A próxima fronteira do processamento de dados é a melhora de seus relacionamentos no trabalho. Jon Porter, o diretor-presidente da empresa de administração de fortunas Three Bell Capital, costumava fazer o acompanhamento de clientes digitando manualmente as informações sobre reuniões e ideias de investimento com o software da Salesforce.com Inc. Recentemente, ele passou a usar um algoritmo para fazer o trabalho.
Um software da empresa novata RelatelQ Inc. agora olha para cada detalhe da vida digital de Porter no trabalho – e-mails recebidos, contatos em redes sociais e telefonemas –, os compara com os dados dos seus colegas e detecta o que e quem é mais importante. Duas semanas atrás, o algoritmo lembrou Porter de resolver um problema de um cliente que não podia esperar. “Se não tivéssemos ficado em cima disso, o nosso cliente teria perdido uma oportunidade” de investimento, disse Porter, que calcula economizar cerca de duas horas por semana com o software.
Cientistas especializados na coleta e processamento de dados estão começando a estudar as relações de trabalho na tentativa de identificar padrões que possam melhorar a maneira como empregados colaboram com seus colegas, gerenciam os relacionamentos de vendas ou como o desempenho deles se compara com o de outros funcionários. É um mercado novo, mas firmas jovens querem desafiar empresas estabelecidas de tecnologias para o setor corporativo como a Salesforce, que também está se aprofundando cada vez mais na coleta e análise de dados.
Atraindo capital de risco
“Nós queremos construir um algoritmo capaz de fazer o que um gerente de relacionamento muito bem treinado, com vinte anos de experiência, poderia fazer”, diz Adam Evans, um dos fundadores da RelatelQ, que conseguiu captar US$ 29 milhões com investidores, entre eles a Accel Partners, Allen & Co., Battery Ventures, além de um dos fundadores da Facebook Inc., Dustin Moskovitz. O investimento dá à empresa novata um valor de mercado de US$ 100 milhões.
A Sociometric Solutions Inc., de Boston, usa sensores para coletar dados sobre os movimentos e o tom das conversas dos funcionários para relatar aos gerentes onde as interações estão esfriando e onde os empregados estão se reunindo. Em San Francisco, o tenXer Inc., um programa para engenheiros de computação, acompanha as modificações de código e as horas gastas em reuniões para ajudar empregados a comparar sua produtividade com a de outros colegas. E a Yesware Inc., também de Boston, ajuda os funcionários a monitorar e-mails, detectando quantas vezes seus e-mails são abertos, que dispositivos estão sendo usados e fornecendo relatórios analíticos sobre o tráfego de e-mail de colegas.
Embora a coleta de dados de funcionários possa ser criticada por defensores da privacidade, as empresas iniciantes do setor estão atraindo capital de risco. “É uma tendência em direção a um local de trabalho mais transparente”, diz Michael Abbott, sócio da Kleiner Perkins Caufield & Byers, que está buscando oportunidades de investimento na área.
“Todo mundo está nos procurando”
A ideia é que o software possa detectar padrões que os seres humanos não podem.
Angus Davis, diretor-presidente do serviço de pagamentos on-line Swipely Inc., usou a Yesware durante a sua última rodada de captação de recursos para determinar quais investidores de risco estavam lendo seus e-mails, quantos links eles estavam abrindo e se eles os encaminhavam a outras pessoas do escritório. “Quando vi que um e-mail foi aberto 30 vezes, eu pensei, ‘Nossa!’, eles estão interessados”, disse Davis.
A RelatelQ, que vem operando discretamente há dois anos, em Palo Alto, na Califórnia, produz um dos mais ambiciosos aplicativos de processamento de dados para o trabalho. O seu software oferece uma plataforma para grupos de trabalho ver o que colegas estão fazendo e monitorar relacionamentos em tempo real. A RelatelQ absorve grandes quantidades de dados – verifica cerca de 10 mil e-mails, entradas em agendas e outros dados por minuto na primeira rodada – mas oferece controles de privacidade para os funcionários, como a opção de ocultar o conteúdo dos e-mails de colegas.
A Salesforce, que tem mais de 100.000 clientes usando seu software de gestão de relacionamento com o cliente, está cada vez mais peneirando dados para fornecer recomendações. Por exemplo, sua ferramenta de comunicação Chatter recomenda pessoas e temas que os usuários devem seguir, com base em seus padrões de atividade. “Todo mundo está nos procurando”, disse Kendall Collins, vice-presidente executivo da Salesforce.
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Evelyn M. Rusli, do Wall Street Journal