A nova revolução tecnológica já chegou. Ela não é um telefone, TV, óculos ou carro elétrico sem piloto. Apple e Samsung ainda não se apropriaram do seu mercado, capitalistas ainda não torram fortunas em iniciativas na área. Mas isso deve mudar, já que a nova tecnologia tornará obsoletos boa parte dos processos industriais conhecidos.
Ela é a impressão tridimensional. Aos olhos de hoje não parece grande coisa, na forma de maquininhas rudimentares imprimindo bonequinhos e chaveiros. O processo, lento e impreciso, não empolga mais do que alguns nerds ortodoxos.
No entanto, basta uma pequena comparação histórica para se perceber que o mesmo aconteceu com a microinformática. Seriam as impressoras de hoje equivalentes às velhas matriciais?
Sim e não. A impressão 3D tem tudo para ser um negócio gigantesco. Usando materiais tão diversos quanto plástico, cera, resina, papel, vidro, tecidos ou metais, a tecnologia converte algoritmos em objetos, com a mesma facilidade que hoje se imprime uma página de texto.
O que vem pela frente
O processo é razoavelmente simples. Imagens criadas a partir de programas de ilustração ou digitalizadas em três dimensões são interpretadas por um PC e convertidas em instruções para que a máquina construa objetos camada a camada, em um processo similar ao da impressão linha a linha.
Como na impressão bidimensional, essa tecnologia tende a criar três camadas de serviços. Em casa, máquinas baratas e imprecisas poderão fazer protótipos de todos os tipos. Pequenas empresas produzirão objetos em menor escala com qualidade bem razoável. Em hangares industriais, máquinas de precisão serão capazes de imprimir automóveis ou casas, com personalização e detalhe não imaginados. De posse do algoritmo e das matérias-primas certas, pode-se imprimir praticamente qualquer coisa, de próteses dentárias a armas.
Para facilitar a modelagem, empresas como a AutoDesk, criadora do popular AutoCad, disponibilizou um aplicativo que permite a qualquer pessoa criar um modelo 3D a partir de fotografias tiradas com um smartphone. O conjunto de fotos é enviado pela rede para os servidores da empresa, que deduzem a partir delas o tamanho e formato do objeto a digitalizar. Simples assim.
Se até um conjunto de fotos de smartphone pode gerar modelos para impressão, o que dizer de imagens e impressoras mais detalhadas? Médicos têm usado equipamentos 3D para criar próteses a partir de tomografias. Alguns pesquisadores tentam usar a tecnologia para, a partir de células vivas, “imprimir” músculos e cartilagens. Outros desenvolvem protótipos do que poderão ser impressoras de DNA.
As novas ideias desafiam a imaginação. Uma empresa de engenharia tenta criar uma impressora de pizzas, para que astronautas possam ter uma alimentação variada. Se der certo, a padaria da esquina pode ser capaz de imprimir lanches.
As invenções de alguns pioneiros já dão uma boa ideia das mudanças que podem ocorrer em um futuro próximo. Máquinas como essas podem redefinir completamente o processo industrial, de logística e até a exploração de recursos, transformando lixões, aterros e desmanches em novas minas de ouro.
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Luli Radfahrer é professor-doutor de Comunicação Digital da ECA (Escola de Comunicações e Artes) da USP e colunista da Folha de S.Paulo; mantém o blog www.luli.com.br