Ferramenta de chat, rede social, microblog – até hoje há quem não saiba direito a que veio o Twitter, sobretudo no Brasil, onde, significativamente, sua maior concorrência, até outro dia, era o Orkut. Somos expansivos, gostamos de bater papo e de jogar conversa fora, dois conceitos que não combinam com a brevidade imposta pelos 140 caracteres do passarinho azul. “As pessoas ainda fazem confusão -reconhece Guilherme Ribenboim, diretor geral da empresa no país.” O Twitter não é propriamente uma rede social; é, sobretudo, uma rede de informação.
O desafio de Guilherme, que assumiu o posto há seis meses, é ampliar a presença do Twitter no Brasil e botar os pingos nos ii. Para isso, ele tem conversado com formadores de opinião e com os VITs, Very Important Twitters, em geral celebridades com grande número de seguidores. Tem também fechado parcerias com empresas. A mais emblemática, até aqui, foi a presença no Camarote da Brahma, no Carnaval. Ao mesmo tempo, ele é uma espécie de evangelista das hashtags, as etiquetas precedidas de jogo da velha que viraram sinônimo universal do Twitter.
Hashtags são muito úteis para identificar assuntos e são, em princípio, elementos de escrita pragmáticos. Na hora da novela, por exemplo, quem quer entrar no papo geral marca os seus tuites com #amoravida; já quem quer ver o que os outros estão achando, dá uma busca em #amoravida para encontrar todos os comentários.
“A velocidade com que as pessoas aderem é impressionante”
Com o tempo, porém, as hashtags ganharam também uma aura metafísica, que define o sentimento da vida num certo momento. Quem é que ainda não viu um #prontofalei, hoje clássica identificação de desabafo? Ontem mesmo usei um #pyongyangfeelings quando twittei sobre o apagão que me deixou sem luz e, consequentemente, sem internet: afinal, nada mais Coreia do Norte do que falta de luz e de conexão…
Outra missão de Guilherme Ribenboim é difundir o uso do Vine, espécie de cruzamento entre YouTube, Instagram e Twitter que, com um ano, começa a bombar nas paradas. O Vine, comprado pelo Twitter em outubro do ano passado, e lançado em fins de janeiro deste ano, é um aplicativo que faz e compartilha filmetes de seis segundos. Ele tem dois grandes trunfos: os seis segundos, justamente, equivalentes aos 140 caracteres em palavras e perfeitos para quem vê, e a absoluta facilidade de uso. Para gravar, basta tocar na tela; para parar de gravar, é só tirar o dedo. Os filmetes são praticamente fotos em vários tempos: toca, tira, toca, tira… Simples assim.
O desafio é fazer vídeos interessantes. Loops e bichos de estimação têm se provado populares. Há pessoas super criativas que fazem autênticos milagres com tão poucos recursos; o resto da humanidade se contenta em mostrar o que vai comer. E, claro, os gatos. Muitos gatos! O maior entrave à popularização do Vine é que, por enquanto, ele só funciona em iOS, o sistema operacional do iPhone. Nos Estados Unidos, porém, onde o smartphone da Apple domina o mercado, o Vine já tem massa crítica: há fins de semana em que mais de 100 mil vídeos são postados e até Sir Paul McCartney aderiu à brincadeira. “A velocidade com que as pessoas aderem às novas redes é impressionante”, observa Guilherme Ribenboim. “Ashton Kutcher levou três anos para chegar a um milhão de seguidores no Twitter. Os usuários mais seguidos do Vine devem chegar a isso nos próximos três meses, se não antes.”
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Cora Rónai é colunista do Globo