Wednesday, 18 de December de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1318

Cabeça nas nuvens

O que faz uma criatura que, às duas da matina, perde o documento quase pronto em que estava trabalhando? Senta e chora? Vai à cozinha e assalta a geladeira para se consolar? Corta os pulsos? Reinicia o computador e escreve uma coluna contando o que aconteceu e alertando os leitores para o fato de que, em pleno ano de 2013, ainda é possível – muito possível! – perder um documento?

Optei pela última opção – e é sobre isso que vocês vão ler hoje. Eu estava no último parágrafo de uma coluna sobre a compra coletiva de uma máquina de lavar via Facebook quando o Word travou, me ofereceu as opções de desligar ou desligar e saiu do ar. Não me preocupei. Isso acontece de vez em quando com o Word, mas em geral o documento, salvo automaticamente a cada dez minutos, reaparece numa aba de recuperação, à esquerda do monitor. No pior dos casos, perdem-se algumas linhas ou um parágrafo.

Só que, dessa vez, quando reabri o Word, não apareceu aba de recuperação alguma. Fechei o Word, abri de novo – e nada. Nas pastas de documentos não havia sinal do que eu estava escrevendo. Dei uma busca geral por arquivos *.tmp (de temporary) ou *.asd (de auto save document) e só não fui contemplada com telas em branco porque uma versão antiga de uma coluna do ano passado apareceu dando alô e tripudiando da minha aflição. Senti um frio na barriga. Onde estava o arquivo? Hoje em dia arquivos não desaparecem no ar – ou desaparecem?

Isso não me acontecia há muito, muito tempo. Sou paranoica e salvo o que escrevo compulsivamente. Ou, melhor dizendo, eu era paranoica, na época em que os processadores de texto eram incompetentes e não salvavam os arquivos sozinhos. Escrevia um parágrafo e salvava. Levantava para tomar cafezinho, salvava. Atendia o telefone, salvava. Escrevi incontáveis colunas sobre a importância de se salvar o trabalho com regularidade e, por tabela, sobre a importância do backup. Tenho arquivos e pastas duplicados na nuvem e em discos externos. Mas foi preciso cair do galho para ver que, obviamente, baixei os níveis de paranoia em algum momento.

As vantagens

Fui à página de ajuda da Microsoft – que é clara e bem explicada. Há inúmeros procedimentos possíveis para recuperar um arquivo que não foi salvo. O único problema é que todos contam com a hipotética existência de um arquivo temporário. Quando, por algum motivo, este arquivo não existe, tudo resulta inútil.

Considero a paulada que o Word me deu muito didática. Às vezes, precisamos reaprender certas coisas, e reaprendi a ficar esperta. Dei vários saves na página em que esta coluna foi escrita. Mudei o padrão de autorrecuperação do Word para cinco minutos em vez de dez e ativei a opção “Salvar Backup”. Ela só me será útil se eu salvar os documentos, é claro, mas desgraças podem acontecer também com aqueles que já foram salvos, e não quero mais arriscar.

Finalmente, seguindo o conselho que Jorge Vismara me deu quando chorei as mágoas no ombro dos amigos do Facebook, decidi investir um tempinho para estudar o Google Apps e as vantagens de trabalhar nas nuvens – onde, paradoxalmente e em tese, os documentos ficam mais seguros.

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Cora Rónai é colunista do Globo