Sunday, 22 de December de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1319

‘Queremos ser o iTunes do consumo de notícia’

Nos últimos meses, o site Feedly se tornou uma das principais alternativas ao Google Reader, que deve ser desativado hoje de acordo com os planos do Google. Por trás do Feedly, porém, existe um projeto mais ambicioso do que abrigar os órfãos do Reader que buscam uma ferramenta para ler notícias e posts de sites e blogs favoritos.

O fundador Edwin Khodabakchian espera que o Feedly se torne um serviço personalizado de notícias que poderá ser fonte de conteúdo para qualquer outra ferramenta que queira incorporar o sistema dele. Seria uma espécie de iTunes para conteúdo informativo, segundo o fundador. Isso significa que desenvolvedores de aplicativos poderão usar o sistema do Feedly para que os usuários vejam as notícias de sites e blogs favoritos em qualquer outra ferramenta, seja no smartphone, na televisão ou no computador. Ao mesmo tempo, segundo Khodabakchian, produtores de conteúdo poderão gerar receita de outras maneiras com a audiência mais disseminada.

O principal desafio, porém, é reter os novos usuários que migraram do Reader para que o site tenha a relevância esperada. No fim de maio, eram 12 milhões de usuários (ante 4 milhões antes do anúncio da aposentadoria do Reader), 3% deles brasileiros. Em entrevista ao Link, Khodabakchian contou seus planos:

Deve ser animador ver o rápido aumento de usuários com o fim do Reader. Como está lidando com toda a atenção?

Edwin Khodabakchian – Sim, os últimos 100 dias foram uma loucura. O produto do Feedly melhorou muito, a comunidade cresceu bastante e o Feedly começou a evoluir do formato de produto para virar uma plataforma.

Quando você começou o Feedly em 2008, o site era bastante focado na organização de notícias. O que mudou desde então?

E.K. – No momento, estamos lidando com três problemas interessantes: primeiro, como permitir que usuários consumam conteúdo e ao mesmo tempo filtrem este oceano de conhecimento e criatividade disponível online; segundo, como ajudar produtores a monetizar conteúdo com mais facilidade – ser o iTunes para conteúdo online, por exemplo; e em terceiro lugar, como ajudar desenvolvedores a integrar conteúdo nos aplicativos.

Por que decidiu lançar uma plataforma para integrar o sistema do Feedly a aplicativos de desenvolvedores terceiros?

E.K. – Os desenvolvedores vão nos ajudar a inovar mais rápido ao criar experiências diversas de consumo de conteúdo e estender o Feedly a mais plataformas. Nosso objetivo é desencadear uma nova classe de aplicativos focada em conteúdo personalizado. Mais de 200 desenvolvedores estão trabalhando com o nosso sistema. Nove já lançaram produtos.

Por que decidiu criar o Feedly?

E.K. – Comecei porque eu consumo muitas notícias sobre empreendedorismo, design e tecnologia e estava procurando por uma forma mais eficiente de filtrar e consumir informação.

Quais são seus planos agora para manter no site os novos usuários que vieram do Reader?

E.K. – Nós adoramos ouvir os consumidores, entender as necessidades e fluxo de trabalho deles e melhorar continuamente a experiência. A comunidade do Google Reader é um ótimo acréscimo à comunidade do Feedly porque eles são leitores impetuosos.

Quais outros desafios o site enfrenta hoje?

E.K. – A nova infraestrutura online que construímos no Feedly para conectar produtores de conteúdo e leitores é um projeto de larga escala. Todos os dias processamos mais de 25 milhões de feeds (links que reúnem conteúdo de sites), o que representa centenas de milhões de novos artigos diariamente. Há novas ferramentas que queremos adotar para entregar o conteúdo certo na hora certa. Os próximos doze meses serão muito interessantes.

Serviços como o Feedly e o Reader parecem ser mais populares entre jornalistas, blogueiros e pessoas que gostam de tecnologia. Isso é verdade para você?

E.K. – Não, não é. Muitos designers, professores, publicitários, pesquisadores, fotógrafos, etc. também usam. O que eles têm em comum é o desejo de controlar como consomem informação para se manter atualizados e procurar inspiração. Ferramentas como o Feedly são simples o suficiente para que mesmo pessoas que não são ligadas à tecnologia se beneficiem. Isso é ainda mais real em smartphones e tablets.

Serviços como o Reader falharam em se adaptar ao formato das redes sociais?

E.K. – Não acho. Muitos dos nossos usuários usam tanto o Feedly quanto o Twitter ou o LinkedIn. Essas redes são ótimas ferramentas de compartilhamento. O Feedly é uma boa ferramenta de consumo de conteúdo. Quando as pessoas encontram algo interessante, elas compartilham nas redes sociais para construir a personalidade digital delas.

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Felipe Serrano, do Estado de S.Paulo