estas companhias.

As buscas nos serviços tradicionais, dominados pelo Google, caíram 3% no segundo semestre do ano passado depois de subirem durante anos, segundo a comScore. Por outro lado, as buscas em sites específicos, conhecidos como motores de busca verticais, subiram 8%.

No primeiro trimestre, os gastos com anúncios de busca caíram 1%, uma redução significativa para o Google, afirma a IgnitionOne, companhia de marketing digital. No ano passado, o Google perdeu uma parcela do mercado de anúncios de busca, informou a eMarketer, caindo de 74% para 72,8%.

Este ano, os gastos com anúncios em motores de busca tradicionais deverão crescer mais lentamente do que os gastos com anúncios online em geral – uma verdadeira reviravolta em relação à realidade do mercado até o ano passado, de acordo com a eMarketer.

O Google está ciente de que a mudança está em curso e não quer ficar para trás. A companhia está introduzindo mais mudanças em suas ofertas de busca e a um ritmo mais acelerado do que tem feito nos últimos anos.

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Buscador quer ser ‘porta’ para conhecimento

O diretor executivo e cofundador do Google, Larry Page, rebatizou a divisão de buscas como divisão de “conhecimento”. A missão do Google, na organização das informações, era muito limitada. Ele quer que as pessoas aprendam com o Google.

A ferramenta agora responde a perguntas em vez de apresentar apenas links quando você busca algo como “March Madness”, “tempo” ou mesmo “meu voo” – neste último caso, pode tirar informações das contas de Gmail dos usuários.

A companhia deu o maior passo no ano passado, quando introduziu o gráfico de conhecimento. Embora em geral a busca combine palavras chave com sites, o gráfico de conhecimento usa busca semântica, que entende o significado e as conexões entre pessoas, lugares e coisas.

Um motor de busca típico, por exemplo, responde a uma busca de “Diana” mostrando páginas da rede em que a palavra aparece, desde os verbetes da Wikipedia sobre a deusa da caça e a Princesa de Gales até uma companhia que vende anéis.

Mas um motor de busca mais bem informado, quase humano, saberia que você está buscando o perfil online de sua colega de quarto Diana, ou que você também está interessado em Kate Middleton. “O que o Google começa a fazer é compartilhar parte do conhecimento do mundo que está na cabeça dos seres humanos”, disse Ben Gomes, pesquisador do Google. Segundo a empresa, são pequenos passos que mostram onde a companhia quer chegar. No futuro, o Google poderá responder a perguntas mais complicadas, como “Qual a distância daqui até a Torre Eiffel?” e “Onde devo assistir a um show no verão do próximo ano?”

Apesar dos avanços dos serviços alternativos, os hábitos online são tão difíceis de quebrar quanto os do mundo real, disse Andrew Lipsman, vice-presidente de análise do setor do comScore. “A maioria das pessoas tem hábitos muito arraigados no que se refere ao Google”, ele disse. “Todos os dias eu recorro a ele para as informações que quero. É um ciclo contínuo.” (C.C.M.)

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Claire Cain Miller, do New York Times