Sunday, 17 de November de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1314

Cresce setor de máquinas para guardar informações

Enquanto segmentos importantes do setor de tecnologia da informação como o de computadores pessoais e o de servidores – as máquinas que fazem o processamento das informações nas redes – enfrentam dificuldades, uma área mantém o ritmo crescente de vendas: o de storage, os equipamentos nos quais ficam armazenados dados de companhias, governos e pessoas comuns.

Esse desempenho superior à média é determinado em grande parte pela adoção da computação em nuvem, pela qual as informações ficam armazenadas em centros de dados, e não no computador do usuário. O acesso é feito via internet. Contratos, relatórios e pedidos estão entre os primeiros tipos de arquivos digitais transferidos para a nuvem, mas eles não são os únicos. Cada vez mais usuários residenciais aderem a serviços online – oferecidos por empresas como Dropbox, Microsoft e Google – para guardar fotos, vídeos e músicas, o que torna a compra de máquinas pelas empresas uma necessidade inadiável.

“[O armazenamento de dados] que costumava incluir apenas informações sobre clientes e planilhas, agora também engloba informação de aparelhos GPS, fotos, vídeos. E muitas empresas estão tentando ganhar dinheiro com a análise de dados”, disse Eric Mann, vice-presidente de vendas para as Américas da NetApp, fabricante americana de equipamentos de armazenagem de dados.

Agora, preços são mais acessíveis

Só no primeiro trimestre, a demanda por mais espaço no mundo chegou a 7,8 exabytes, 26,4% mais que o registrado no mesmo período do ano passado. Para ter uma ideia do que isso significa, o volume seria o equivalente a 23,4 bilhões de discos de DVD vendidos em apenas três meses. Em termos de receita, as vendas foram de US$ 7,7 bilhões, com queda de 3,2% na relação com o ano passado, em razão da demanda mais fraca nos Estados Unidos e na Europa.

No Brasil, o mercado de storage movimenta cerca de US$ 300 milhões e tem crescido a uma média de 15% nos últimos anos. Para efeito de comparação, o mercado de computadores no país apresentou um recuo de 2% em unidades vendidas no ano passado, com uma expectativa de retração de 7% neste ano. “É até injusto pedir ao diretor de tecnologia de uma empresa prever o quanto ele vai precisar em termos de espaço de armazenamento no ano seguinte. Essas projeções são sempre subestimadas”, disse Carlos Cunha, presidente da EMC, outra empresa americana especializada na área.

De acordo com Carlos Díaz, diretor da unidade de storage da Hewlett-Packard (HP) para América Latina e Caribe, a demanda no país tem sido impulsionada principalmente pelas empresas de médio porte. “O mercado para grandes companhias está saturado. As médias estão vendo que não dá mais para viver com os produtos mais simples a que estavam acostumadas, e estão procurando produtos avançados, que agora têm preços mais acessíveis”, disse.

Cópias desnecessárias

Um segmento que tem ganhado relevância para os fabricantes é o de empresas de serviços de centro de dados. No UOL Diveo, a demanda por storage em 2013 tinha uma projeção de crescer entre 25% e 30%. Mas, de acordo com Rodrigo Oliveira, diretor-executivo de operações da companhia, vai passar um pouco disso em função de novos projetos que não estavam previstos na época do planejamento. Segundo o executivo, praticamente todos os clientes do UOL Diveo hoje usam os serviços contratados de forma ininterrupta, o que exige equipamentos de armazenagem de alto desempenho e funcionalidades avançadas.

Uma das principais mudanças ocorridas com o aumento no volume de dados armazenados é que o investimento nesse tipo de tecnologia não está mais direcionado apenas à compra de gigabytes para guardar informações. A oferta desse tipo de equipamento está cada vez mais atrelada à venda de softwares e serviços que potencializam essa capacidade de armazenagem. Segundo Guilherme Soares, executivo da área de storage da IBM, essas ofertas podem representar até 50% do preço pago por um sistema do tipo.

Entre as tecnologias desenvolvidas pelos fabricantes estão sistemas que ajudam a eliminar cópias desnecessárias de arquivos, compressão de dados e softwares que automaticamente organizam os dados dentro dos equipamentos, levando em conta sua relevância ou frequência de uso, disse Henrique Sei, diretor da Dell.

Alvos importantes

Além de facilitar as atividades dos clientes, softwares e serviços ajudam os fabricantes de equipamentos a contornar um paradoxo inerente ao setor. À medida que a demanda por mais espaço de armazenamento cresce, o preço por gigabyte tende a cair – de 5% a 10% ao ano no Brasil, em média –, fazendo com que os novos equipamentos tenham que oferecer mais capacidade que seus antecessores para ter resultados semelhantes em termos de vendas.

Esse desafio constante está levando à criação de tecnologias mais avançadas, que começam a chegar ao mercado, mas a um custo alto para a maioria das empresas. É por isso que os fabricantes estão reforçando a oferta de softwares e serviços, de maneira a preservar os ganhos, enquanto os novos padrões se disseminam e ficam mais acessíveis aos clientes. “A indústria ganha mais valor por tudo que tem em torno dela”, disse André Vilella, diretor para América Latina da japonesa Hitachi Data Systems (HDS), especializada em armazenamento de dados.

Para o executivo, o mercado brasileiro pode ganhar impulso devido a um motivo peculiar: a revelação dos casos de espionagem pelo governo dos EUA. A avaliação é que os desdobramentos do caso podem levar à sanção de leis que exijam que os dados de internautas brasileiros sejam mantidos no país, o que estimularia as vendas.

Independentemente da repercussão do episódio, a avaliação dos fabricantes é que o Brasil e a América Latina são alvos importantes. “Contamos com a região para crescer”, disse Mann, da NetApp.

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Gustavo Brigatto, do Valor Econômico