Wednesday, 18 de December de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1318

Tumblr precisa provar seu modelo de negócio

David Karp não se parece em nada um frequentador de boates da moda e apreciador de champanhe que vai a festas com celebridades. Alto e magro, Karp, que completou 27 anos este mês, parece que ficaria mais à vontade diante de uma tela de computador do que debaixo das luzes estroboscópicas das casas noturnas. Mas, no fim de junho, o diretor-presidente do Tumblr teve um bom motivo para comemorar erguendo uma garrafa de espumante em meio ao burburinho de uma discoteca na cidade francesa de Cannes, um momento registrado em fotos que se espalharam pela internet. Karp acabava de vender sua empresa, o serviço de blogs Tumblr, para o Yahoo por US$ 1,1 bilhão. Sua parte estimada no negócio: US$ 250 milhões.

Apenas algumas semanas antes, revigorado pela sua bolada de milhões de dólares, Karp estava num ambiente mais silencioso. Numa mesa do restaurante Maialino, em Manhattan, Nova York, ele comia morangos enquanto exaltava as virtudes da firma que fundou aos 20 anos e da sua nova parceira empresarial. “Marissa Mayer é incrível”, diz ele, referindo-se com entusiasmo, aparentemente sincero, à diretora-presidente do Yahoo, sua nova chefe. “As últimas duas semanas têm sido incríveis.”

E há mais mudanças por vir. Sua empresa, que hoje abriga mais de 100 milhões de blogs, deve ganhar muito mais visibilidade graças à nova controladora. Apesar dos seus esforços para promover a independência do Tumblr, ficou claro desde o primeiro comunicado conjunto que Mayer pretende se envolver profundamente.

Aprendizado rápido

Com o rascunho do comunicado postado no serviço online do Google para compartilhar documentos, “eu a vi no Google doc editando o comunicado de imprensa, com o advogado [do Yahoo] fazendo comentários adicionais”, junto com os diretores de relações públicas e de marketing do Yahoo, além dele mesmo, diz Karp. A experiência de elaborar o documento em conjunto, diz ele, foi “incrível”.

A segunda frase do comunicado diz: “Segundo o acordo e a nossa promessa de não estragar tudo, o Tumblr será operado de forma independente, como uma divisão separada.” A própria Mayer “escreveu ‘promessa de não estragar tudo’”, diz Karp. “O fato de que ela escreveu, pessoalmente, o comunicado de imprensa e fez essa afirmação diretamente, diante do mundo todo, dos seus acionistas […] foi um gesto incrível da parte dela.”

Será a primeira vez desde a adolescência que Karp ficará subordinado a alguém em tempo integral. Ele foi criado em uma área nobre de Manhattan, filho de pais progressistas que o incentivaram a abandonar os estudos numa prestigiada escola pública para poder se concentrar na sua paixão: os computadores. Nas férias de verão em que completou 15 anos, Karp fez estágio com um empresário de mídia e produtor de TV e seus pais perceberam que ele gostava desse trabalho muito mais do que da escola. Eles então o autorizaram a continuar o estágio, em vez de retomar os estudos. Em poucos anos, ele já tinha aprendido programação o bastante para criar sites para as lojas da vizinhança.

Maneira simples

Quando chegou o momento de conseguir um emprego em tempo integral, Karp se tornou vendedor da Tekserve, empresa de varejo e serviços da Apple. Mas só tinha permissão para vender fios e cabos, não computadores, porque era “apenas um garoto”. Daí passou a chefe de produto na Urbanbaby, comunidade de blogs e fóruns de discussões para pais, trabalhando online no seu quarto, na casa de sua mãe.

Enquanto trabalhava na Urbanbaby, em 2004, ele deixou abruptamente os Estados Unidos, aos 18 anos, quando sua namorada terminou com ele. Comprou uma passagem para Tóquio e não disse a ninguém que estava se mudando, exceto para sua mãe. “Ela ficou meio triste”, diz ele. Karp permaneceu um ano no Japão, voltando aos EUA quando começou a receber notícias sobre o boom das novas empresas de tecnologia. Sua passagem pela Urbanbaby valeu a pena: quando a CNET comprou a empresa, em 2006, ele ganhou, ao que consta, centenas de milhares de dólares.

De volta a Nova York, fundou uma empresa chamada Davidville. Em 2005, teve a ideia de iniciar o Tumblr como um produto da Davidville, depois de ver uma estatística que mostrava que mais blogs estavam sendo registrados a cada ano, mas o número de blogs ativos estava, na verdade, caindo. Karp suspeitou que essa falta de continuidade tinha muito a ver com o aspecto e o estilo relativamente formais dos blogs na época. Os blogueiros se sentiam obrigados a imitar o estilo das publicações já existentes. A ideia do Tumblr era oferecer uma maneira simples para qualquer pessoa iniciar um blog e ali postar textos, fotos e vídeos.

Vida pessoal

No segundo semestre de 2012, o Tumblr atraiu a atenção do Yahoo. Karp diz que sua empresa não estava procurando comprador. Mas quando Mayer visitou seu escritório, no fim do ano passado, e lhe mostrou o que as duas empresas podiam fazer juntas – com o Tumblr trazendo mais conteúdo para o Yahoo e este aumentando o público do Tumblr –, Karp a levou a sério. Ele diz que a pergunta mais difícil que ela fez foi de que modo o Tumblr iria ganhar dinheiro com os usuários de dispositivos móveis, que formam a maior parte da sua base.

Era uma boa pergunta. Com os negócios do Tumblr em smartphones e tablets crescendo três vezes mais rápido do que nos computadores tradicionais, fazer jus a um preço de venda de mais de um bilhão de dólares é uma tarefa bem difícil sem um modelo comprovado de anúncios em aparelhos móveis. Será que o valor da oferta do Yahoo surpreendeu Karp? “Eu não fiquei, assim, chocado quando Marissa entrou e disse [a quantia]. Foi um choque geral no sistema, e eu disse ‘Ah, meu Deus, posso fazer isso agora mesmo? Será que é o caminho certo para nós?’” Karp diz que não está preocupado com as receitas. Ele menciona os quatro produtos de publicidade que o Tumblr lançou no ano passado e também os planos para continuar a atualizar os aplicativos do Tumblr.

Karp diz que sua vida pessoal não mudou muito desde a aquisição. Ele continua morando em Nova York com sua namorada dos últimos quatro anos e não tem planos de se mudar para o Vale do Silício, na Califórnia, sede de algumas das maiores firmas de tecnologia do mundo.

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Alexandra Wolfe, do Wall Street Journal