Da pequena cidade palestina de Yatta, região de Hebron, o programador desempregado Khalil Shreateh tornou-se o segundo nome mais citado no Google, como ele próprio menciona em sua página no Facebook. Há cinco dias Khalil mostrou ao mundo uma grave falha na rede social fundada pelo americano Mark Zuckerberg. Até a semana passada, qualquer usuário do Facebook poderia se fazer passar por outra pessoa e deixar mensagens a outros usuários, mesmo sem pertencer ao círculo de amizades.
Depois de preencher um formulário no Facebook que prometia uma recompensa de US$ 500 para quem achasse falhas no sistema e em seguida ser ignorado pelo engenheiro de segurança da empresa, Khalil decidiu tomar uma atitude mais ousada: hackear a conta de Zuckerberg e deixar um alerta pessoal ao fundador da rede social. O bug já foi corrigido. Khalil não recebeu o prêmio do Facebook, nem o reconhecimento de Zuckerberg, mas o canadense Marc Maiffret, diretor de segurança da empresa Beyond Trust, busca arrecadar US$ 10 mil pela internet para recompensar o colega palestino.
Muitas pessoas reclamam sobre a lentidão ou a dificuldade de acesso à internet na Cisjordânia. É difícil ser hacker nos territórios ocupados?
Khalil Shreateh – É. É um problema aqui, porque a internet não é muito boa.
Como você se sentiu ao ver a reação de Mark Zuckerberg sobre o seu alerta no Facebook?
K.S. – Ele não agradeceu, ele ficou doido (de raiva).
Algumas pessoas afirmam que Zuckerberg reagiu mal pelo fato de você ser palestino e ele ser judeu americano. Você vê alguma conexão nisto?
K.S. – Não, não… Não acho que haja nenhuma uma conexão com a política. Isso é conversa política e eu sou um programador de computador, não sou um político.
No momento o hacker Marc Maiffret está arrecadando um prêmio de US$ 10 mil para você, para compensá-lo pelo não pagamento dos US$ 500 do Facebook pela sua colaboração. O que você acha desta ideia?
K.S. – Eu agradeço ao Marc Maiffret por essa iniciativa de apoiar o grupo de hackers white hat (hackers com boas intenções). Mas nem todos são hackers – são doutores, programadores ou apenas usuários de internet. E agora estão recolhendo dinheiro para mim! Agradecerei ao Maiffret e a todo mundo por colaborar.
E se os brasileiros quiserem ajudar? Como devem proceder?
K.S. – Na verdade não sei como. Eu ficaria agradecido, tenho muitos seguidores brasileiros na minha conta (do Facebook).
Então, você estava procurando por uma falha no Facebook? Como você descobriu o bug?
K.S. – Eu não estava procurando. Estava programando mbs, aplicações para conectar Facebook com GoogleMaps.
Foi quando você descobriu que havia um problema e tentou alertá-los?
K.S. – Sim. Foi isso.
Você continua usando outras redes sociais como Google+ ou Twitter?
K.S. – Bom, eu estava usando o Google+, mas não estava ativo, não estava provando muitos programas lá.
E como está sua conta no Facebook? Eles a fecharam, não é?
K.S. – Sim, mas eles já reativaram a conta.
Você confia no sistema de segurança do Facebook? Acha que é uma boa ideia continuar a usá-lo mesmo após este bug descoberto por você?
K.S. – Bom, eles estão sempre revisando a segurança, tem sempre um novo arquivo de programação. É difícil achar uma falha no Facebook.
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Viviane Vaz, especial para o Estado de S.Paulo, de Bruxelas