Wednesday, 18 de December de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1318

Latino-americanos chegaram tarde à questão

Numa região em que o tema da segurança cibernética domina as agendas de todos os países, pouca atenção tem sido dada a outro tipo de crime silencioso que está se tornando rapidamente uma das maiores ameaças para cidadãos, empresas e governos. E na América Latina, com 40% da população online, qualquer pessoa com um computador ou um smartphone é uma vítima em potencial. 

Países como Brasil e Colômbia montaram operações de defesa cibernética em suas Forças Armadas. As unidades policiais estão mais atentas aos crimes da internet. Entretanto, ainda estão muito longe de poder contar com uma capacidade de defesa hemisférica nesse campo, que é tão importante quanto qualquer outro relativo à segurança dos indivíduos na preservação do crescimento econômico e da competitividade.

A América Latina e o Caribe são um rico terreno de caça para as gangues especializadas de criminosos extremamente habilidosos. Esses grupos aprenderam com a indústria do cibercrime da Europa Oriental como atacar os bancos e sabotar o comércio. As instituições financeiras são particularmente vulneráveis, porque qualquer pessoa pode adquirir um kit de cibercrime pela internet por apenas US$ 140, que facilita o roubo de senhas e de dados financeiros.

Entretanto, essas instituições são frequentemente as menos acessíveis quando se trata de informar a ocorrência de ataques cibernéticos.

Por que a região está tão atrasada na prevenção desse tipo de ataque? Por que ainda não foram criados arcabouços legais que permitam processar os responsáveis por esses crimes? O motivo real é que a América Latina e o Caribe passaram a abordar um pouco tarde a questão da segurança.

Ao contrário dos crimes violentos contra pessoas, os crimes cibernéticos são sub-reptícios. No entanto, ninguém – nem governos, setor privado, nem a sociedade civil – pode ignorar as consequências do crime cibernético para a segurança dos cidadãos.

O que pode ser feito para fazer frente a essa nova onda de criminalidade oculta? Em primeiro lugar, será essencial empreender campanhas de educação do público. Considerando que 65% dos usuários da internet têm menos de 35 anos, serão imprescindíveis campanhas de informação para ensinar aos novos usuários como impedir que os computadores se tornem vulneráveis aos ataques.

Essencial é também uma maior difusão do uso de antivírus e de softwares antimalware. Pagar por esse software não é um luxo, mas uma necessidade. Em segundo lugar, cada país deve investir no treinamento de uma nova geração de combatentes em prol da segurança cibernética, capazes de defender o seu país contra as crescentes ameaças às redes nacionais computadorizadas.

Segurança

Um profundo compromisso com a educação tecnológica permitirá aumentar a oferta de trabalhadores treinados. Finalmente, será preciso criar um arcabouço regulador regional para os crimes cibernéticos a ser usado em toda a região. A falta de leis comuns ou de definições dos crimes cibernéticos torna o trabalho das forças de segurança mais complicado, porque polícia e Exército não podem perseguir os criminosos pela inexistência de uma legislação clara para atacá-los judicialmente.

As invasões dos criminosos cibernéticos, como o phishing e o hacking, custam milhões de dólares não revelados aos governos e às empresas. Os crimes cibernéticos, como todas as outras formas de atividades ilícitas, não desaparecerão. Neste exato momento, estamos testemunhando o lado negro da globalização em muitos países.

Se os governos não agirem com rapidez para tratar das questões de segurança cibernética, veremos a América Latina tornar-se uma das plataformas preferidas para o malware, as fraudes eletrônicas e os spams.

A segurança dos cidadãos não diz respeito apenas à prevenção dos crimes violentos, mas deve também incluir a segurança do ciberespaço a fim de garantir que os ganhos econômicos das últimas décadas sejam preservados e não roubados secretamente por meio do toque de uma tecla.

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Johanna Mendelson Forman é pesquisadora residente da American University e Associada Sênior do Center for Strategic and International Studies, em Washington