Sunday, 22 de December de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1319

Facebook planeja atuar como jornal em meios móveis

O Facebook decidiu que quer se transformar em um jornal para aparelhos móveis.

A rede social vem trabalhando discretamente em um novo serviço, internamente batizado de Reader (ou leitor, em português), que exibe o conteúdo de usuários do Facebook e de editoras em um novo formato visual adaptado para dispositivos como celulares e tablets, dizem pessoas a par do assunto.

O projeto, que vem sendo desenvolvido pela empresa há mais de um ano, foi criado principalmente para exibir conteúdo de notícias. As versões recentes do Reader se assemelham ao aplicativo da Flipboard para smartphones e tablets que reúne, em um mesmo ambiente, matérias de várias fontes e permite que os usuários folheiem os artigos como em uma revista, dizem as pessoas inteiradas do projeto.

Embora não esteja claro quando o Facebook estará pronto para lançar o produto, se é que o fará, o projeto Reader é um sinal de que a empresa está buscando novas formas de manter os usuários conectados mais tempo no site da rede social em dispositivos móveis e, dessa forma, possibilitar que eles vejam mais anúncios.

Um porta-voz do Facebook se recusou a comentar sobre os planos futuros da empresa para aplicativos de notícias.

Tais esforços no campo de aparelhos móveis são fundamentais à medida que o Facebook tenta dar impulso à cotação de sua ação, que permanece 35% abaixo do preço de sua abertura de capital.

O Reader também mostra como o Facebook, que abriga hoje 1,1 bilhão de usuários, está tentando remodelar a sua identidade.

Desafio e tanto

Quando Mark Zuckerberg fundou o Facebook, em 2004, como uma rede social para universitários, ele queria que a rede funcionasse como uma central para usuários interagirem com amigos e colegas. Hoje, o serviço ainda é predominantemente usado pelas pessoas para acompanhar, por meio de mensagens e fotos, a vida de amigos e familiares. Recentemente, o Facebook tem se esforçado bastante para se tornar um destino para todo tipo de interesses, uma central onde usuários possam descobrir novidades e acompanhar acontecimentos e conversas em tempo real.

Este mês, o Facebook lançou “hashtags”, uma característica popular do concorrente Twitter, que permite aos usuários encontrar discussões públicas com base em palavras marcadas pelo sinal “#”.

No início do ano, o Facebook lançou um redesenho do “feed de notícias”, a principal seção de seu portal na web, que agora exibe com mais proeminência o conteúdo de meios de comunicação. Em um evento de lançamento do redesenho, Zuckerberg disse que queria que o Facebook fosse “o melhor jornal personalizado no mundo”.

Aplicativos de leitura como o Flipboard, que agregam notícias de meios de comunicação e muitas vezes são influenciados pelas conexões on-line dos usuários, vêm se tornando cada vez mais populares. No início do ano, o LinkedIn investiu cerca de US$ 90 milhões para comprar o Pulse, outro leitor de notícias móvel. Em uma mensagem no blog da empresa, o Facebook anunciou que fechou o acordo, em parte, para se tornar a “plataforma editorial profissional definitiva”.

“A oportunidade de se tornar o lugar que as pessoas visitam para a leitura de textos informativos longos é grande, principalmente para a publicidade”, disse Josh Elman, um investidor de capital de risco da Greylock Partners, que já trabalhou com produtos para o Facebook e Twitter.

Embora os consumidores estejam gastando cada vez mais tempo com aparelhos móveis, os usuários de aplicativos do Facebook muitas vezes os visitam por sessões breves de poucos minutos, adicionando mensagens ou checando rapidamente o feed de notícias, de acordo com uma das pessoas a par das iniciativas móveis do Facebook. Uma experiência mais imersiva pode abrir novos modelos de anúncios publicitários para o Facebook, que hoje gera cerca de um terço de sua receita por meio dos celulares e tablets.

Mas trazer para si os hábitos de leitura de notícias dos usuários será um desafio para o Facebook, dizem analistas. Tanto o Twitter quanto o LinkedIn têm promovido seus próprios serviços de notícias de forma agressiva, e o próprio Flipboard tem mais de 50 milhões de usuários.

“Há um monte de coisas que as pessoas não faziam no Facebook há vários anos e que fazem agora”, diz Nate Elliot, analista da Forrester. “Mas imagino que será muito difícil” acostumar os consumidores a ver o Facebook como uma central de notícias.

Sem comentários

Zuckerberg acompanha de perto o projeto Reader, disse uma das pessoas a par do assunto, e participou de decisões e revisões de aspectos do projeto em vários momentos.

Embora Zuckerberg tenha adotado “mova-se rápido e quebre tudo” como mantra da empresa, o desenvolvimento do leitor de notícias tem sido relativamente lento e deliberado. A equipe tem focado na criação de uma experiência de produto que funcione tanto em tablets quanto em smartphones, disse a pessoa, e tem explorado maneiras diferentes para destacar o conteúdo das notícias para os usuários, inclusive exibindo mensagens públicas de tópicos que estão sendo acompanhados intensamente no site. A ideia, disse a pessoa, é criar uma experiência que incentive o usuário a mergulhar mais profundamente no conteúdo e passar mais tempo no Facebook.

A equipe tem concentrado os esforços na construção de um sistema operacional móvel da Apple para aproveitar os elementos de design do iPad e do iPhone, segundo as pessoas a par do projeto.

Michael Matas, um designer do Facebook que antes trabalhou para a Apple, é o designer-chefe do projeto, disseram essas pessoas. Matas não respondeu a um pedido de comentário. (Colaborou Shira Ovide)

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Evelyn M. Rusli, do Wall Street Journal