Apesar de as operadoras de telefonia móvel dizerem que está longe o dia em que os brasileiros aposentarão a tradicional mensagem de texto (ou SMS), os serviços de mensagem instantânea vêm ganhando cada vez mais espaço. Basta olhar de relance os dedos velozes no metrô, nas salas de espera dos consultórios médicos ou até no trabalho. A ideia do bate-papo contínuo – permitido por simples aplicativos em smartphones –, definitivamente, pegou.
E não só entre amigos, ou entre pais e filhos. Além das Famílias Silvas, Soares ou Pereiras, muitos grupos com finalidade corporativa têm surgido no WhatsApp, um dos aplicativos mais populares no mundo e no Brasil. As que têm DNA digital, em particular, são as que tiram proveito do aplicativo.
A brasileira Easy Taxi, dona de um aplicativo que serve para pedir táxi, tem 28 grupos no WhatsApp. Há a turma dos diretores, do marketing, do pessoal de desenvolvimento de projetos… “Ele é indispensável para a gestão das minhas equipes, que estão espalhadas por dez países, em 20 cidades diferentes”, diz o presidente da empresa, Tallis Gomes.
O executivo não vê o aplicativo como um substituto do e-mail ou do telefone, mas acredita que não há meio melhor para se comunicar rapidamente no celular. “Eu até vejo quando meu sócio leu ou não a mensagem.” (O WhatsApp tem uma função que informa o horário da última visita ao programa. )
É uma questão de praticidade que tem mudado a dinâmica de algumas companhias. Em vez de mandar os 17 números do cartão de crédito para a secretária por e-mail, ou informá-los numa ligação, por exemplo, o CEO da produtora digital Safari, Daniel Santos, manda a foto do cartão de uma vez. Em outra situação, no lugar de esperar chegar à empresa para passar o briefing de determinado cliente à equipe, ele envia a foto do papel. A produtora tem cinco grupos no WhatsApp: diretores, planejamento estratégico, produção, criação e o batizado de “we” (nós, em inglês), onde os funcionários trocam piadas.
Hoje, 12 bilhões de mensagens são trocadas dentro dos grupos criados no WhatsApp, que tem mais de 200 milhões de usuários no mundo. A companhia que criou o aplicativo sabe de usos em grupo que vão desde atletas italianos que marcam o jogo de basquete pelo programa até policiais que investigam crimes. Mas a capacidade de permitir a formação de grupos em aplicações, no entanto, não é novidade. Vários serviços de e-mail, como os do Yahoo e do Google, oferecem essa possibilidade há anos. A diferença é que o WhatsApp e seus similares foram pensados completamente para smartphone. Outros exemplos de aplicativos que permitem a conversa com várias pessoas ao mesmo tempo são KakaoTalk e Kik Messenger.
A característica comum que contribui para o crescimento desses programas é a gratuidade ou o baixo preço. O WhatsApp cobra US$ 0,99 dos usuários de iPhone pelo download do aplicativo e vai começar a exigir o mesmo valor para assinatura anual de usuários de Android.
Esse fácil acesso faz praticamente certa a hipótese de um dono de smartphone ter esse tipo de aplicativo no aparelho. Para as empresas, é uma barreira a menos a vencer – principalmente para as pequenas e médias, que não têm condições de entregar a cada funcionário um smartphone. É também uma alternativa a ferramentas de comunicação em grupo fornecidas por grandes empresas de tecnologias, que exigem um orçamento mais robusto.
Renata Mendes, dona de uma clínica de aparelhos para surdez baseada em Belo Horizonte, optou pelo WhatsApp para conversar com as fonoaudiólogas que saem para trabalho de campo. Alguma dúvida surgida durante a visita a um médico, por exemplo, é esclarecida na mesma hora. Lá, há dois grupos, sendo um deles apenas com as sete mulheres da empresa, onde os assuntos ultrapassam o trabalho. “Agora mesmo estou recebendo várias mensagens”, disse a executiva, após o expediente, durante conversa por telefone.
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Para Carlos D’Andréa, professor do departamento de comunicação da UFMG e pesquisador de redes sociais, o WhatsApp é o “sintoma claro da era da hipersociabilidade”. Isso porque ele agrega à função de SMS vários recursos de redes sociais ou de mensageiros antes restritos à desktops (como os emoticons e o aviso de que “a pessoa está digitando” do antigo MSN Messenger).
Um dos lados negativos, na avaliação dele, é a disponibilidade integral da pessoa. “É mais uma camada de demanda que você acrescenta ao simples fato de ter celular e já poder ser encontrado a qualquer momento.” Soma-se a isso a necessidade de resposta imediata que esses aplicativos criam. Deixar para responder depois – seja para refletir melhor sobre o que vai digitar ou porque você está ocupado naquele momento – pode passar a impressão de estar ignorando o colega. O horário em que leu a mensagem (recurso também presente no Facebook Messenger) delata.
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Nayara Fraga, do Estado de S. Paulo